Foto de área de morro com deslizamento ao centro. À esquerda e à direita há construções de tijolo sem reboco. Na parte inferior à esquerda, há uma área coberta com uma lona preta. Na parte superior há alguma vegetação que inclui duas bananeiras e alguns coqueiros. Na base há um telhado de amianto e acima de tudo, um céu nublado
Área afetada pelas chuvas torrenciais de maio e junho no Recife | Foto: Inês Campelo / Marco Zero Conteúdo

Por Verônica Falcão
Colaboradora

Recife – PE. Que as mudanças climáticas globais resultam em chuvas mais intensas ou secas mais severas todo mundo já deve ter ouvido falar. Agora, um estudo quantificou esse aumento, a partir de dados relativos aos temporais ocorridos no Nordeste brasileiro entre maio e junho de 2022, que, somados a uma série de problemas urbanos, resultaram em 133 mortos e 25 mil desabrigados. O resultado aponta que o índice pluviométrico foi cerca de 20% maior do que teria sido sem o aquecimento global.

O relatório científico tem a coordenação da World Weather Attribution (WWA), uma rede colaborativa internacional que analisa a possível influência do aquecimento global em eventos climáticos extremos, como tempestades, chuvas intensas, ondas de calor, períodos de frio e secas.

Contribuíram para o estudo mais de 20 cientistas de Brasil, Dinamarca, França, Alemanha, Holanda, Reino Unido e Estados Unidos dezenas de instituições, entre eles, integrantes da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme) e da Agência Pernambucana de Águas e Clima (Apac).

O meteorologista da Funceme Francisco Vasconcelos Júnior, um dos autores do relatório, alerta que as enxurradas como as de maio e junho de 2022 vão continuar acontecendo e com intensidades maiores. “O tipo de urbanização das cidades atingidas, com moradias nas áreas de encostas e nas margens dos rios, expõe ainda mais a população às inundações.”

Na opinião de Francisco Vasconcelos Júnior, o poder público deve priorizar a remoção dos moradores das áreas de riscos. “Essa é uma medida emergencial de convivência com as mudanças climáticas globais”, considera.

Vinculado à Apac e autor do relatório, o meteorologista Thiago Luiz do Vale Silva, concorda que há necessidade de políticas públicas voltadas à convivência com os efeitos das mudanças climáticas. “Desde a colonização, as inundações existem em Pernambuco, mas, a partir de agora, temos que de fato pensar na adaptação das cidades face aos eventos extremos, focando na segurança das pessoas”, opina.

Para a meteorologista Francis Lacerda, as mortes em decorrência das enxurradas em Pernambuco foram uma tragédia anunciada. Ela menciona que o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) e a Apac emitiram alertas meteorológicos em tempo hábil, mas a população não desocupou as áreas de risco. Ela não culpabiliza os moradores dos morros e margens de rios, a quem considera vítimas de racismo ambiental.

“Temos, em Pernambuco, o conhecimento da vulnerabilidade das cidades, uma lei de mudanças climáticas, um plano de mudanças climáticas e inventários de emissão de gases de efeito estufa. Agora falta corrigir o déficit habitacional, que só no Recife é de 70 mil, para que as pessoas deixem as áreas de risco”, avalia a meteorologista Francis Lacerda, do Laboratório de Meteorologia de Pernambuco (Lamepe).

OUÇA a opinião de Francis Lacerda, meteorologista do Lamepe, sobre:

🔊 RACISMO AMBIENTAL no contexto das mudanças climáticas

🔊 O FENÔMENO do aquecimento global

🔊 PLANOS DE MITIGAÇÃO: para que servem?

O relatório científico cita a distância entre o alerta precoce e as ações, no fim de maio, quando os estados do Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas e Sergipe receberam grandes quantidades de chuvas. Em menos de 24 horas, algumas regiões experimentaram cerca de 70% da quantidade total de chuva esperada para o mês inteiro.

Os cientistas analisaram os níveis de precipitação durante períodos de 7 e 15 dias na área mais afetada, uma região que abrange a costa dos estados do Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco e Alagoas. Eles descobriram que a mudança climática causada pelo ser humano tornou a chuva mais provável e mais intensa, embora ainda seja um evento raro no clima de hoje, com apenas uma chance de 1 em 500 a 1 em 1000 de acontecer em um único ano.

Os resultados são consistentes com o entendimento científico de como a mudança climática, causada pelas emissões humanas de gases de efeito estufa, influencia as fortes chuvas. Na medida em que a atmosfera se torna mais quente, ela pode conter mais água e aumentar o risco de chuvas torrenciais. Com mais emissões de gases de efeito estufa e elevação contínua da temperatura, os episódios de chuvas fortes se tornarão ainda mais comuns e intensos. O aumento da temperatura no planeta é de 1,2 grau.

Acesse AQUI o estudo, intitulado Climate change increased heavy rainfall, hitting vulnerable communities in Eastern Northeast Brazil

Sem Comentários ainda

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado.

Pular para o conteúdo