Por Adriano Queiroz
Colaborador

O geógrafo Rubson Maia estuda camadas geológicas expostas em falha

Durante muito tempo, sismólogos norte-americanos discutiram a possibilidade de um grande terremoto de proporções jamais vistas, apelidado de ‘The Big One’, ocorrer ao longo da falha de San Andreas, na Califórnia, e arrasar cidades como Los Angeles e San Francisco. A possibilidade foi alvo de uma série de filmes em Hollywood, com maior ou menor base na realidade científica.

Contudo, principalmente após a ocorrência dos tsunamis gerados por um abalo sísmico de 9.1 graus na escala Richter, com epicentro no Oceano Índico, em 2004, surgiu o temor de que um terremoto devastador pudesse ocorrer no Oceano Atlântico e atingir o litoral do Nordeste. O gigantesco desastre natural vitimou mais de 200 mil pessoas em diversos países da Ásia e da África. A preocupação que um fenômeno semelhante ocorresse aqui se agravou com mais um tsunami devastador registrado em 2011, no Japão, após um sismo de magnitude 9.0.

Porém, há alguma razão real para temer um tsunami? No Brasil, o único registro histórico e impreciso de algo parecido ocorreu em 1541, na cidade de São Vicente (SP), considerada a primeira vila do Brasil. Segundo o professor do Departamento de Geografia da Universidade Federal do Ceará (UFC) Rubson Maia não é possível descartar essa hipótese, mas as chances são bem pequenas. “Nos últimos 15 ou 20 anos houve uma preocupação muito grande com as Ilhas Canárias (território no Atlântico, pertencente à Espanha) porque as ilhas oceânicas, geralmente, estão associadas à atividade vulcânica”, cita.

“Um vulcão é como se fosse uma garrafa de champanhe que você agita. Então, existe uma pressão enorme e uma rolha na boca do vulcão que é a rocha que resfriou após o último derramamento basáltico. Essa rolha fica sustentando a pressão até um dia em que explode. Por isso, geralmente o início das atividades vulcânicas são explosivos. Se você imaginar isso acontecendo em ilhas oceânicas pode haver a geração de tsunamis. As cidades que estão na costa do Nordeste do Brasil seriam as mais afetadas, caso isso ocorresse nas Ilhas Canárias”, explica o geógrafo.

Ele pontua, por outro lado, que não há motivos para se preocupar com a possibilidade de falhas encontradas no próprio território nordestino gerarem tsunamis, uma vez que estas se formaram antes da separação entre Brasil e África e não se estendem até o leito oceânico, composto por rocha mais nova, geologicamente falando. Para o especialista, há mais razões para preocupação com eventuais terremotos de magnitude superior a 5.2, tal como o registrado em 1980 no Ceará.

“Embora, não tenha tido historicamente o sismo de maior magnitude ainda, os maiores sismos que aconteceram aqui são muito próximos do maior sismo registrado no Brasil, tanto em termos historiográficos quanto de intensidade. A chance de acontecer um terremoto da mesma escala do registrado em Mato Grosso é muito alta, porque isso aconteceu no passado do Nordeste”, explica.

“Temos dados, de uma sismicidade mais antiga, que nos dizem que determinadas estruturas geológicas só se criariam com sismos superiores à magnitude 4. E a gente encontra essas estruturas aqui no Nordeste. Então, não há motivos para acreditar que um terremoto maior não vá acontecer. A gente precisa estar preparado para esse tipo de fenômeno”, acrescenta o especialista.

Conforme Rubson Maia, a construção civil precisa estar atenta a esses riscos. A propósito, após o terremoto de 5.1 graus em João Câmara (RN), ocorrido há quase 35 anos, muitas casas daquele município foram reconstruídas com princípios de engenharia que podem reduzir os danos em caso de novos tremores de média ou alta magnitude.

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Sabedoria sertaneja

Um aspecto curioso, no entanto, que revela talvez uma sabedoria inata do sertanejo é o fato de que as casas de barro, feitas em localidades mais remotas do interior nordestino, estarem entre as mais resistentes a terremotos.

“O barro quando resseca se fratura. Então, se você olha uma casa de barro, aquele material da parede não é coeso. É uma estrutura cheia de pedaços. É como se fosse um solo rachado. Quando passa uma onda sísmica, como a parede não tem integridade estrutural, no sentido de não ser uma coisa só, a dispersão da onda de choque é muito mais facilitada em relação a uma parede coesa de tijolos”, explica Rubson Maia.

Sem conhecimentos de engenharia e muito menos de sismologia, a força sertaneja, tal como observado por Euclides da Cunha, vai sobrevivendo terremoto a terremoto, seca a seca, batalha a batalha.

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