Pastagem no bioma amazônico: Greenpeace diz que empresas que assumiram compromissos públicos com o desmatamento zero falham ao cumprir suas obrigações | Foto: Marcio Isensee e Sá / ((o))eco

Hoje, nós vamos abrir uma exceção para falar de outro bioma brasileiro. Você come carne? Já parou para pensar onde e como é criado o gado que dá origem ao contra-filé ou àquele corte especial de estrogonofe que compra de vez em quando no supermercado ou àquela picanha assada na brasa que aprecia vez ou outra no rodízio?

Pois saiba que a Amazônia tem atualmente 85 milhões de cabeças de gado, três para cada habitante humano.  Na década de 1970, o rebanho era um décimo desse tamanho e a floresta estava quase intacta. Desde então, uma porção equivalente ao tamanho da França desapareceu, da qual 66% virou pastagem.

Essa transformação foi incentivada pelo governo, que motivou a ida de milhares de fazendeiros de outras partes do País para a região. A pecuária tornou-se bandeira econômica e cultural da Amazônia, elegendo políticos para defender a atividade.

Em 2009, o jogo começou a virar quando o Ministério Público Federal (MPF) obrigou os grandes frigoríficos da região a se tornarem responsáveis por monitorar as fazendas fornecedoras de gado e não comprar daquelas que têm desmatamento ilegal.

Pecuária Sustentável

Um seminário, realizado há alguns dias, em São Paulo, reuniu diversos atores desse processo para discutir Pecuária Sustentável na Amazônia.

Para Paulo Barreto, fundador e pesquisador do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), o melhor caminho é buscar uma solução integrada que inclua crédito e capacitação. “O Brasil fez isso com o controle da febre aftosa e deu certo”, avaliou.

Marco Barbosa, procurador do MPF no Mato Grosso, onde acompanhou as negociações dos Termos de Ajuste de Conduta (TACs) firmados com os frigoríficos entre 2014 a 2016; e integrante do Grupo de Trabalho Amazônia Legal, criado em 2009 para expandir o trabalho da pecuária realizado no Pará para toda a Amazônia, destacou que, pelo TAC, os frigoríficos não podem adquirir bois de áreas embargadas, indígenas, sem Cadastro Ambiental Rural (CAR) ou degradadas após 2008.

Por outro lado, Ivaneide Bandeira Cardozo, indigenista, mestre e doutoranda em geografia, coordenadora da Kanindé – Associação de Defesa Etnoambiental, Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip) fundada em 1992, em Rondônia, afirmou que há muita irregularidade envolvendo territórios indígenas e que o CAR não garante segurança nenhuma contra isso.

“Toda carne consumida hoje, no Brasil ou fora dele, está contaminada com sangue indígena, grilagem, desmatamento”, declarou, por sua vez,  Adriana Charoux, da Campaha Amazônia do Greenpeace.

Já Adriano Carnaúba, coordenador no Departamento de Meio Ambiente e Gestão do Fundo Amazônia do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) destaca a importância de se investir numa agenda positiva, de integração lavoura-pecuária-floresta. E dá ênfase a tabalhos como o da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), no Projeto Biomas, com a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), que trata as árvores como elementos tecnológicos.

 

Documentário conta a história

“Sob a pata do boi” é um documentário de média metragem (49 minutos), que conta essa história. Dirigido por Marcio Isensee e Sá, o filme é uma produção do site ((o))eco, de jornalismo ambiental, e do Imazon. Faz parte de um projeto de jornalismo investigativo que já dura dois anos e cujas reportagens podem ser lidas neste site.

O resultado é um panorama inédito da cadeia da pecuária na Amazônia, trazendo as múltiplas visões dos atores envolvidos na indústria – dos pequenos produtores em
assentamentos rurais aos donos de frigoríficos e políticos. “Dentro e fora do Brasil, muita gente sequer sabe que existe boi na Amazônia. Pensamos em fazer um filme, em primeiro lugar, para o consumidor”, explica Marcio Isensee e Sá, o diretor.

Com 200 milhões de cabeças de gado, o Brasil possui o maior rebanho comercial de bois do mundo. Somos também o terceiro no ranking de consumidores de carne,
segundo dados da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO). O brasileiro desconhece, no entanto, a origem da carne que produz e consome: 40%
dela vem da Amazônia.

Até 2009, a cadeia da pecuária na maior floresta tropical do mundo não prestava contas de sua atuação socioambiental. Desmatamento ilegal, trabalho escravo e criação dentro de áreas protegidas ou em terras indígenas eram práticas comuns. Graças a uma ação do MPF e à campanha da Organização Não-Governamental (ONG) Greenpeace, de lá para cá, a cadeia precisou se adequar.

“Sob a pata do boi” conta como a pecuária entrou na Amazônia e se tornou seu principal vetor de desmatamento, revelando suas práticas hoje, quase uma década após começar a sofrer as primeiros pressões para eliminar suas ilegalidades.

O documentário é parte do projeto Rumo ao Desmatamento Zero, parceria do site de jornalismo ambiental ((o))eco com a ONG Imazon que, desde 2016, vem produzindo reportagens investigativas que buscam entender o efeito das medidas de pressão sobre a cadeia da pecuária, expondo os desafios, os fracassos e apontando possíveis soluções.

Com informações do site “Sob a pata do boi”

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