Gilmar de Carvalho e Izaíra Silvino serão nomes de equipamentos culturais

Homem usando chapéu, óculos e camisa de cor rosa clara. Ele possui barbas grisalhas e está ao lado de ruinas de um prédio históricoVítima de Covid-19, o professor Gilmar de Carvalho foi  autor de mais de 50 livros, sendo referência nacional na área de tradições e culturas populares | Foto: Francisco Sousa

Por Alice Sales
Colaboradora

Fortaleza – CE. O Museu de Arte Popular dos Mestres e Mestras da Cultura do Ceará,  no Centro de Turismo do Ceará (Emcetur), em Fortaleza, terá o nome do professor Gilmar de Carvalho como homenagem póstuma a um dos pesquisadores da cultura mais importantes do País. Também será homenageada a maestrina Izaíra Silvino, que dará nome ao foyer do Theatro José de Alencar. As duas homenagens às personalidades da cultura cearense que faleceram em 2021, foram celebradas por meio das Leis Nº 17.903 e Nº 17.904, sancionadas pelo Governo do Estado do Ceará. 

Vítima de Covid-19, o professor Gilmar de Carvalho foi autor de mais de 50 livros, sendo referência nacional na área de tradições e culturas populares. Em 2020, o pesquisador recebeu a Comenda Patativa do Assaré, no mesmo ano em que foi lançado o livro “O melhor do Patativa do Assaré”, organizado pelo professor e publicado pela Secretaria da Cultura do Estado do Ceará (Secult). A obra reúne 50 poemas de Patativa e foi lançada no município de Assaré como uma das ações em comemoração aos 111 anos do Poeta. A Secult também lançou, em 2021, o livro digital “MEMORIAL – Gilmar de Carvalho”, como  homenagem.

Bacharel em Direito pela Universidade Federal do Ceará (UFC) e em Comunicação Social pela mesma Universidade, mestre em Comunicação Social, pela Universidade Metodista de São Paulo, e doutor em Comunicação e Semiótica, pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Gilmar de Carvalho foi professor do Departamento de Comunicação Social da UFC entre 1984 a 2010.

Como pesquisador, trabalhou com as relações entre Comunicação e Cultura. Desenvolveu pesquisas e atividades de ateliês xilográficos da região do Cariri cearense, como a Lira Nordestina, em Juazeiro do Norte, no acompanhamento da produção de diversas edições de livros de cordel, álbuns de gravuras e matrizes.

Em vida, Gilmar de Carvalho também atuou como articulista na Eco Nordeste, tendo escrito sobre o músico cearense Alberto Nepomuceno em seu último artigo assinado para a nossa agência de conteúdo, um carinho especial pelo trabalho da sua ex-aluna Maristela Crispim, fundadora e editora-chefe da Eco Nordeste.

Senhora de cabelos grisalhos e óculos, regendo um coral de jovens que estão posicionados em um grande circulo em um lugar que parece ser uma igreja com piso de ladrilhos hidráulicos

Segundo o deputado estadual Renato Roseno, Izaíra foi a generosidade personificada,  ao ensinar às pessoas um viver afetuoso, sensível, dedicado pela linguagem da música

Já a regente, compositora e educadora Izaíra Silvino, também homenageada, deixou um enorme legado no cenário musical cearense. Estudou Música no Conservatório de Música Alberto Nepomuceno. Foi regente do Coral da UFC de 1981 a 1989. Pelo palco de equipamentos como o Theatro José de Alencar, passou diversas vezes, onde compartilhou sua música, sempre com muita paixão.

No decorrer de sua trajetória, Izaíra Silvino também foi regente e diretora musical de diversos corais da cidade de Fortaleza, a exemplo do Coral Moenda de Canto, Coral do Povo, Coral da Embratel, Coral da CUT, Coral da Biodança, Coral da Adufc e Coral dos Amigos de Izaíra Silvino.

A musicista colaborou para a elaboração dos projetos pedagógicos e a criação dos cursos de Música da UFC em Fortaleza (2006), Sobral (2010) e Juazeiro do Norte (2010), este último, na atual Universidade Federal do Cariri (UFCA). O Centro Acadêmico Izaíra Silvino (Cais), do Curso de Licenciatura em Música da UFC – Fortaleza também é uma homenagem ao legado de Izaíra como educadora musical.

Está gostando deste conteúdo? Apoie a Eco Nordeste e fortaleça o jornalismo de soluções independente e colaborativo!

As duas leis que homenageiam as personalidades da cultura cearense foram iniciativas do deputado estadual Renato Roseno. O equipamento que levará o nome do pesquisador é o antigo museu da Emcetur, que passará por uma reforma e integrará a Rede Pública dos Equipamentos Culturais da Secult. O Museu está em processo de mudança conceitual e programática que considera todo seu histórico e legado.

O espaço assumirá um conceito de museu de arte e cultura popular, associado aos saberes e fazeres, às artes e ofícios dos mestres e mestras da cultura tradicional popular, integrado à Lei dos Tesouros Vivos do Ceará. “Gilmar de Carvalho era muito querido pelos mestres e mestras dos mais diversos rincões do Ceará”, destaca o secretário da Cultura do Estado do Ceará, Fabiano Piúba.

Para o deputado Renato Roseno, Gilmar foi um dos mais profundos e sensíveis pensadores das culturas populares no Brasil. “Mergulhou como poucos na diversidade e pluralidade do universo da cultura popular. Recusou reducionismos generalistas. Primava pela dedicação ao diálogo com os mestres e mestras da Cultura. Ter o seu nome no Museu é uma questão de afeto e justiça. A profícua produção literária de Gilmar abre caminhos que consolidam memória e autenticidade“, ressalta.

A segunda Lei, também faz uma homenagem muito valiosa, terna, justa e repleta de beleza à professora Izaíra Silvino, dando seu nome para o Foyer do Theatro José de Alencar. “Nossa maestrina, cantora, compositora, mestra e professora de tantas gerações nos tocou com sua poesia e firmeza, o direito à arte e à música como dimensões vitais para vida e para sociedade. Além disso, o Theatro José de Alencar era um lugar muito especial, um verdadeiro templo para Izaíra Silvino”, enfatiza o secretário.

Segundo Renato Roseno, Izaíra foi a generosidade personificada, ao ensinar às pessoas um viver afetuoso, sensível, dedicado pela linguagem da música. “Sou de uma geração que foi atravessada pela convocação que o canto coral nos fazia na cidade, democratizando o lugar do fazer artístico. Aprendemos com Izaíra que a arte não é campo de especialistas, mas vida vivida e que todos somos possuidores do dom que nos faz artistas. Sua vida em coletivo se encontra com a Educação Musical, tornando-se mola mestra de gerações inteiras”, finaliza.

Quer a apoiar a Eco Nordeste?

Seja um apoiador mensal ou assine nossa newsletter abaixo: