Desmatamento da Mata Atlântica avança em três estados do Nordeste

Ceará, Alagoas e Rio Grande do Norte estão entre os dez estados brasileiros que tiveram aumento no desmatamento entre 2019 e 2020, segundo o Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica. Por outro lado, no Piauí houve uma drástica queda em relação ao ritmo anterior de desflorestamento.

Polígono de desmatamento sobre imagem de alta resolução do Google Earth em 2020 e em 2017 | Fonte: Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica – período 2019-2020

Entre 2019 e 2020, o desmatamento da Mata Atlântica se intensificou em dez dos 17 estados que compreendem o bioma, sendo três deles no Nordeste: Ceará, Alagoas e Rio Grande do Norte. A manutenção do alto patamar de perda da vegetação nativa, com o crescimento do desmatamento em diversos estados, coloca o bioma em grande ameaça e reforça a necessidade de ações de restauração florestal.

Estas informações estão presentes no Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica – período 2019-2020, estudo realizado pela Fundação SOS Mata Atlântica e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), com execução técnica da Arcplan e lançado neste Dia Nacional da Mata Atlântica, 27 de maio de 2021.

O lançamento está inserido na programação do 16ª Viva a Mata – Nosso Tempo Mais Verde que começou no dia 25 e da até 29 de maio, desta vez de forma virtual, em transmissões ao vivo pelo YouTube e o Facebook da Fundação SOS Mata Atlântica.

O evento reúne especialistas, ambientalistas, artistas, músicos e amantes da Mata Atlântica para reforçar a importância da restauração da floresta como uma forma eficiente de combater a Crise Climática.

O total de desflorestamento observado no período foi de 13.053 hectares. O valor é 9% menor que o do período 2018-2019 (14.375 ha). Porém, foi 14% maior que o do período 2017-2018, quando se atingiu o menor valor de desflorestamento da série histórica (11.399 ha).

Área do bioma Mata Atlântica considerada nessa atualização | Fonte: Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica – período 2019-2020

“Mesmo que tenhamos uma diminuição de 9% do desmatamento em relação a 2018-2019, ali o aumento havia sido de 30%, então não podemos falar em tendência de queda”, explica Luís Fernando Guedes Pinto, diretor de Conhecimento da Fundação SOS Mata Atlântica. “Além disso, no que se refere à Mata Atlântica, 13 mil hectares é muito, porque se trata de uma área onde qualquer perda impacta imensamente a biodiversidade e os serviços ecossistêmicos, como regulação do clima e disponibilidade e qualidade da água”, afirma.

Cinco estados acumulam 91% do desflorestamento, apenas um do Nordeste, a Bahia (3.230 ha), que só perde para Minas Gerais (4.701 ha) no período. Na região, a pressão está no entorno das áreas metropolitanas e no litoral, acima de tudo, por conta da expansão imobiliária e pelo turismo. Para Luís Fernando, o principal problema é a falta de fiscalização. “Os governos precisam fazer valer a Lei da Mata Atlântica, que não permite a conversão de áreas florestais avançadas, e garantir o desmatamento ilegal zero por meio do combate às derrubadas não autorizadas”, explica.

Por outro lado, Alagoas, Ceará, Pernambuco e Rio Grande do Norte tiveram desflorestamento menor que 50 ha e se aproximam do desmatamento zero – quando os desmatamentos são menores de 100 hectares no período avaliado -, diminuindo o número de estados nesta condição.

Um Estado que chama a atenção é o Piauí, que teve uma queda drástica no desmatamento neste último período. Entre 2017-2018 aparecia no quarto lugar da lista, com 2.100 hectares, no período 2018-2019 foram desflorestados 1.158 hectares e neste último período, apenas 372 hectares,76% de redução.

“Isso ocorreu numa região que vinha sendo intensamente desmatada. A hipótese é que a fronteira agrícola chegou ao limite do que era possível ou do que se desejado”, acredita Luis Fernando Guedes Pinto.

O Relatório destaca que a manutenção de um alto patamar de perda da vegetação nativa da Mata Atlântica, com o aumento do desmatamento em alguns estados, mantém o bioma em um grau elevado de ameaça e risco; e que a proteção e a restauração são fundamentais para garantir serviços ecossistêmicos para 72% da população brasileira e 70% da economia do País.

“Os avanços tecnológicos na área da informação, do sensoriamento remoto, do processamento de imagens de satélites e da geoinformática vêm contribuindo favoravelmente para a realização do Atlas, tornando-o mais preciso e detalhado, além de mais acessível ao público em geral”, afirma Silvana Amaral, coordenadora técnica do Atlas da Mata Atlântica pelo INPE.

A expectativa é que as informações geradas e os produtos elaborados sejam úteis para contribuir com o conhecimento e para subsidiar estratégias e ações políticas de conservação da Mata Atlântica, considerada um dos mais ricos conjuntos de ecossistemas do Planeta e um dos mais ameaçados de extinção.

Remanescentes Florestais da Mata Atlântica

Mapa dos remanescentes em 2020 | Fonte: Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica – período 2019-2020

O Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica é uma iniciativa da Fundação SOS Mata Atlântica em convênio com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) iniciada em 1989. Este trabalho tem o objetivo de determinar a distribuição dos remanescentes da Mata Atlântica, monitorar as alterações da cobertura vegetal nativa e gerar informações permanentemente atualizadas sobre o bioma.

