A emergência climática é pauta urgente, principalmente em tempos negacionismo e de retrocessos nas áreas ambiental, social e cultural, como se vê hoje no Brasil. Os nossos Povos Originários estão no cerne dessas discussão. “A moda indígena vem me permitindo ampliar nossas vozes. A luta, que antes era com arco e flecha, hoje assume um papel educativo, reflexivo e sobretudo político. A moda veio para minha vida com a necessidade de indigenizar espaços, produzir em ritmo de arte, pensar no futuro. A roupa que você veste não fala, mas diz muito sobre você”, afirma Rodrigo Tremembé, cuja arte chegou a exposição na sede da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), em Paris.

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Justiça climática está relacionada à justiça racial, social e intergeracional. Não há como falar em crise climática sem levar em conta aqueles mais afetados por ela, pois os riscos ambientais não são democraticamente compartilhados. O racismo ambiental tem levado povos tradicionais a terem seu estilo de vida destruído, para promover uma forma predatória de desenvolvimento. O que chamamos de problemas ambientais são, na verdade, reflexo de problemáticas humanas”, completa.

“Ter a minha arte, a arte do Povo Tremembé, na Unesco, em Paris, me faz refletir o quão necessário é potencializar vozes indígenas, muitas vezes invisibilizadas, e desenvolver o papel de liderança climática em um mundo que precisa de soluções urgentes”, afirma.

A arte de Rodrigo Tremembé, do litoral leste do Ceará, está sendo apresentada ao lado de obras de outros artistas de 44 países em exposição na Unesco até meados de julho. A obra é apresentada na forma de cartazes de arte de rua na área ao redor da sede da Unesco. A exposição coincide com a Pré-Cúpula da Educação Transformadora da Organização das Nações Unidas (ONU), que reúne líderes juvenis com os ministros da Educação, líderes mundiais e delegados globais em um esforço para repensar o futuro da educação da humanidade.

A exposição pública é visível e acessível não apenas para os delegados da Pré-Cúpula, mas para quem passar pela sede da Unesco no período. O projeto busca compartilhar visões, sonhos e ideias para transformar a educação a fim de resolver a crise climática por meio desse movimento global de arte para defender a educação climática e a colaboração intergeracional.

“Vestir-se é um ato político, nossas roupas contam uma história. Venho falar sobre minhas inquietações como jovem artista indígena, denunciar as práticas absurdas de desmatamento no Brasil. Faço da moda um espaço de reflexão. Que história suas roupas contam?” afirma Rodrigo Tremembé no texto base para a exposição “Turn it around!”.

Vire o Jogo!

O projeto “Turn It Around!” (Vire o Jogo!) também trás um baralho de flashcards que amplifica as vozes dos jovens – particularmente os do Sul Global – na conversa sobre a Crise Climática.

É um esforço para garantir que aqueles que serão mais afetados pelas dramáticas mudanças climáticas em curso tenham um veículo criativo para fazer suas vozes serem ouvidas. “Parece irônico que o futuro da educação seja decidido sem as pessoas que realmente viverão esses mesmos futuros”, diz Iveta Silova, professora e reitora associada de Global Engagement da Arizona State University e pesquisadora principal do projeto.

O projeto ajuda a mudar as normas de educação, inverte a dinâmica de poder entre adultos e jovens, por meio de flashcards como uma ferramenta para educar os tomadores de decisão sobre questões ambientais.

O baralho de 70 cartas, com ilustrações e palavras de jovens de todo o mundo, explora temas comuns, como capitalismo, coexistência com outras espécies e medos sobre o futuro. Os flashcards, disponíveis em inglês, espanhol e francês, serão enviados aos líderes globais, juntamente com um relatório de política sobre educação sobre mudanças climáticas, escrito por jovens.

“Esperamos que os flashcards criem um momento para os formuladores de políticas fazerem uma pausa e refletirem sobre o futuro em uma perspectiva de longo prazo que envolva mais do que apenas seus interesses políticos de curto prazo”, diz Silova.

Os flashcards, criados principalmente por jovens com menos de 25 anos de 44 países ao redor do mundo, também serão usados para engajamento cívico em comunidades, escolas e locais de trabalho, atuando como ponto de partida para conversas difíceis. Embora a mudança climática seja retratada como uma questão divisória, diz Silova, as pessoas normalmente encontram um terreno comum ao discutir a questão além do domínio da política partidária.

O projeto desfrutou de um alto nível de envolvimento de grupos que vão desde tomadores de decisão até ativistas de base, e Silova diz que o projeto continuará a receber submissões de arte de jovens. Os cartões estão sendo traduzidos para o chinês e a equipe espera compartilhá-los na COP27, em Sharm El-Sheikh, Egito, no outono de 2022.

“É quase como se este projeto tivesse vida própria, mudando e girando em direções novas e inesperadas”, diz Silova. “Nós apenas vamos junto com isso”, completa.

Rodrigo Tremembé

Nascido e residente na aldeia Córrego João Pereira, Itarema, Ceará, Rodrigo Tremembé, 25, é indígena do Povo Tremembé e artista visual com atuação na área da moda indígena. É fundador do Coletivo Juventude Tremembé do Córrego e da marca de vestuários “Tremembé”, que leva o nome de seu povo.

É membro da Revista Inspiração Teen e dos coletivos Juventude Indígena Conectada (JIC) e Tamain – Arte indígena. Um dos autores do livro “Mecunã Kérupi Ané / Imagens de Povos Indígenas do Ceará”, da Revista Inspiração Teen, edição 2021; e colaborador da edição de março de 2022, “Beleza sem Ditaduras”, da Revista Cenarium.

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