Especialistas garantem que os eventos sísmicos na região Nordeste são comuns. Em agosto, a região registrou abalo 5.2 graus de magnitude, a cerca de 700 km de Fernando de Noronha.

Amargosa, a cerca de 241 Km de Salvador, na manhã desse domingo (30), registrou nove abalos sísmicos de magnitudes entre 1.6 e 4.2 na escala Richter | Foto: UFRB

Por Líliam Cunha
Colaboradora

Salvador – BA. “A terra tremia ao mesmo tempo em que fazia o barulho de um estrondo”. O depoimento é do técnico em Tecnologia da Informação Yan Sampaio, morador do município baiano de Amargosa, localizado a aproximadamente 241 Km de Salvador, que na manhã deste domingo (30), registrou nove abalos sísmicos de magnitudes entre 1.6 e 4.2 na escala Richter, segundo dados do Centro de Sismologia da Universidade de São Paulo (USP).

A 30 Km dali, na vizinha Mutuípe, o tremor foi ainda maior, 4.6 graus, de acordo com o comunicado do Instituto de Geociências (Igeo), da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e da Sociedade Brasileira de Geologia (SBG). Segundo a Rede Sismográfica Mundial, a profundidade do foco foi de 10 Km. “Por ser raso, o sismo ocasionou abalo com tremor notório em habitações, no entanto não atingiu magnitudes suficientes para ocasionar danos maiores”, afirma a nota emitida em conjunto pelas duas instituições.

Embora tenham apresentado maior magnitude nestes dois municípios, os tremores foram sentidos em mais de 40 cidades da região do Recôncavo, Sul e Vale do Jequiriçá, e em alguns bairros da capital baiana, segundo levantamento feito pelo jornal Correio. Nas redes sociais, há relatos de moradores de Santo Antônio de Jesus, Nazaré, Muniz Ferreira, Jaguaripe, Gandu, Camamu, Ilhéus, Itacaré, Jaguaquara, Feira de Santana e Lauro de Freitas, entre outros. Em São Miguel das Matas, de acordo com a Defesa Civil Estadual, a Prefeitura indicou que há rachaduras em pelo menos 50 casas.

Segundo o pesquisador e sismólogo aposentado da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Joaquim Ferreira, o que pouca gente sabe é que no início do século passado havia muito tremor de terra no recôncavo baiano. “O que a gente sabe é que o Brasil está em cima da Placa da América do Sul e que as regiões em que essa placa é mais fraca podem apresentar tremores como os registrados hoje na Bahia”, afirma Ferreira.

“A região atingida se constitui em uma área sismogênica (propensa à ocorrência de sismos), cujos relatos de terremotos são descritos desde o início do século passado. As rochas da região possuem fraturas onde elas se movimentam umas em relação às outras. Como estas estruturas possuem grandes dimensões, mesmo movimentos de alguns centímetros, quando ocorrem, liberam muita energia. Essa energia é então transformada em vibração e som que são sentidos pela população, explicam o Igeo e a SBG.

RN, PE, CE também tiveram tremores

De acordo com o Laboratório Sismológico (LabSis) da UFRN, outros três estados nordestinos registraram abalos sísmicos nos últimos cinco dias. No dia 29, às 2h23 (hora local), a instituição registrou um tremor de magnitude 2.2, na localidade de Pedra Preta, no Rio Grande do Norte. O evento, segundo o LabSis, foi registrado por diversas estações da Rede Sismográfica Brasileira (RSBR) operadas pela UFRN. O local havia registrado um tremor às 2h24, do dia 18 de agosto, este com magnitude de 1.8.

No dia 27, outros dois tremores ocorreram em Caruaru, Pernambuco. O primeiro tremor, de magnitude preliminar 1.9 ocorreu às 3h01 (hora local) e o segundo, de magnitude preliminar 1.8, 18 minutos após a primeira ocorrência. Um dia antes (26), houve registro de tremor de 1.6, na Serra da Meruoca, no Ceará.

Segundo publicação do LabSis, a Defesa Civil de Sobral, no Ceará, informou que o tremor foi sentido na Serra do Rosário, município de Sobral e que não houve relatos de que tenha sido sentido na sede da cidade. Assim, como acontece no recôncavo baiano, “a atividade sísmica na Serra da Meruoca, nos limites dos municípios de Sobral, Meruoca e Alcântaras, é antiga e tem passado por fases de intensa atividade com períodos de baixa atividade, quando podem ocorrer alguns eventos esporádicos”, é o que explica o LabSis.

Em agosto houve registros de até 5.2

Foi a 743 Km a Nordeste de Fernando de Noronha o epicentro do tremor de maior magnitude registrado no mês de agosto na região nordestina. Com 5.2 de magnitude na escala Richter, o tremor ocorreu no dia 9 de agosto. Antes dele, no dia 8, o Laboratório de Sismologia da UFRN registrou um tremor de 4.9, cujo epicentro estava localizado a aproximadamente 1.298 km a NNE de Carutapera, a 1.360 Km Norte-Nordeste (NNE) de São Luís, a 1.420 km a Norte-Noroeste (NNW) de Fortaleza, a 1.470 km a NNE de Belém e a 1.525 km a Noroeste (NW) do Arquipélago de São Pedro e São Paulo, portanto, fora do limite das 200 milhas ou 370 Km da Zona Econômica Exclusiva.

Um terceiro evento, de magnitude 5.0, foi registrado, também pelo LabSis, no dia 10 de agosto. Este evento, segundo o serviço sismológico teve o epicentro localizado a 2.238 Km a Leste (E) de Fernando de Noronha, a 2.537 Km a Este-Nordeste (ENE) de Recife e a 2.546 Km a ENE de Natal, portanto, fora, do limite das 200 milhas ou 370 Km da Zona Econômica Exclusiva.

Questionado se os sucessivos eventos registrado no Nordeste possuem relação entre si, Joaquim Ferreira afirmou que diretamente não. Segundo ele, a única relação existente entre os abalos sentidos nos últimos dias é a força sobre a placa. “A força é aplicada sobre a placa e ela é pressionada na cordilheira meso-oceânica, resultando na liberação de energia, que é a fonte principal das tensões. Os tremores ocorrem de acordo com as características de cada local, não tendo, portanto, relação direta entre si”, explica o pesquisador.

Se você já testemunhou um desses tremores e ficou sem saber como agir é dica é: em primeiro lugar, manter a calma. De acordo com o sismólogo, na magnitude que em geral são registrados os tremores no Nordeste, o maior problema que pode acontecer são danos em casas e estruturas, sendo o maior perigo a queda de telhas, principalmente nas casas em que não têm ripas intermediárias e forros. A orientação, é, segundo o pesquisador, sair para a rua ou se abrigar debaixo de um móvel para se proteger de telhas ou de objetos que caiam de estantes.

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