Esta matéria traz depoimentos de profissionais e empresas de Pernambuco que demonstram como escapar da lógica do desenvolvimento econômico a qualquer custo e faz parte de uma série colaborativa entre três mídias digitais da área de Sustentabilidade com atuação no Nordeste: Eco Nordeste (CE), A Nossa Pegada (PE) e Notícia Sustentável (BA).

As estampas de Rafa Q Faz, inspiradas na cultura pernambucana, estão nas roupas, máscaras e já são usadas por grupos de arte

Por Aline Vieira Costa

Recife-PE. Pernambucano é conhecido como cidadão superlativo: tudo dele é o maior, a começar pelo grande Galo da Madrugada, conhecido como o maior bloco carnavalesco do mundo. Brincadeiras à parte, Pernambuco é um lugar que sedia grandes e diferentes conglomerados empresariais: tem o maior parque tecnológico do País, considerado o Vale do Silício brasileiro, além do maior polo médico e têxtil do Norte/Nordeste. A pergunta que fica é: em meio a tantas empresas e impactos de atuação, será que o Estado caminha para ser uma grande referência em sustentabilidade?

Nesta terceira reportagem da série Sustentabilidade Empresarial do Nordeste, entrevistamos pessoas do mercado e da academia e trazemos alguns casos de empresas que caminham na contramão de um desenvolvimento econômico a qualquer custo, ou seja, que fazem o que a maioria não faz, conquistam lugar no mercado e ainda ajudam a promover os três pilares da sustentabilidade, que são o social, o econômico e o ambiental.

Um dos nossos entrevistados é o engenheiro de produção e perito ambiental Abraão Rodrigues Lira, que é diretor executivo do Instituto JLira de Desenvolvimento Empresarial, especializado em consultorias de gestão ambiental. Para Abraão, Pernambuco sempre foi um estado pujante e de vanguarda no quesito gestão ambiental nos setores público e privado. Abraão cita, como exemplo, a capital, Recife, que em 2019 integrou uma lista mundial seleta, sendo reconhecida como uma das 88 cidades conceituadas na Carbon Disclosure Program (CDP), um programa que reconhece iniciativas para reduzir emissões e atenuar as mudanças climáticas. No Brasil, somente Recife e Rio de Janeiro fazem parte.

Engenheiro de produção e perito ambiental, Abraão Rodrigues Lira é diretor executivo do Instituto JLira de Desenvolvimento Empresarial, especializado em consultorias de gestão ambiental

Alguns destaques

Avanços na gestão pública, no entanto, também dependem da atuação do privado. Do litoral ao sertão, o Estado possui vários casos de sucesso, entre eles, o da Baterias Moura, a maior empresa de baterias automotivas da América do Sul, que produz 7,5 milhões de baterias por ano no município de Belo Jardim, a cerca de 183 km de distância da capital. Lira destaca ações como a reciclagem de 100% das baterias produzidas no mercado, a redução em 11%, desde 2009, de emissões de gases de efeito estufa, e, ainda, a redução de 36% do consumo de água nos últimos quatro anos.

Abraão lembra que o setor produtivo local é representado pela Federação das Indústrias do Estado de Pernambuco (Fiepe) e nele há um programa chamado Fiepe Ambiental (FA), capitaneado pelo conselho ambiental da entidade, do qual já participou, e que já realizou seis edições do Prêmio Fiepe de Sustentabilidade Ambiental.

Uma das premiadas foi a fabricante de telhas Kitambar Artefatos e Cerâmicas, de Caruaru, por utilizar biomassa renovável para gerar energia, em vez de lenha nativa da Caatinga.

Outra premiada foi a Sanvale Plasticultura e Irrigação, de Petrolina, pelo projeto de Sistema de Rastreabilidade de Resíduos (S2R), desenvolvido com exclusividade no mercado nacional, que garante agilidade, segurança e total controle, desde a geração até a destinação final dos resíduos dos clientes da empresa.

