Estado do Ceará ganha duas novas Unidades de Conservação

As novas Unidades de Conservação ficam nos Sertões de Crateús e reúnem flora e fauna ainda preservadas | Fotos: Fábio Nunes / Samuel Portela

Crateús / Ipaporanga / Poranga – CE. O Estado do Ceará ganhou duas novas Unidades de Conservação (UC). Trata-se do Parque Estadual do Cânion Cearense do Rio Poti e da Área de Proteção Ambiental (APA) do Boqueirão do Poti. Os decretos de criação foram assinados na manhã desta segunda-feira (28), pelo governador Camilo Santana.

O Parque Estadual do Cânion Cearense do Rio Poti possui 3.680,55 hectares de extensão e está localizado entre os municípios de Crateús e Poranga. Já a APA do Boqueirão do Poti tem 63.332,20 hectares e está situada nas cidades de Crateús, Poranga e Ipaporanga. O estudo técnico que norteou a escolha do local e das categorias das UCs foi coordenado pela Associação Caatinga, organização não governamental do Ceará.

“Esta é uma ação importante para a proteção da Caatinga, das belezas cênicas e do patrimônio arqueológico da região”, afirma Samuel Portela, biólogo e coordenador técnico da instituição que ficou à frente do trabalho. “A criação das duas novas UCs consolida Crateús, ainda mais, como o município do Ceará com a maior quantidade de Unidades de Conservação, oito no total, sendo sete criadas com o apoio técnico da Associação Caatinga”, completa.

O estudo

O estudo que resultou na criação das duas áreas faz parte do projeto “Apoio à Implementação do Plano de Manejo da Reserva Natural Serra das Almas”, iniciativa realizada em parceria entre a Associação Caatinga e a Secretaria do Meio Ambiente do Ceará (Sema).

Os recursos financeiros para a realização do estudo são oriundos da compensação ambiental relativa à construção da Barragem do Lago de Fronteiras, obra que está em andamento no leito do Rio Poti.

Preservação dos fragmentos de flora

O Parque Estadual do Cânion Cearense do Rio Poti foi criado dentro da APA do Boqueirão do Poti. O objetivo da proximidade entre as Unidades de Conservação é garantir a preservação dos fragmentos de flora do território, bem como possibilitar o fluxo de espécies da fauna local e preservar as nascentes que abastecem as comunidades da região.

Além disso, a APA do Boqueirão do Poti passa a ser a maior UC estadual do Ceará. No momento, a segunda maior unidade estadual é a APA da Serra de Baturité, com 32.690 hectares, quase metade do território da atual campeã.

Reparo histórico

“A criação dessas UCs representa uma das mais importantes ações da gestão ambiental deste atual governo. Trata-se de um reparo histórico para uma área riquíssima em termos de biodiversidade e patrimônio arqueológico que estavam, até então, em estado de abandono. É um pacote completo de recursos naturais relevantes, rica geodiversidade, biodiversidade, presença de gravuras rupestres, de vestígios fósseis e belezas cênicas”, afirma o biólogo Fábio Nunes, gerente de Programa da Associação de Pesquisa e Preservação de Ecossistemas Aquáticos (Aquasis), que ficou responsável parte de fauna dos estudos que subsidiaram a criação das duas UCs.

“Em termos de fauna, temos a presença de espécies ameaçadas de extinção, registros únicos para o Estado, e até espécies ainda em descrição, ou seja, recém-descobertas pela ciência. As UCs apresentam quase metade da quantidade dos répteis de toda a Caatinga e quase dois terços de todos os anfíbios desse bioma”, descreve.

Ainda segundo Fábio Nunes, das 440 espécies de aves registradas no Ceará, incluindo aves marinhas, da zona costeira, enclaves úmidos e Caatinga, mais da metade (232) ocorrem na área de estudo, representadas principalmente por aves da Caatinga. Dessas, três espécies são consideradas ameaçadas de extinção: o vira-folha-cearense, o jacú-verdadeiro e o arapaçu-do-nordeste. Foram listadas, também, 42 espécies de peixes na área do novo Parque Estadual, sendo três delas espécies novas, ainda em processo de descrição

O biólogo acrescenta que a área apresenta quase metade de todos os mamíferos listados para o Ceará; dentre estes, os ameaçados de extinção guariba-da-caatinga, o mocó, a onça-parda, o gato-mourisco e o gato-do-mato. “Para a efetiva proteção dessa riqueza cultural e ambiental é preciso a efetivação dessas Unidades de Conservação, que deverá incluir o envolvimento das comunidades locais e uma importante parceria com a Associação Caatinga, que atua na região de forma bem sucedida”, conclui.

Diferença entre Parque e APA

Os Parques são Unidades de Conservação, terrestres ou aquáticas, focadas na proteção de territórios representativos de ecossistemas. São áreas dotadas de características naturais e paisagísticas notáveis, como, por exemplo, sítios arqueológicos.

Os parques conciliam a conservação da fauna e da flora local com a utilização do espaço para objetivos científicos, educacionais e recreativos. Ou seja, são locais destinados para fins de conservação, pesquisa e turismo. Podem ser criados no âmbito federal, estadual ou municipal.

As Áreas de Proteção Ambiental (APAs) são extensos territórios naturais que podem abrigar certo nível de população humana. São um tipo de Unidade de Conservação que garante a preservação dos atributos naturais, humanos, culturais e estéticos da região.

As APAs permitem certas atividades de uso sustentável dos recursos naturais, desde que não representem ameaças para o equilíbrio ecológico do local.

Com informações da Associação Caatinga

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