Por Alice Sales
Colaboradora

O monitoramento realizado pelo Projeto Coral Vivo, nos anos 2021 e 2022, revelou que nesse período não houve branqueamento de corais significativo em nenhum dos 15 pontos monitorados, por causa da fase La Niña, fenômeno atmosférico-oceânico de esfriamento do Pacífico Equatorial. O estudo apontou que menos de 10% dos corais apresentaram branqueamento e, por consequência, não houve mortalidade associada.

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Dentre os pontos monitorados estão Abrolhos e Porto Seguro, na Bahia; Pernambuco, Rio de Janeiro e São Paulo, além de dez outros ambientes recifais da costa brasileira. Esse acompanhamento continuado, que conta com o patrocínio da Petrobras, tem ajudado a compreender como o aquecimento global afeta os ambientes de recifes de corais. O aumento da temperatura da superfície do oceano é a principal causa do branqueamento dessas estruturas que, quando saudáveis, são coloridas, caracterizado pelo rompimento da “parceria” entre os corais e as microalgas que vivem no seu tecido e lhe fornecem energia. 

A pesquisa é essencial por acompanhar a saúde dos ambientes recifais brasileiros, já que permite avaliar o impacto que esses ambientes poderão sofrer, por exemplo, em 2023 e 2024, quando está prevista uma fase de El Niño (aquecimento do Pacífico Equatorial), que deve acarretar severas ondas de calor.

“Quando sob estresse térmico, os corais perdem algas simbiontes que vivem em seus tecidos e lhes fornecem alimento. Sem as algas, os corais ficam pálidos, com o seu esqueleto branco visível, e malnutridos. Por conta disso, o branqueamento produz intensa mortalidade de corais”, explica Miguel Mies, coordenador de pesquisa do Coral Vivo. 

A exemplo disso, entre 1998 e 2017, o branqueamento causou a morte de mais de 50% dos corais do Caribe e da Grande Barreira de Corais.  Na costa brasileira os números são mais baixos. No entanto, em 2019 o País enfrentou o pior evento de branqueamento da história, de acordo com o pesquisador. 

Programa de Monitoramento

Esse cenário de 2019 foi uma das motivações para a criação do maior programa de monitoramento integrado de branqueamento do mundo, uma iniciativa do Projeto Coral Vivo. O programa possui, em Arraial d’Ajuda, no sul da Bahia; e no litoral Sul de Pernambuco pontos focais que desenvolvem ações de monitoramento em importantes recifes costeiros de forma intensiva, com diversas campanhas anuais. A ideia é promover  um olhar mais atento a esses ricos ecossistemas que se mostram cada vez mais vulneráveis às mudanças climáticas

“Isso garante, muitas vezes, informações cruciais para tomada de ações e análise de cenários, não só de pesquisa, mas também no âmbito das políticas públicas, que geralmente carecem de dados ambientais”, ressalta Carlos Henrique Lacerda, coordenador regional de pesquisa do Projeto Coral Vivo.  

Perda de Espécies

O pesquisador Miguel Mies, coordenador de pesquisa do Coral Vivo, avalia que a saúde dos corais do Nordeste era excelente até o episódio de mortalidade intensa. Ele ressalta que praticamente os corais da costa nordestina inteira branquearam, causando a mortalidade intensa de duas espécies:  o coral-de-fogo, que teve uma perda de 90% ; e o coral-vela, espécie endêmica do Brasil que teve a perda mensurada entre 10% a 50%, em diferentes pontos da costa.

De um modo geral, as outras espécies de corais branquearam, mas tiveram uma mortalidade muito baixa. E a recuperação tem sido muito lenta, por isso é preocupante a chegada da próxima onda de calor”, frisa.

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