Caminhos

Quando o assunto é pandemia, Abraão afirma que não se pode negar que os fatos chacoalharam o mundo, mas ressalta que crises como essa vêm sendo vividas há séculos e os seres humanos sempre encontram soluções para o enfrentamento. “As dificuldades das empresas estão na sua forma de pensar o negócio, ontem, hoje e para o futuro”.

A JLira é atualmente procurada para atender a dois perfis empresariais: o daquelas que buscam adotar ações ambientais em processos, produtos e serviços e promover imagem de marca propositiva de responsabilidade socioambiental e o das que só atendem a legislação e que ainda se veem não preparadas no momento para aproveitarem as oportunidades de investimentos em ações sociais e ambientais nos negócios.

O segundo perfil, segundo Abraão, é o das organizações que até o momento entendem mas não compreendem que investir em ações ambientais não requer vultosos investimentos, mas pequenas mudanças de hábitos que as levarão a outro patamar de imagem perante o fornecedor, colaborador, consumidor e acionista.

“Algumas das ações são a implantação de coleta seletiva de resíduos ou até mesmo o reaproveitamento de papéis impressos não desejados como rascunhos para outras impressões”. Outra ação é verificar se é possível reduzir perdas ou vazamentos de matéria-prima nos processos e quiçá vender os resíduos gerados.

Para Abraão, a conquista de novos mercados, a mitigação de riscos, o acesso a novas linhas de crédito, são fatores que estão motivando as empresas a repensarem as ações de sustentabilidade como vantagens aos negócios.

“Aplicar essas estratégias é se preparar para a nova realidade do ESG, uma sigla em inglês para environmental, social and governance, que é geralmente usada para medir as práticas ambientais, sociais e de governança de uma empresa. Vem sendo a nova obsessão do universo corporativo. Para além do impacto positivo na sociedade, pensar em estratégias ESG é o futuro da economia, do acesso ao capital e dos impactos positivos à sociedade”, completa Lira.

No caminho certo

A Refazenda é uma marca de roupas pernambucana reconhecida no Brasil e no mundo pelo trabalho sustentável que realiza há 30 anos

Em caminho alinhado com estratégias de ESG está a Refazenda, uma marca de roupas pernambucana reconhecida no Brasil e no mundo pelo trabalho sustentável que realiza há 30 anos. Muito além de um negócio de moda, a Refazenda, criada pela estilista, designer e servidora social Magna Coeli, se posiciona como uma empresa de comportamento por meio de produtos com alto valor agregado, frutos da economia circular praticada. Uma história de inovação que virou case de estudo da ONU Meio Ambiente.

O nome “Refazenda” foi inspirado na canção homônima de Gilberto Gil e representa justamente um dos trabalhos que a marca abraça, que é o refazer por meio do upcycling.
O diretor de Soluções da marca, Marcos Queiroz, administrador, publicitário e também filho da estilista, conta que o desejo da mãe era fazer moda com design inovador, gerar emprego com valor compartilhado e coeficiente de dignidade, e colocar em prática um sistema de produzir roupas que não gerasse lixo. Tudo isso no fim dos anos 80. Muito antes, no entanto, Magna já havia iniciado o caminho: desde pequena usava retalhos da alfaiataria do pai e fazia roupas para as bonecas, incentivada pela mãe, professora de corte e costura.

Os retalhos seguiram presentes na trajetória de Magna e são justamente detalhes que definem e são visivelmente marcantes na personalidade da marca, a qual preza por um planejamento assertivo dos cortes dos tecidos. Isso desde o início das atividades da Refazenda, que começou o ateliê na garagem de casa, com produção de cama, mesa e banho e muita técnica de patchwork, que é uma composição de retalhos. “As primeiras clientes gostaram tanto que começaram a querer se vestir daquilo e menos de um ano de Refazenda formalizada a gente já começou a fazer vestuário”, conta Marcos.

A Refazenda cresceu, chegou a ter mais de 100 colaboradores diretos, a abrir loja em São Paulo e, após reformulações, atualmente conta com quatro lojas, três físicas e uma virtual. Ao longo de mais de 30 anos de testes, erros e acertos, a Refazenda encontrou cinco caminhos para destinar a matéria nobre do ofício.

