O artista visual Nixon Araújo usa apenas papel e cola em suas obras, técnica que nasceu da escassez de recursos

Por Alice Sales
Colaboradora

Fortaleza – CE. Em um universo de cores e picotes de papel, o artista visual Nixon Araújo  celebra a sua arte na exposição Mosaicos de Papel: Experiência do Sagrado, disponível no portal do Cineteatro São Luiz, com apoio da Secretaria de Cultura do Estado do Ceará (Secult). Em um compilado de suas obras, a exposição carrega a história do autor em uma trajetória que teve início nas Comunidades Eclesiais de Base (CEB), na Catequese no José Walter e bairros da periferia de Fortaleza.

“Não tem nada de tinta. Uso papel de folder de propaganda de revista. É só cola e tesoura. Os degradês são feitos sem nenhuma intervenção no papel”, explica o artista, sobre o feitio da sua arte, que apenas com cartazes de revistas convertidos em mosaicos de papel dão cor e vida aos ícones de cenas do Evangelho do Domingo, celebração da partilha e da  luta da comunidade local.

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A exposição está dividida em quatro núcleos temáticos que refletem a experiência do autor com o sagrado e com o humano presentes no mistério da iconografia, na experiência celebrativa e na espiritualidade cristã: Luzes do Natal: Um Menino nos foi dado; “KAIRÓS: tempvs Domini”; “Mater Dei”; e “O Cristo, os Santos e os Arcanjos”.

“A arte e o sagrado se confundem na vida de todos nós e, como mosaicos, vão criando a tessitura do ser humano que somos, e na minha vida não podia ser diferente. Foi desde a adolescência, na vivência da comunidade cristã e depois no engajamento pastoral e social nas Comunidades Eclesiais de Base que a arte foi se revestindo de cores e por meio de pequenos pedacinhos de papel foi construindo o ser humano e o artista que hoje sou”, destaca Araújo.

Segundo ele, a inspiração para suas obras nasceu do acaso e da necessidade nas comunidades da periferia, especialmente na Paróquia da Santíssima Trindade, no José Walter, onde trabalhava. Era preciso fazer cartazes para o Evangelho das celebrações dominicais e, com uma técnica de gabarito de letras, que aprendeu ainda criança, começou a fazê-los, usando revistas velhas e folhas de papel sulfite reaproveitadas.

Das letras recortadas ficavam pequenas aparas de papel e para que o cartaz se tornasse esteticamente mais bonito. Nixon fazia molduras laterais com essas pequenas sobras geométricas, que na sua maioria eram triângulos, a modo de pequenos mosaicos. Como os tamanhos dos pedaços de papel eram irregulares, precisava unir mais de um recorte para dar o colorido ao cartaz.

“Foi aí que comecei a ver que poderia criar texturas, degradês e desenhos coloridos e, desse modo, encontrei a solução para compor os ícones que acompanhariam a frase e o tema da liturgia do domingo, já que não tínhamos dinheiro para comprar tintas. Lembro-me da primeira imagem que fiz: uma Nossa Senhora com um grande manto azul que misturava vários tipos de papel, formando um lindo degradê, que lembrava o céu azul de um dia ensolarado, como o da cidade de Fortaleza”, conta.

E completa:

“Os pedacinhos de papel vão sendo colocados e sobrepostos um a um, formando um grande mosaico que retrata os mistérios da encarnação e o mistério do humano que se recicla e se refaz e que, às vezes, se quebra em pedacinhos e precisa se colar de novo para continuar a caminhada. Diante do convite do Cineteatro São Luiz para expor minhas obras, vejo que a arte e o sagrado seguem se fundindo na vida de todos nós”.

Sobre o artista

Nixon Araújo iniciou sua carreira nas Comunidades Eclesiais de Base do Conjunto José Walter, em Fortaleza | Foto: Chico Gomes

Nixon Araújo é artista visual e produtor cultural. Trabalha com colagem desde quando era agente de pastoral nas Comunidades Eclesiais de Base e na Catequese do Conjunto Habitacional Prefeito José Walter.  Já desenvolveu trabalhos e oficinas de colagens com a técnica Mosaicos de Papel na Secult, Secretaria Municipal de Cultura de Fortaleza (Secultfor), Universidade da Integração da Lusofonia Afro Brasileira (Unilab), Editora Casa do Conto, Associação dos Amigos de Guaramiranga, Bienal Internacional do Livro e Salão de Abril do Ceará.

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