O Aterro da Praia de Iracema, que margeia os nossos famosos verdes mares, cenário principal da festa da virada de ano em Fortaleza, amanheceu tomado por lixo. A equipe da Agência Eco Nordeste foi lá cedinho testemunhar como o local viu o raiar do dia e como começou a coleta de 75 a 90 toneladas de resíduos sólidos que todos os anos fazem do Réveillon de Fortaleza o momento de maior concentração de sujeira da capital cearense. O número preciso deve ser divulgado hoje.
Francisco Geomar de Oliveira, servente de pedreiro e catador, 40; com a mulher, Maria Zilene, empregada doméstica, 35; e a filha, Maria Nayara, 6, chegou, vindo das proximidades da antigo Lixão do Jangurussu, do outro lado da Cidade, ao Aterro da Praia de Iracema ainda no dia 31, levando um grande isopor com 60 latinhas de cerveja e refrigerante para comercializar. Nem vendeu tudo, mas, às 7h, já tinha catado uma quantidade razoável de latinhas descartadas para vender bem ali, no calçadão mesmo, a um depósito, por R$ 3, o quilo.
Mas Francisco não foi o único a levar a família para o Aterro da Praia de Iracema na noite em que fogos colorem os céus, shows animam a festa e o álcool rege a alegria nas areias, que começam limpas e terminam cheias de restos.
Encontramos o casal de catadores Lidiane Rodrigues, 33; e Luciano Barbosa Costa, 42; acompanhado do filho Pedro Davi, 6; arrastando um saco de colchão com latinhas amassadas. Vindo do Conjunto São Pedro, pertinho dali, no Serviluz, Luciano contou que se arrependeu de não ter chegado mais cedo ao local. “Viemos 3h. Chegando 22h / 23h daria para apurar de R$ 300 a R$ 400. Acho que vamos conseguir uns cento e poucos”, disse.
Luciano, como Francisco, disse que comparece a todo o grande evento, inclusive nas festas de São João, para catar latinhas. Mas o da virada do ano é o melhor. Afinal, o alumínio é o material reciclável de maior valor, lembram.
Dono de um depósito localizado na Rua Teresa Cristina, no Centro, Joel Severiano Ferreira, 36, trabalhou das 5h às 9h, e precisou fazer três viagens para recolher todo o material coletado pelos catadores, em uma pick-up com uma carrocinha acoplada, pelo valor de R$ 3,50, informou de sua parte.
Também vimos um caminhão recolhendo garrafas PET, mas a quantidade coletada parecia ser menor, considerando a grande quantidade do material sendo recolhido nas areias pelas pás mecânicas para ser levada diretamente ao Aterro Sanitário Metropolitanos Oeste (Asmoc), localizado em Caucaia.
Latinhas são um caso à parte
Quase todas as latas de alumínio para bebidas vendidas em 2017 retornaram para o ciclo produtivo, alcançando um índice de 97,3% de reciclagem. Das 303,9 mil toneladas de latas de alumínio para bebidas colocadas no mercado em 2017, 295,8 mil toneladas foram recolhidas e recicladas. Desde 2004, o índice se mantém acima dos 90%, colocando o País entre os líderes mundiais da reciclagem dessa embalagem.
Os números foram anunciados no último dia 5 de dezembro pela Associação Brasileira dos Fabricantes de Latas de Alumínio (Abralatas) e pela Associação Brasileira do Alumínio (Abal), durante o lançamento, em Brasília (DF), de Frente Parlamentar visando à criação de estímulos econômicos para a preservação do meio ambiente.
O processo de reciclagem consome apenas 5% da energia que seria utilizada na produção da mesma quantidade de alumínio primário. A Análise de Ciclo de Vida da lata aponta também que a reciclagem reduz em 95% a emissão de gases de efeito estufa.
Outra vantagem ambiental da reciclagem é relacionada ao impacto evitado com a extração da bauxita, mineral que dá origem ao alumínio industrial. Cada quilo de latinha reciclada representa uma economia de cinco quilos de bauxita, que deixa de ser extraída para a produção de alumínio primário.
Na área social, a atividade reflete na geração de emprego e renda para os catadores de materiais recicláveis, além de estimular maior consciência da sociedade sobre a importância da reciclagem e da conservação dos recursos naturais. Somente na etapa da coleta da latinha, R$ 1,2 bilhão foram injetados diretamente na economia brasileira em 2017.
Ano Novo, velhos hábitos
Mas latinhas de alumínio não foram os únicos itens deixados para trás na euforia pela virada de ano no Aterro da Praia de Iracema. Garrafas de bebidas alcoólicas, energéticos, água mineral, refrigerantes, restos de quentinhas, espetinhos, cascas de batatas, muito vidro e plástico amanheceram no local. Às 7h quase já não se avistava latas em meio aos resíduos nas areias e calçadões.
Para muitos que permaneciam na praia, a ordem era pular sete ondinhas no primeiro dia do ano para chamar sorte. Ignorando o lixo ao redor. A presença de resíduos nas areias, aliás, não parecia incomodar quem ainda bebia, conversava ou simplesmente dormia para curar os excessos da festança.
Sobre a sujeira, as opiniões se dividiam. O aposentado Hermenegildo Alves de Almeida, 75, que fazia cooper, nos parou para perguntar por contêineres. “Alguém acha que essas pessoas vão levar os dejetos de ônibus para casa? Todo começo é difícil. Mas, se ninguém começar, não muda nunca. Isso é cartão-postal de uma cidade que recebe milhares de turistas?”, questionou.
O administrador Erbe Sá, 52, membro do movimento Vem Nadar, também nos parou para perguntar se os artistas que se apresentam na festa não poderiam participar de uma campanha de conscientização.
Engenheiro da Secretaria de Conservação e Serviços Públicos (SCSP), Adriano Ricardo foi o representante da Prefeitura de Fortaleza escalado para dar entrevistas. Ele disse que o perímetro possui 90 lixeiras com capacidade para meio metro cúbico (m³), com reforço de seis contêineres de 1,6m³ e mais um de 5m³. “Infelizmente, eles sempre amanhecem com pouco lixo”.
Nossa equipe não chegou a ver os contêineres, mas as lixeiras que vimos estavam transbordando. Segundo as informações do engenheiro, não apenas no Réveillon, a Prefeitura faz campanhas.
A operação de limpeza empregou 320 garis entre 369 profissionais e 35 equipamentos, incluindo pás mecânicas e caminhões coletores e compactadores, que trabalharam das 7h às 15h, finalizando com a lavagem dos calçadões.
Ameaça plástica
O mundo deve se unir para “vencer a poluição por plástico”, disse o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, em mensagem para o Dia Mundial do Meio Ambiente de 2018, em 5 de junho, lembrando que “todos os anos, mais de 8 milhões de toneladas acabam nos oceanos”. Se as tendências atuais continuarem, em 2050 nossos oceanos terão mais plástico do que peixes, disse Guterres.
Para o administrador do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), Achim Steiner, proteger o meio ambiente e deixar um planeta mais próspero para futuras gerações está nas mãos de todos. “Está ficando cada vez pior: 83% da nossa água da torneira contém partículas de plástico. Com 1 milhão de garrafas d’água, feitas de plástico, compradas a cada minuto e até 5 trilhões de sacolas de plástico descartáveis usadas por ano, a poluição por plástico está ameaçando nosso ecossistema, nossa biodiversidade e nossa saúde, em um ritmo e escala nunca vistos”, declarou.
Já a diretora-geral da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), Audrey Azoulay, também pediu o fim da poluição por plástico no Dia Mundial do Meio Ambiente. “Hoje, aproximadamente um terço das embalagens de plástico que nós usamos escapa dos sistemas de coleta e termina por poluir o nosso meio ambiente. Essa poluição afeta em especial os nossos oceanos”, declarou.
Que tal aproveitarmos esse momento de renovação para rever hábitos? Vamos pensar mais sobre o que precisamos consumir e como descartar os nossos resíduos? Se cada um fizer a sua parte, será tudo tão menos difícil e complicado conviver com nosso lindo Planeta.
excelente matéria
Nossa gratidão, Beth! Continue a nos acompanhar!