O diretor de Soluções da marca, Marcos Queiroz, é administrador, publicitário e também filho da fundadora e diretora-criativa, Magna Coeli

“Tudo começa com pesquisa e desenvolvimento, comum a toda a indústria têxtil, e depois vai para o corte, que é a fase crucial do processo produtivo, pois é onde gera resíduos e retalhos. Por mais bem planejado, na hora do corte existem as sobras e a indústria têxtil brasileira descarta em média 25% do que é cortado”, assinala o administrador.

O primeiro caminho é utilizar sobras no próprio acabamento: detalhes internos e externos das peças. O segundo é aproveitá-las em acessórios, como pulseira, colar, brinco, chapéu, bolsas, além de artigos de cama, mesa e banho, que voltaram a ser produzidos. O terceiro é um projeto no qual a marca ensina artesãs da Região Metropolitana do Recife a fazer aviamentos, fornece a matéria-prima, e compra delas, já com valor agregado. “O que a gente acha mais legal não é a recompra, mas o ensinamento da técnica. E a gente não pede exclusividade, mas que façam aquilo e achem interessante como meio de ganhar sustento”, explica.

O quarto caminho é a linha infantil Chico e Bento (em homenagem ao netos da estilista), a qual, pelo tamanho e proporção, é excelente para receber upcycling vindo dos retalhos. “O quinto é um serviço chamado Realce, uma das meninas dos olhos da ONU Meio Ambiente. A gente ressignifica, redesenha, recria peças com histórias de vida”, acrescenta Marcos. Ainda em teste, o serviço permite com que a pessoa agende uma data, leve as peças usadas e, por meio de um menu de possibilidades, as recrie junto com a designer.

Vale salientar outros fatores sustentáveis da marca, como a não utilização de água em 100% do processo de confecção e o fato de 95% dos tecidos usados serem feitos de fibras naturais como o algodão, o linho e a seda, que duram mais, são menos nocivos ao meio ambiente e podem ser reaproveitados com mais facilidade.

Marcos explica que esses cinco caminhos fecham o ciclo Refazenda de produção, faz com que a equipe chegue ao lixo zero 100%, e levam a Refazenda a conquistar alguns reconhecimentos, entre eles o Eco Brasil de 2019 e 2020, o principal prêmio de sustentabilidade do País, promovido pela Câmara Americana e pelo Estadão.

Outro reconhecimento foi o Prêmio de Sustentabilidade da Fiepe em 2011. “Um dos motivadores é fazer um produto final com design, inovação, estilo e que siga tendências do mercado mundo afora, porque não adianta só cumprir o papel de não gerar lixo, mas dar destino a ele, se não a conta não fecha”, avalia Marcos.

Desbravar o mercado

A Rafa Q Faz surgiu do desejo de Rafaela Mendes se vestir como se sentia, com o espírito de quem cresceu entre os artistas de Olinda

A conta não fechar, em uma sociedade capitalista, significa ter que fazer escolhas difíceis. Principalmente para quem é microempreendedor. E são essas decisões que podem ser cruciais no destino de empreendimentos como a Rafa Q Faz, uma marca de moda autoral sustentável pernambucana que nasceu em um quintal da comunidade do Alto do Monte, no sitio histórico de Olinda.

Rafaela Mendes, apaixonada pela cultura popular de Pernambuco, aprendeu a costurar assistindo vídeos no Youtube e hoje desenha e confecciona peças para artistas, como o grupo musical Quinteto Violado e a cantora Bia Villa-Chan, e interessados em consumir o que ela batizou de rouparte, cuja proposta é fazer vestir alegria e cultura o ano inteiro.

Rafaela, assim como outras crianças da comunidade, viveu a infância passando tempo na casa de vizinhos que faziam arte, desde entalhar madeira, fazer máscara de carnaval a confeccionar boneco gigante. Cresceu, se tornou servidora pública, mas em 2010 voltou para a arte por meio de pinturas em garrafas reaproveitadas. Logo a tinta passou para os quadros, chamados de “telas narrativas”, por meio das quais Rafaela conseguia “falar” sobre histórias da vida da pessoa. Na época, chegou a desenhar fantasias para uma loja que decidiu abrir, mas só em 2015 veio o desejo por confeccionar roupas.