Ele inclui o mapeamento do território dos 17 estados inseridos no Mapa da Área de Aplicação da Lei Nº 11.428/2006, a Lei da Mata Atlântica, sendo oito dos nove estados nordestinos, ficando de fora apenas o Maranhão.

O relatório completo do Atlas da Mata Atlântica 2019-2020 pode ser acessado em www.sosma.org.br e no www.inpe.br.

Todos os dados também estarão disponíveis no aplicativo www.aquitemmata.org.br, com mapas interativos e gráficos que trazem a informação atualizada sobre o desmatamento e o estado de conservação de florestas, mangues e restingas nos 3.429 municípios da Mata Atlântica.

Restauração como prioridade

Atualmente, a Mata Atlântica mantém apenas 12,4% de sua vegetação original – que se distribui por mais de 1,3 milhão de quilômetros quadrados. Além da proporção estar muito abaixo do limite mínimo aceitável para sua conservação, que é de 30%, as florestas naturais encontram-se restritas a espaços extremamente fragmentados (a maior parte não chega a 50 hectares) e grande parte, 80% dos casos, encontra-se em propriedades privadas.

A situação vai na contramão de importantes referências internacionais que – pela conservação de sua rica biodiversidade e de seu potencial no combate à Crise Climática – apontam a Mata Atlântica como uma das prioridades mundiais para a restauração florestal.

Para a ONG, mais do que interromper o desmatamento da Mata Atlântica, é preciso, nesta que é a Década de Restauração de Ecossistemas da Organização das Nações Unidas (ONU), tornar sua recuperação uma prioridade na agenda ambiental e climática.

“A restauração de ecossistemas é uma solução baseada na natureza para alcançarmos o cenário de redução de 1,5°C de aquecimento global estabelecido no Acordo de Paris. As maiores e mais baratas contribuições que o Brasil pode dar ao combate das mudanças climáticas são as soluções baseadas na natureza. E o caso da Mata Atlântica tem tudo para se tornar uma referência para a proteção e recuperação de florestas tropicais e hotspots ameaçados. Sua restauração geraria benefícios não só para a população e a economia nacionais, mas também para o Planeta e a humanidade como um todo”, aponta Guedes Pinto, diretor da ONG.

Para Malu Ribeiro, diretora de Políticas Públicas da SOS Mata Atlântica, é fundamental que os estados que compõem o bioma vejam na Década da Restauração uma oportunidade para regenerar e recuperar a floresta. “Deveríamos estar comemorando a renovação, porém ainda estamos falando sobre como conter o desmatamento, que não para de crescer”, alerta. “A sociedade e os gestores precisam encarar essa como uma agenda estratégica para o Brasil principalmente em relação às emergências climáticas.”

Viva a Mata

Nesta quinta-feira (27), no Dia Nacional da Mata Atlântica, a partir das 18h30, será realizada a solenidade Viva a Mata 2021. Mais do que mostrar o que a SOS Mata Atlântica tem feito para preservar o bioma e discutir como sua recuperação pode ajudar a regular o clima, o evento terá parceiros e convidados especiais que vão abordar sua relação pessoal com a floresta. A cantora Mônica Salmaso, com seu repertório eclético que abrange diversos ritmos da MPB, será uma das atrações musicais.

No sábado (29), o Viva a Mata Brincando será um evento especial para toda a família. A partir das 10h, uma live lúdica vai contar histórias sobre a Mata Atlântica e, em meio a muitas brincadeiras, música e tecnologia, explicar como cada um de nós pode fazer a sua parte para proteger uma das maiores riquezas naturais do planeta. Palavra Cantada (que lança uma canção inédita), show ao vivo do Beatles para Crianças, Mundo Bita e a oficina de brinquedos com elementos da natureza da Estéfi Machado são algumas das atrações – entre outras surpresas.

SOS Mata Atlântica

A Fundação SOS Mata Atlântica é uma Organização Não Governamental (ONG) ambiental brasileira que tem como missão inspirar a sociedade na defesa da Mata Atlântica. Atua na promoção de políticas públicas para a conservação do bioma mais ameaçado do Brasil por meio do monitoramento da floresta, produção de estudos, projetos demonstrativos, diálogo com setores públicos e privados, aprimoramento da legislação ambiental, comunicação e engajamento da sociedade.

Contabilizando cerca de 42 milhões de mudas de árvores nativas plantadas e cerca de 23 mil hectares restaurados em nove estados, uma área equivalente ao território de Recife (PE).

Pesquisas Espaciais

O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) foi criado em 1961 com o objetivo de capacitar o País nas pesquisas científicas e nas tecnologias espaciais. Ao longo dos anos, suas atividades se ampliaram e a importância dos estudos vão desde assuntos complexos sobre a origem do Universo a aplicações de ciências como nas questões de desflorestamento das nossas matas.

Com informações da Fundação SOS Mata Atlântica

Serviço

Sábado, 29 de maio, às 10h
Viva a Mata Brincando
Inscrições gratuitas em https://bit.ly/33RqcEq

Quer a apoiar a Eco Nordeste?

Seja um apoiador mensal ou assine nossa newsletter abaixo: