Rejeitos da barragem da Vale podem atingir Rio São Francisco

A Barragem, que pertence a Vale, rompeu no início da tarde desta sexta-feira (25), deixando mais de 400 pessoas desaparecidas | Foto: Corpo de Bombeiros (MG)

Alessandra Castro

Colaboradora

Os rejeitos de mineração da Barragem 1 da Mina Feijão, localizada em Brumadinho, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, em Minas Gerais, podem atingir as águas do Rio São Francisco. A Barragem, que pertence à Vale, rompeu no início da tarde desta sexta-feira (25), deixando mais de 400 pessoas desaparecidas, conforme informações do Corpo de Bombeiros da região.

Por volta das 15h50, os rejeitos da Barragem da Mina Feijão atingiram o Rio Paraopeba – um dos principais afluentes do Rio São Francisco. Segundo relatório técnico repassado ao ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, obtido pelo jornal O Globo, uma outra barragem, da Usina Hidrelétrica de Retiro Baixo, será utilizada para tentar barrar os rejeitos do vazamento, a fim de evitar que eles cheguem até as águas do São Francisco. A Usina de Retiro Baixo fica cerca de 150 Km distante do local do vazamento, trecho que a lama de minério ainda deve percorrer.

Além do Rio Paraopeba, os rejeitos atingiram a área administrativa da Vale, onde ficavam funcionários da mineradora, a comunidade da Vila Ferteco, além de encobrir casas próximas à barragem.

Por meio do twitter, o presidente Jair Bolsonaro informou que os ministros do Meio Ambiente, Ricardo Salles; do Desenvolvimento Regional, Gustavo Canuto; e de Minas e Energia, Bento Albuquerque, foram enviados para Brumadinho e que o governo irá avaliar os impactos da tragédia e tomar todas as medidas cabíveis.

O secretário Nacional de Defesa Civil, Alexandre Lucas, também foi deslocado à região. Bolsonaro disse, ainda, que pretende ir a Brumadinho no sábado (26). Tanto a Vale como a Defesa Civil informaram que os danos ainda não podem ser dimensionados.

Agentes da Defesa Civil, da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros do Estado de Minas Gerais estão ajudando nos resgates dos desaparecidos. Em nota, o Corpo de Bombeiros informou que há feridos e pessoas ilhadas em meio à lama de mineração. A quantidade de minério presente nos rejeitos ainda não divulgada.

Minério de Ferro

O complexo da Vale onde está a barragem que se rompeu, em Brumadinho, responde por 7% da produção de minério de ferro da Companhia. Os dados estão no relatório de produção do terceiro trimestre, informação mais recente divulgada.

O minério de ferro é o principal produto da Vale, com 104,95 milhões de toneladas produzidas no terceiro trimestre do ano passado. A produção havia crescido 10% em um ano e atingido recorde. Já o complexo Paraopeba, onde está a barragem da Mina do Feijão, produziu 7,3 milhões de toneladas entre julho e setembro de 2018, o que equivale a 7% da produção total.

Alerta

Municípios vizinhos a Brumadinho e cortados pelo Rio Paraopeba emitiram alerta à população sobre o risco de uma súbita elevação do nível da água e pediu para que as pessoas se afastarem da região afetada. Em nota, a Vale lamentou o acidente e disse que está “empenhando todos os esforços no socorro e apoio aos atingidos”.

Tragédia de Mariana

O acidente de Brumadinho ocorre pouco mais de três anos após a maior tragédia ambiental do Brasil, quando a barragem de Fundão, da mineradora Samarco (empreendimento da Vale e da anglo-australiana BHP Billiton), rompeu no município de Mariana, no interior de Minas Gerais. No dia 5 de novembro de 2015, o distrito de Bento Rodrigues foi destruído e 19 pessoas morreram pela lama de minério que se espalhou pela região.

Os rejeitos de minério da barragem de Fundão, em Mariana, atingiram o Rio Doce, que percorre cerca de 230 municípios de Minas Gerais e do Espírito Santo, até desaguar no mar. Um mês após o desastre, mais de 11 toneladas de peixes mortos foram retiradas do Rio Doce – sendo mais de cem espécies de diferentes, delas seis consideradas em extinção.

Cerca de 50 milhões de m³ de lama de minério de ferro vazou no rompimento da barragem. Apesar de a Samarco ter alegado, na época, que a lama não era tóxica para a população, cientistas divergiram do parecer. No rejeitos foram encontrados, ainda, quantidades “aceitáveis” de metais pesados, como arsênio, chumbo e mercúrio.

Os impactos ambientais causados pela tragédia podem ser refletidos ainda hoje no ecossistema marinho e do Rio Doce. Os danos causados ao municípios de Mariana foram estimados em mais de R$ 100 milhões.

A Vale responde a processo pela tragédia de Mariana. Além disso, há moradores que perderam suas casas no desastre com a barragem da Samarco que ainda aguardavam ser reassentados.

Nota da Vale na íntegra

A Vale informa que, no início desta tarde, ocorreu o rompimento da Barragem 1 da Mina Feijão, em Brumadinho (MG). A companhia lamenta profundamente o acidente e está empenhando todos os esforços no socorro e apoio aos atingidos.
Havia empregados na área administrativa, que foi atingida pelos rejeitos, indicando a possibilidade, ainda não confirmada, de vítimas. Parte da comunidade da Vila Ferteco também foi atingida.

O resgate e os atendimentos aos feridos estão sendo realizados no local pelo Corpo de Bombeiros e pela Defesa Civil. Ainda não há confirmação sobre a causa do acidente.
A prioridade máxima da empresa, neste momento, é apoiar nos resgates para ajudar a preservar e proteger a vida de empregados, próprios e terceiros, e das comunidades locais.
A Vale continuará fornecendo informações assim que confirmadas.

Com informações da Agência Brasil

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