“Esse processo de fazer a tela me fez refletir sobre as roupas que eu usava. Nada combinava ou tinha a minha cara. Acordei um dia e decidi fazer minhas roupas”, conta. Em pouco tempo começou a criar, com toque pessoal, mistura de cores e um DNA local. Foi nesse início que percebeu o quanto sobrava de tecido durante o processo e começou a buscar a soluções, como doações, para enchimento para bonecas, ou simplesmente usar retalhos para fazer novos tecidos. “Como eu usava tecidos bonitos, as pessoas me pediam, mas tudo já havia sido descartado”.

Rafa define o processo dela, em relação à sustentabilidade, como intuitivo, a exemplo da escolha pelo algodão, que se deu por questões de frescor e memória afetiva das avós, que sempre falavam em fazenda. “Fazenda era o algodão e ficou na minha mente que algodão era o melhor tecido”, conta ela, que, com o tempo, percebeu que existe demanda e carência do mercado por roupas respiráveis. Em 2016, no entanto, ela já colocava em prática o desejo de criar peças assim e um dos destaques vai para o primeiro figurino de grupo cultural, o Paranambuca, que até então só usava poliéster.

Ela só percebeu que fazia moda autoral e tinha princípios sustentáveis durante a incubação no Marco Pernambucano de Moda, o qual conheceu naquele mesmo ano enquanto participava pela primeira vez da maior feira de artesanato da América Latina, a Fenearte. Quatro anos depois, em 2020, Rafa Q Faz já conseguiu ter 80% da produção com tecidos de estampa digital, à base d’água, que não leva metais pesados como outros.

E nesse intervalo de cinco anos, não faltaram pequenas ações, como trocar máquina de costura por outra 70% mais econômica em nível de energia e consumo. Outra ação é o trabalho com o conceito de carbono zero, fazendo compensação com o plantio de árvores. “Não conseguimos destinar corretamente alfinete e agulha quebrada. Se isso vai gerar um dano porque não é reaproveitado, nossa compensação é de 300%. Se o dano é de um, a gente compensa três, o nosso e o de mais dois microempreendedores que não adotam”, pontua.

Rafaela ressalta, no entanto, que não existe empresa 100% sustentável. Há pessoas que precisam, por exemplo, da superfície de poliéster e não podemos achar que não existe esse uso. “Não podemos desmotivar ou condenar a pessoa, mas incentivá-la, tentando mudar, fazendo costura reforçada para que dure mais, acabamento melhor para liberar menos fibra. Chamo de redução de danos. Se não pode mexer no tecido, quais outras práticas se pode fazer?”.

Ela conta que não é possível rastrear tudo o que entra na empresa, mas que busca se responsabilizar pelo material a partir do momento que ele entra. “Isso aprendi com Magna, da Refazenda, que é uma referência de moda autoral. Tive essa conversa com ela porque eu tinha muito essa angústia, e ela disse: ‘Rafa, a gente não consegue, infelizmente, resolver o mundo, mas a gente pode partir do momento que sai do nosso empreendimento para sair com a proposta correta’, e é isso que tento adotar para não pirar. Tento fazer o que está ao meu alcance”.

A mãe da Rafaela, Maria do Carmo Mendes, a Carminha, costura os modelos criados pela filha e é sua sócia no negócio

RafaQFaz é um negócio familiar, feito por ela, responsável pela parte criativa, e pela mãe, que costura e empreende junto. Mas nem por isso o impacto é pequeno. Durante a pandemia, Rafaela e outras 11 mulheres da comunidade criaram o coletivo Elas Q Fazem, para pensar estratégias sobre como fazer economia circular e criativa ali e futuramente desenvolver capacitações para mulheres. Elas desenvolveram o projeto “Cuidando de Quem Cuida” que, durante três meses, produziu 20 mil máscaras de proteção e conseguiu doar quase 4 mil, que corresponde a quase 40% do bairro.

