Por Alice Sales
Colaboradora

Segundo informações originadas de um banco de dados norte americano sobre naufrágios no Atlântico Sul durante a Segunda Guerra, o cargueiro em questão foi afundado em 1944

Fortaleza – CE. O mistério da origem de centenas de caixas que aparecem, desde o ano passado, em diversos pontos do litoral nordestino parece ter sido solucionado. Um grupo de pesquisadores do Instituto de Ciências do Mar (Labomar), da Universidade Federal do Ceará (UFC), acredita que as caixas vieram de um navio alemão naufragado, que foi torpedeado por tropas americanas próximo a Recife durante a Segunda Guerra Mundial.

A investigação teve início a partir da observação de uma inscrição que havia em uma das caixas, encontrada em julho deste ano em uma praia de Itarema, no Litoral Oeste do Ceará, indicando que o material do navio cargueiro provinha da Indochina Francesa. Esse território, situado nos atuais Vietnã, Laos e Camboja, era uma colônia da França, mas durante a Segunda Guerra foi dominado pelos japoneses, que, juntamente com alemães e italianos, compunham o bloco conhecido como Eixo.

Com base nos dados encontrados foi possível diagnosticar que “esse produto é antigo, provavelmente de um naufrágio. Através dessa marcação [na caixa], fizemos uma pesquisa histórica e conseguimos identificar um cargueiro, chamado Rio Grande, que tinha uma carga de borracha com as inscrições referentes à Indochina Francesa”, explica o professor Carlos Teixeira, um dos responsáveis pela pesquisa.

Segundo informações originadas de um banco de dados norte americano sobre naufrágios no Atlântico Sul durante a Segunda Guerra, o cargueiro em questão foi afundado em 1944. Os sobreviventes conseguiram sair em pequenos botes, depois desembarcaram em Fortaleza e foram presos na 10ª Região Militar. O navio foi encontrado em 1996, a cerca de 5.700 metros de profundidade.

Uma simulação numérica computadorizada foi feita durante a pesquisa com o objetivo de dar respaldo ao levantamento histórico. Nessa simulação, foram liberadas partículas a partir do lugar onde o navio afundou. O resultado mostra que essas partículas chegam exatamente ao litoral nordestino, reforçando a tese de que a antiga embarcação é a fonte das caixas vistas em várias praias desde o fim do ano passado.

Fatores como direção das correntes marítimas, temperaturas, salinidade e ventos, são dados considerados nessa simulação. Com isso, é possível saber a origem dos materiais e para onde eles estão sendo levados pelas correntes. “É um marco histórico, porque conseguimos identificar a origem dessas caixas em relação ao cargueiro que deve ter se rompido no fundo do mar”, ressalta Teixeira. Um artigo científico sobre o achado está sendo finalizado e em breve será submetido a um periódico internacional.

Segundo professor Luis Ernesto Bezerra, também responsável pelo estudo, casos parecidos já ocorreram em outras partes do mundo. Um dos mais recentes se deu em 2012, quando muitas caixas surgiram em praias de alguns países europeus. Inicialmente, pensou-se que elas provinham do famoso Titanic. Entretanto, os estudos revelaram que a origem era um navio japonês afundado em 1917, na Primeira Guerra Mundial.

As cracas encontradas nas caixas podem ser mais uma pista sobre a origem do material. Cracas são crustáceos que vivem em alto mar e vão se prendendo às superfícies que ficam à deriva. “Isso é um indício de que as caixas vieram de alto mar e não de um local próximo à costa. Pelo tamanho das cracas, é possível saber há mais ou menos quanto tempo elas estão presas nas caixas. Ainda estamos aprofundando esses estudos de crescimento das cracas, mas elas estão lá há pelo menos três ou quatro meses, que é o tempo durante o qual essas caixas devem estar flutuando, pois as cracas só ficam na superfície”, descreve Luís Ernesto. Também está sendo analisado o DNA das cracas, para saber de onde essas espécies são.

De acordo com os pesquisadores, há uma suspeita de que o mesmo navio seja a origem das manchas de óleo que têm chegado a diversas praias do Nordeste, uma vez que elas apresentam rota parecida com a que foi possivelmente percorrida pelas caixas. Porém, estudos de outro tipo são necessários para realizar essa verificação. O professor Rivelino Cavalcante, também participante da pesquisa, está coletando diversas amostras do óleo em praias cearenses. Elas serão enviadas a um laboratório nos Estados Unidos especializado nesse tipo de material, a fim de determinar pontos como característica, idade e origem geográfica.

Com informações da Agência UFC

2 Comentários
  1. Achei uma caixa dessa hoje 23/11/2022 na praia chamada arapuca , vizinho a famosa praia de Tambaba, litoral Sul de João Pessoa – PB

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