Pesquisadores negros e indígenas serão apoiados na transição energética no NE

Programa do Instituto Mancala, apoiado pelo Serrapilheira, visa capacitar pesquisadores a desenvolver soluções para suas comunidades

Foto de mulher negra com vestido floral decotado de costas no canto inferior direito. Ela olha para o fundo da imagem desfocado onde há uma casa coberta por painéis solares com vegetação ao redor

O edital “Energia Nordestina: Empoderamento e Sustentabilidade através da Capacitação de Pesquisadores Negros e Indígenas” visa promover uma capacitação que combina rigor científico com responsabilidade social e ambiental | Foto: Freepik (gerada com IA)

Com o objetivo de ajudar na preparação de uma nova geração de pesquisadores negros e indígenas para pensarem em soluções baseadas em ciência e tecnologia que atendam às necessidades de suas comunidades, o Projeto Mukengi (lê-se: muquêngui) abriu inscrições para sua terceira edição, desta vez com foco no tema “economia verde”. A iniciativa do Instituto Mancala, com apoio do Serrapilheira, prevê a seleção de 20 pessoas com mestrado ou doutorado nas áreas de ciências exatas, da vida ou da saúde, em curso ou já concluídos. As inscrições são gratuitas e vão até 20 de setembro.

O edital “Energia Nordestina: Empoderamento e Sustentabilidade através da Capacitação de Pesquisadores Negros e Indígenas” busca promover uma capacitação que combina rigor científico com responsabilidade social e ambiental. Além do critério acadêmico, as vagas são exclusivas para candidatos autodeclarados negros ou indígenas.

“Precisamos de ações em várias frentes para superar a sub-representação de pessoas negras e indígenas nos espaços de pesquisa, e o Mukengi é especial nesse sentido, pois complementa o treinamento desses grupos em pesquisas acadêmicas com uma abordagem crítica”, explica Michel Chagas, gestor de Ciência do Serrapilheira. “O projeto problematiza o contexto de exclusão e integra, em seu programa formativo, técnicas acadêmicas com as perspectivas e valores das comunidades negras e indígenas.”

O tema da edição é especialmente urgente. A transição para uma economia de baixo carbono no Nordeste, região rica em recursos naturais e com potencial para energias renováveis, enfrenta desafios devido à falta de oportunidades para a formação de profissionais especializados que possam liderar essa mudança. Esse desafio é ainda mais acentuado entre as comunidades negras, quilombolas, indígenas e periféricas, que têm dificultados tanto o acesso aos benefícios da energia limpa quanto a participação ativa nas discussões sobre desenvolvimento sustentável.

“Quem melhor para resolver os problemas de sustentabilidade e meio ambiente das comunidade negra e indígenas, que os próprios negros e indígenas? É nisso que o Mukengi acredita: fortalecer o conhecimento em comunidade para o debate que há por vir, que mudará não só o clima, mas as nossas vidas”, afirma o coordenador do projeto, Leonardo Souza.

Para a presidente do Instituto Mancala, Rosani Matoso, “a inclusão de pesquisadores e pesquisadoras negros, negras e indígenas no desenvolvimento de soluções para suas próprias comunidades é essencial para garantir que as transições, como é o caso da economia de baixo carbono, reflitam as realidades, visões e necessidades desses povos”.

Como funciona o Projeto Mukengi

Com o nome Mukengi em referência à palavra “pesquisador” em Kimbundu, uma língua africana de Angola, o projeto tem duas fases. Na primeira, que vai de 1º de outubro a 12 de novembro, em formato remoto, pesquisadores participam de encontros online com especialistas em sustentabilidade, abordando temas como energias renováveis e a intersecção entre questões socioambientais e raciais. Ao todo, serão 12 encontros, com duração de 1h30 cada.

Já a segunda fase será híbrida, com atividades de pesquisa que serão desenvolvidas diretamente nas comunidades negras, quilombolas, indígenas e periféricas. Neste momento, os pesquisadores irão desenvolver um projeto em equipe a partir do conhecimento adquirido na primeira etapa.

Os participantes selecionados receberão uma bolsa mensal de R$ 700 por dois meses. O edital também disponibilizará R$ 10 mil para ser aplicado em uma proposta de pesquisa na área de transição energética, a ser desenvolvida em equipe. O projeto será escolhido pelos curadores do programa de capacitação após os encontros da fase inicial.

Cronograma do Projeto Mukengi 2024

1ª fase – Online
Encontros virtuais entre 01/10/2024 e 12/11/2024, às terças e quintas, das 19h às 20h30, sobre ciência, energias renováveis e inovação social.
2ª fase – Semi-presencial

Evento de abertura em Salvador, BA, no dia 25/01/2025.
Atividades de pesquisa aplicadas e visitas de campo durante dois meses.

Instituto Mancala

Criado em 2020, o Instituto Mancala realiza pesquisa, desenvolvimento e divulgação de uma Ciência e Tecnologia (C&T) que promova a redução das desigualdades sociais e raciais. Com ações pensadas de modo a viabilizar ou potencializar iniciativas de C&T lideradas por pesquisadores negros ou indígenas, a organização promove capacitações, oferecendo suporte na concepção e execução de projetos de pesquisa, desenvolvimento e extensão acadêmica.

Instituto Serrapilheira

Lançado em 2017, o Instituto Serrapilheira é uma instituição privada, sem fins lucrativos, que promove a ciência no Brasil. Foi criado para valorizar o conhecimento científico e aumentar sua visibilidade, ajudando a construir uma sociedade cientificamente informada e que considera as evidências científicas nas tomadas de decisões. O instituto tem três programas: Ciência, Formação em Ecologia Quantitativa e Jornalismo & Mídia. Desde o início de suas atividades, já apoiou financeiramente mais de 300 projetos de ciência e de comunicação da ciência, com mais de R$ 90 milhões investidos.

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