Algumas novidades que estão por vir é o plano de gestão de resíduos têxteis, que está em implantação, e um livro contando como a Rafa Q Faz o implantou internamente, considerando empresas que têm a mesma realidade dela. A ideia é mostrar “como com pequenas práticas você pode tornar seu espaço mais sustentável e ao mesmo tempo você vai conhecendo a experiência da gente e já vai construindo sua história também”. Como educadora social, Rafaela vê a moda como uma linguagem e acredita que a moda pode sim educar. “Principalmente se as pessoas que fazem a moda estiverem dispostas a participar desse processo que não é fácil, tem que partir de algum começo”, sintetiza.

Coragem e oportunidade

Atualmente a Nova Brasil Ambiental beneficia cerca de 150 toneladas de vidro por mês

O começo, em qualquer que seja a área, é o ponto de partida que exige esforço para romper com a força da inércia. É o movimento que faz com que surjam iniciativas como a Nova Brasil Ambiental, uma empresa beneficiadora de vidros que há oito anos faz o tratamento do material coletado e o repasse para indústrias que precisam dele. E é a coragem que faz com que jovens como Juliana Maia saiam da zona de conforto de um bom emprego, casa dos pais e cidade natal para investir em um negócio de reciclagem de vidro dentro de um contexto de país que pouco sabe o valor dos resíduos.

Juliana é engenheira ambiental e trabalha com resíduos há 20 anos, sendo boa parte desse tempo atuante na solução para o descarte de materiais complexos em um dos maiores aterros sanitários da América Latina, em São Paulo. Após conhecer um negócio local de reciclagem de para-brisas e ter um insight, escolheu por destino, em 2013, estudar a viabilidade de uma empresa, mesmo sem nunca ter tido a intenção de ser dona de um negócio. O plano apontou para o Nordeste, pela carência e, ao mesmo tempo, oportunidade de trabalho com logística reversa na região.

Segundo Juliana, a escolha por Pernambuco se deu pelo fato de ser o único Estado no Norte/Nordeste a possuir fábrica de transformação e isso ser um grande diferencial para reciclar, por facilitar o deslocamento. No dia a dia de um catador, por exemplo, é a falta de transporte que torna a reciclagem do vidro ser inviável para muitos deles, uma vez que o material é pesado, ocupa espaço e oferece risco de acidente. Alguns catadores, no entanto, são fornecedores da Nova Brasil, que recebe materiais em toneladas por meio de grandes grandes caminhões e também em pequenas quantidades via carrinhos de mão.

“Começamos reciclando 5 toneladas a cada dois, três meses. Uma loucura porque era viável reciclar 200 toneladas por mês. Pensei que, ao abrir a empresa, já teria essa quantidade. Oito anos depois ainda não tenho. Muita coisa vai para o lixo. As pessoas nem sabem que é possível reciclar vidro em Pernambuco”, observa Juliana, cuja empresa começou com dois funcionários e hoje conta com oito. Todos vivem do vidro e todos são registrados. Atualmente, conseguem beneficiar cerca de 150 toneladas por mês.

Grande parte vem de indústrias automotivas, empresas de ônibus, lojas de autopeças, pequenas cooperativas. Mas também vem da colaboração de moradores de cerca de 80 condomínios que juntam material em bombonas, coletadas sempre cheias. “Por conta da diminuição de clientes no primeiro ano da pandemia, a gente começou a cobrar uma taxa dos condomínios (cerca de R$ 50), por termos que pagar o frete e dois funcionários para carregar. Mas, neste ano, a situação voltou a melhorar e estou tentando não cobrar mais a partir de agosto”, adianta.

Quem decidir levar os vidros até o galpão, que fica em Paulista, pode decidir doar ou vender. A tonelada está saindo a R$ 80. No caso dos catadores, que não têm essa quantidade toda, a empresa faz uma “poupancinha” para fazer o pagamento quando chegar ao peso mínimo. A ideia é sempre buscar ajudar esses profissionais. “A Nova Brasil tem essa pegada social, a gente quer ajudar e fomentar a comunidade em que a gente vive porque isso vai  remeter para a gente também”, conta ela, que até marcação de vacina tem feito.

