Por Alice Sales
Colaboradora

Coral branqueado no Parque Estadual Marinho da Pedra da Risca do Meio. O fenômeno é um indicativo de estresse ambiental causado pelas altas temperaturas do mar | Foto: Marcus David Andrade Braga

Fortaleza – CE. Pesquisas recentes realizadas por pesquisadores do Instituto de Ciências do Mar (Labomar) / Universidade Federal do Ceará (UFC) apontam a ocorrência de branqueamento de corais no Parque Estadual Marinho da Pedra da Risca do Meio. O fenômeno é um indicativo de estresse ambiental causado pelas altas temperaturas do mar. Segundo o estudo, os corais ficaram muitas semanas expostos à temperaturas entre 29 e 30 graus centígrados, e foi constatado um aumento de 0,9 graus em 34 anos. Nos anos de 2010 e 2020 as temperaturas bateram recordes de elevação.

O que é o branqueamento

Corais são animais que vivem em simbiose com as microalgas, ou seja, trata-se da parceria entre dois organismos de diferentes espécies que se ajudam mutuamente, prestando serviços essenciais à sobrevivência de ambos. Quando as temperaturas das águas do mar se elevam mais que o normal, as microalgas ficam impossibilitadas de realizar a fotossíntese e são expulsas pelos corais. Desta forma ocorre o branqueamento, já que, sem a presença das microalgas, passam a ser uma estrutura com o esqueleto à mostra.

“Embora pareça, os corais branqueados não estão mortos, mas esse fenômeno indica que está ocorrendo algum estresse ambiental que levou à essa quebra da parceria entre a microalga e o coral”, ressalta Marcelo Oliveira, professor do Labomar e doutor em Geociências pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Segundo o pesquisador, esses corais afetados podem se recuperar, caso as temperaturas diminuam. Um dos agravantes é que o Ceará está situado muito próximo à linha do Equador, sendo sempre quente e estável, ou seja, trata-se de uma das regiões do Brasil mais impactadas pelas alterações climáticas. Além disso, o oceano absorve a maior parte do calor excessivo devido à elevação do efeito estufa, por isso ele é o primeiro a ser mais afetado pela crise do clima.

O fenômeno de branqueamento de corais pode ocorrer também devido à poluição dos mares, mas esse não é o caso do Parque Estadual Marinho da Pedra da Risca do Meio. De acordo com Marcelo Oliveira, a Unidade de Conservação (UC) fica a 18 km da costa de Fortaleza, onde não chega poluição dos esgotos e esse se trata de um caso típico do aquecimento da água.

“Recentemente descobriram que os microplásticos também podem causar o branqueamento de corais, mas a principal causa no mundo todo é o aquecimento global. Observamos que, mesmo em locais onde não há poluição, há o branqueamento, porque as temperaturas estão aumentando nos mares de todo o mundo. Se essas temperaturas permanecerem quentes por muito tempo, esses corais branqueados sofrerão um processo de desnutrição e podem acabar morrendo”, explica o pesquisador.

O branqueamento existiu nos séculos passados, mas era um fenômeno raro. Esse indicador de estresse nos ecossistemas marinhos está ficando cada vez mais comum. Segundo as pesquisas, as primeiras regiões que sofreram esse fenômeno foram o Caribe e a Austrália. No Brasil nunca havia ocorrido mortalidade em massa após os eventos de branqueamento, mas em 2019 foi percebida a mortalidade do coral-de-fogo, na Bahia. Em 2020 o mesmo ocorreu com o mesmo coral-de-fogo, mas na costa de Pernambuco, quando foi exposto à temperaturas de águas mais quentes desde o ano de 1985.

Por que preservar os corais

Os corais atuam nos ambientes marinhos como se fossem as árvores nos ambientes terrestres. Trata-se de uma estrutura que abriga uma rica biodiversidade, que quando afetada, pode haver perda de diversas vidas marinhas. Os recifes de corais podem servir de berçário para peixes, protegem a costa de eventos de ondas intensas e tempestades, além de prestar o serviço de captura de carbono.

“É uma área que movimenta o turismo, o mercado imobiliário e diversos setores econômicos. Os danos da perda de corais são sociais, econômicos e ecológicos. Já foi calculado que cada hectare de recife de corais vale 182 mil dólares por ano pela quantidade de serviços que ele oferta à sociedade. Se perdemos esses serviços, temos que colocar dinheiro em cima. Esse é o grande problema da destruição do capital natural. 500 milhões de pessoas do Planeta dependem dos recifes de corais. As pessoas mais pobres e vulneráveis, como pescadores artesanais, é que sofrerão mais com as perdas desses ambientes”, ressalta Oliveira.

Como medidas para evitar esse fenômeno tão prejudicial à vida marinha, o pesquisador destaca a importância da criação de Unidades de Conservação, que possibilitam o controle de fatores como a pesca, as atividades turísticas e a poluição orgânica do saneamento básico. Mas, como principais iniciativas para evitar o branqueamento dos corais, ele aponta a redução de emissão do carbono de carros e indústrias, redução de queimadas e adoção de energias alternativas, ou seja, as ações humanas que mais contribuem para a Crise Climática.

“Precisamos evoluir para uma energia de baixo carbono o mais rápido possível, caso contrário ficará cada vez mais difícil conservar os recifes de corais. Ainda dá tempo de conservar os ambientes recifais para as próximas gerações que virão. Ao passo que vamos, uma criança que nasce hoje, quando tiver 80 anos provavelmente não verá mais tantos recifes de corais como atualmente. A nossa geração tem essa responsabilidade”.

Parque Estadual

O Parque Estadual Marinho da Pedra da Risca do Meio foi criado no ano de 1997, com o propósito de preservar a flora e a fauna devido à degradação ambiental que vinha ocorrendo. A área do parque é de 3.320 hectares, e está localizada no litoral do município de Fortaleza. A Unidade de Conservação fica distante do Porto do Mucuripe cerca de 10 milhas náuticas e abriga uma abundante diversidade de espécies.

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