Por Adriana Pimentel
Colaboradora

Os oceanos absorvem 90% do calor do Planeta, retiram 30% do dióxido de carbono da atmosfera e ainda fornecem a metade de todo o oxigênio que necessitamos, dados que confirmam o papel deles na regulação do clima mundial.

Agressões, como o acúmulo de resíduos, principalmente plásticos, e o grave derrame de petróleo que atinge as praias do Nordeste do Brasil, nos últimos quase dois meses, preocupam todos, principalmente as comunidades que vivem / sobrevivem diretamente do mar e cobram ações governamentais. Na noite desta quarta-feira o ministro do meio ambiente, Ricardo Salles, fez um pronunciamento oficial a respeito em rede nacional.

Ações são exigidas

A falta de informações, transparência, ações e estratégias governamentais para conter o avanço do derrame de petróleo nas praias do Nordeste gera preocupação e revolta na sociedade civil, que resolveu lutar com as armas que tem. Além de centenas de voluntários que se arriscam sem proteção, dezenas de organizações não governamentais e cidadão e cidadãs assinaram a Carta Aberta Sobre a Ocorrência de Óleo no Nordeste Brasileiro, onde dizem:

“Solicitamos que as autoridades brasileiras informem a sociedade sobre o andamento das atividades de contenção e limpeza e que estabeleçam essas ações como prioridade, tomando as medidas cabíveis com agilidade que o caso merece, de forma que esse não se torne mais um crime recorrente contra o meio ambiente brasileiro. Pedimos, especialmente, que seja dada maior transparência ao caso, que já afeta tantas populações locais ao longo do litoral nordestino”.

E prossegue: “Até o presente momento foram contabilizadas 132 praias afetadas pelo óleo em 61 municípios de 9 estados, 14 unidades de conservação Federais e seis Estaduais e uma Municipal. Ainda não temos dados com relação aos danos ocorridos sobre os ambientes recifais, estuarinos, manguezais e bancos de gramíneas. Esse grave crime ambiental traduz a vulnerabilidade da zona costeira brasileira diante de ações humanas que envolvem a exploração desordenada”.

Segundo Carlos Rittl, secretário executivo do Observatório do Clima, a informação correta, a orientação e o uso de materiais adequados para lidar com o óleo nas praias do Nordeste são fundamentais para evitar problemas ainda mais graves além do impacto ambiental, que diz respeito à saúde das pessoas que estão entrando em contato físico com esses componentes químicos que são cancerígenos.

Ele destaca também que esse derrame não um efeito imediato para o Clima no Planeta, mas, o impacto regional é gigantesco e alarmante, e que também é preciso avaliar medidas de suporte e apoio às comunidades pesqueiras e ao setor turístico porque não se sabe a qualidade das água das praias para quem tem pacotes turísticos comprados para a Região. Além disso, não se sabe o grau de contaminação de pescados e frutos do mar. “ficam o alerta e a exigência de ações governamentais eficazes”.

O papel dos oceanos

Hidrocoral Errina sp. nas águas frias da Antártida | Foto: GuttJulian Gutt / Alfred Wegener Institute

Os pesquisadores do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), órgão das Nações Unidas responsável pela avaliação do conhecimento científico relacionado às Mudanças Climáticas, ressaltam, no último relatório divulgado, que é necessário agir urgentemente para priorizar iniciativas oportunas, ambiciosas e coordenadas para lidar com mudanças duradouras nos oceanos e na criosfera (os elementos do sistema terrestre contendo água no estado sólido e inclui o gelo marinho).

O relatório destaca, ainda, que o aquecimento dos oceanos e as mudanças em sua química já causam alterações em espécies de todos os níveis da cadeia alimentar oceânica, e isso afeta os ecossistemas marinhos e as pessoas que dependem deles.

“Quanto mais cedo agirmos, e quanto mais resolvermos nossas ações, maior será nossa capacidade de lidar com mudanças inevitáveis, gerenciar riscos, melhorar nossas vidas e alcançar a sustentabilidade de ecossistemas e pessoas ao redor do mundo, hoje e no futuro”, disse Debra Roberts, co-presidente do Grupo de Trabalho II do IPCC.

Unindo forças com estudos e instituições internacionais, pesquisadores do Instituto de Ciências do Mar (Labomar) da Universidade Federal do Ceará (UFC) têm buscado entender e avaliar as reais consequências dessas mudanças e constata problema na captação de energia pelos ecossistemas.

Ressaltam também que as mudanças em curso têm impacto direto, não apenas nos ecossistemas terrestres, mas também nos ambientes marinhos, importantes para a manutenção do equilíbrio global por meio do ciclo do carbono e da produção de oxigênio.

Em parceria com pesquisadores da França, Espanha, Itália, Portugal e Reino Unido, avaliou-se como as florestas de animais marinhos (MAFs) podem ser afetadas por fatores como aumento de temperatura, acidificação dos oceanos, mudanças nos padrões de chuvas, aumento do nível do mar, poluição marinha, pesca excessiva e introdução de espécies exóticas.

“Diferentemente do continente, onde as plantas formam as florestas, no fundo do mar é comum que os ecossistemas sejam dominados e estruturados por animais como corais, esponjas e moluscos”, explica Sergio Rossi, coordenador da pesquisa e docente da Universidade de Lecce (Itália) – que atualmente desenvolve estudos como professor visitante no Labomar. Todos esses animais são afetados pelas alterações ambientais em curso, de recifes em zonas tropicais a jardins de esponja em águas frias, como na Antártida.

Sem Comentários ainda

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado.

Pular para o conteúdo