Vale lembrar que são recicláveis vidros como os de garrafas, copos, potes, vidros de cosméticos, espelhos, para-brisas, janelas, boxs e tampos de mesa. Inclusive se estiverem quebrados, os quais devem ser embalados cuidadosamente para não machucar o catador, e preferencialmente com outro resíduo reciclável que já esteja sendo descartado, como papelão ou jornal. E não precisa fazer higienização, pois quem faz isso são as fábricas de beneficiamento, como a Nova Brasil Ambiental.

Veja vídeo:

Juliana explica que uma das vantagens de reciclar vidro é por ele ser um material 100% reciclável, que, mal descartado, dura centenas de anos na natureza, e reforça a importância de as famílias praticarem a coleta seletiva em casa, separando úmidos e secos. “A gente limpa a casa, mas o lixo vai pra algum lugar e não tem mais lugar para aterrar. Esse lixo vai para algum lugar e de alguma forma vai afetar a gente”. Para ela, o trabalho tem desafios mas faz a diferença. “É na dificuldade que faltam pessoas para desenvolver. É ali que está o negócio. Precisamos ficar de olho no que pode ter de oportunidade na dificuldade”.

Juliana Maia saiu da zona de conforto de um bom emprego, casa dos pais e cidade natal para investir em um negócio de reciclagem de vidros em Pernambuco

O caminho da contramão

A educadora e empreendedora social Susana Leal, que tem mais de 20 anos de experiência em processos de desenvolvimento de pessoas no tema da responsabilidade socioambiental e da sustentabilidade, observa avanços no mundo, ao mesmo tempo em que percebe retrocesso grande com esse movimento político de negar muitos aspectos que avançaram há mais de dez anos.

Susana, que atualmente coordena o MBA LIS – Liderança, Inovação e Negócios Sustentáveis, na Católica Business School, em Recife; e é co-fundadora da Rede Livre Academy – Lugar de Investigação Viva e Regeneração Ecossistêmica, acredita que Pernambuco está vivendo, junto com o Brasil e o mundo, todos os desafios que passam pela pandemia, mas também pela crise climática, que vai ser ainda mais grave.

O propósito da atuação dela, na coordenação do LIS, é dar oportunidade para que pessoas pensem os negócios de forma diferente, com os paradigmas de desenvolvimento sustentável. “A gente trabalha esse olhar do líder, a visão de mundo, as habilidades de inovar no negócio ou realizar novos projetos, e a gente trabalha também a forma de lidar com esse negócio em um ambiente desafiador”, explica.

As empresas precisam se reinventar e, para Susana, a solução está em cada um e no coletivo com o qual cada um vai se reunir e trabalhar de forma colaborativa. “Não tenho dúvida de que a tão famigerada competitividade é um paradigma que vai precisar ser transformado em colaboração e coletividade”.

A educadora e empreendedora social Susana Leal coordena o MBA LIS – Liderança, Inovação e Negócios Sustentáveis, na Católica Business School, em Recife; e é co-fundadora da Rede Livre Academy – Lugar de Investigação Viva e Regeneração Ecossistêmica

Ela avalia que, para superar esses momentos de tanta mudança, e, mais ainda, em um ambiente extremamente conectado, não tem como não aprender a fazer junto. “O tema não é mais competir. O desafio é você colaborar. É você buscar diferenciais, sim, mas comparativos e não competitivos, como se dizia no passado”, arremata.

Para ouvir a opinião dela completa, acompanhe as redes sociais da Eco Nordeste (CE), A Nossa Pegada (PE) e Notícia Sustentável (BA) e ouça o podcast que vai ao ar nos próximos dias.

Esta foi a terceira matéria da série Sustentabilidade Empresarial no Nordeste

Leia as duas anteriores

Empresas baianas se destacam com boas práticas de sustentabilidade

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