Por Alice Sales
Colaboradora
Santana do Cariri – CE. Neste fim de ano, o casal Severino Roberto e Francisca Edna criou a segunda Reserva Natural do Patrimônio Natural (RPPN) em suas propriedades situadas em Santana do Cariri, no Cariri cearense. A criação da Reserva Azedos objetiva conservar áreas da Caatinga e conta com o apoio técnico do projeto “No Clima da Caatinga”, idealizado pela Associação Caatinga, com o patrocínio da Petrobras. O casal já havia criado uma primeira RPPN, a Reserva Buriti Águas Naturais, com 10 hectares de extensão, com o apoio da segunda fase do projeto “RPPN: Conservação Voluntária Gerando Serviços Ambientais”, patrocinado pela Fundação Grupo Boticário.
A Reserva Azedos, por sua vez, possui 8,9 hectares de extensão e, assim como a primeira a ser criada, abriga belezas naturais da região. Criadas de forma voluntária para contribuir com a preservação do ecossistema local, as duas áreas são vizinhas e estão em um bom estado de conservação das matas com palmeiras de buritis nativas que fazem a beleza do Vale dos Buritis, na região.
“Com a segurança das certificações das RPPN, só pensamos em preservar e conservar mais ainda, com apoio fundamental das entendidas que trabalham para proteger a Natureza”, ressalta o proprietário das terras, Severino Roberto.
De acordo com o casal, várias espécies da fauna silvestres, como rãs, sapos, cobras, como jibóia, caninana e outras, guaxinim, raposas, mocós, preás, cassacos, cotias e mais de 50 espécies de pássaros já foram registradas nas áreas das duas reservas. Além disso, por estarem situadas no entorno da Chapada do Araripe, há várias fontes, que formam as nascentes do Rio Cariús , com água corrente e perene.
“Nossa intenção de criar as RPPNs foi justamente no sentido de proteger e conservar estas áreas como a natureza merece. Como proprietários, nos sentimos com o dever de cuidar desta natureza, com o uso consciente e com controle, por meio de um plano de manejo adequado, deixando a nossa contribuição para o bem viver das futuras gerações”, afirma o proprietário.
Severino Roberto conta que o casal sempre cultivou um sentimento de amor pela natureza, que os proporciona paz, beleza e, acima de tudo, vida. “Criar RPPNs nos traz um sentimento gratificante de deixar algo muito importante para as futuras gerações, para gerar e preservar vidas e proteger a natureza tão atacada nos dias de hoje . Estamos entregando ao mundo um pouco de vida para o futuro do nosso Planeta”, destaca.
De acordo com Samuel Portela, coordenador técnico e de áreas protegidas da Associação Caatinga, a criação das reservas particulares é uma boa forma de ajudar na conservação da natureza. “Esperamos cada vez mais ações de responsabilidade ambiental como a do senhor Severino e da senhor Edna aconteçam”, enfatiza.
Ato voluntário
Caracterizada por ser uma categoria de Unidade de Conservação (UC) de domínio privado, cujo objetivo é conservar a biodiversidade, as RPPNs possibilitam a participação da iniciativa privada no esforço para a conservação dos biomas brasileiros.
De acordo com Samuel Portela, a Associação Caatinga, Organização Não Governamental sem fins lucrativos, há 23 anos lida com ações de conservação do bioma. “Embora todo o território do Estado do Ceará esteja dentro do domínio do bioma Caatinga, essas RPPNs estão distribuídas em diferentes fitofisionomias nas áreas de litoral (3), serras com mata úmida (12) consideradas manchas de Mata Atlântica e sertão (26),” explica.
Portela detalha que as RPPNs são criadas a partir do ato voluntário de um particular, mas que trazem benefícios para toda a sociedade, ao contribuírem para a manutenção dos serviços ecossistêmicos em todos os biomas do Brasil. Das 41 RPPNs existentes no Ceará, a Associação Caatinga ajudou a criar 26 e, no geral, já apoiou 31 delas, seja com criação ou na gestão. Além disso, a organização administra a Reserva Natural Serra das Almas (RNSA), RPPN situada na divisa entre o Ceará e o Piauí, considerada um dos maiores redutos de Caatinga preservada dos dois Estados.
Para a criação das RPPNs é necessário que a área tenha um mínimo de relevância ambiental, não havendo tamanho mínimo ou máximo, mas que apresente por exemplo: vegetação nativa preservada, uma certa variedade de fauna nativa e beleza cênica. Um outro ponto muito importante é que a documentação exigida pelos órgãos competentes esteja em dia. A área tem que estar regularizada e no nome do proprietário, não pode estar envolvida em questões judiciais ou em processo de partilha.
Associação Caatinga
A Associação Caatinga participou da criação e da gestão de 31 RPPNs. O número equivale 75,6% das Unidades de Conservação privadas do Estado. Além disso, a instituição elaborou os estudos que subsidiaram a criação do Parque Estadual do Cânion Cearense do Rio Poti, da Área de Proteção Ambiental (APA) do Boqueirão do Poti, e da UC piauiense Parque Estadual do Cânion do Rio Poti. As unidades de conservação têm, respectivamente, 3.680.55 hectares; 63.332,20 hectares; e 24.772,23 hectares.
‘No Clima da Caatinga’
O projeto “No Clima da Caatinga” é uma iniciativa patrocinada pela Petrobras por meio do Programa Petrobras Socioambiental. O projeto tem como intuito buscar a diminuição dos efeitos potencializadores do aquecimento global por meio da conservação do Semiárido, a partir do desenvolvimento de um modelo integrado de conservação da Caatinga.
Na atual etapa, que terá a duração de três anos, o projeto, que atua no semiárido nordestino desde 2011, vai promover ações que vão desde a restauração florestal até a distribuição de tecnologias sociais de convivência com o semiárido e adaptação às mudanças climáticas.