Diversidade e preservação ambiental entram com força no legislativo de Fortaleza

O mandato coletivo “Nossa Cara” e o biólogo Gabriel Aguiar, ambos eleitos pelo Psol para a Câmara de Vereadores de Fortaleza, levam, formalmente a pauta socioambiental para o legislativo da Capital.

O mandato coletivo “Nossa Cara”, composto por três mulheres negras e periféricas, atua em favor não só das pretas como do movimento LGBTQIA+

Por Rose Serafim
Colaboradora

Fortaleza – CE. Os fortalezenses elegerem 20 novos vereadores, entre 43 vagas, para atuar no legislativo da capital pelos próximos quatro anos. Dentre os novatos, duas candidaturas do Partido Socialismo e Liberdade (Psol) se destacam por defender bandeiras até então trabalhadas timidamente na Câmara. O mandato coletivo “Nossa Cara“, composto por três mulheres negras e periféricas, atua em favor, não só das pretas, como do movimento LGBTQIA+. Quem também passa a compor o quadro legislativo é o biólogo Gabriel Aguiar, pesquisador conhecido pela defesa da preservação das Dunas da Sabiaguaba e Parque do Cocó, além da divulgação científica nas redes sociais.

Ambas as candidaturas assumem cadeiras na Câmara Municipal de Fortaleza (CMF) após obterem quase 10 mil votos nas urnas. Enquanto o coletivo Nossa Cara foi favorito entre 9.789 eleitores, Aguiar conquistou outras 9.851 confirmações na urna.

Adriana Gerônimo, militante pelo direito à moradia no Lagamar e mãe; Lila Salú atuante nos movimentos Hip Hop feminista e LGBTQIA+; e Loiuse Santana, professora e futura advogada, cristã e com família de origem circense, assumem, conjuntamente, o mandato a partir de 1º de janeiro de 2021. O coletivo entra na Câmara em um momento em que Fortaleza dá passos curtos na introdução de mulheres em cargos legislativos. Enquanto 2016 registrou seis vereadoras eleitas, nesta eleição, nove cadeiras serão ocupadas por candidaturas femininas. O avanço é pequeno, mas existe.

“Nós precisamos parar de naturalizar a ausência de sujeitos como nós (na política)”, afirma Louise Santana, componente do coletivo, em declaração exclusiva à Eco Nordeste. De acordo com a professora, a maior importância do mandato é justamente demonstrar que cargos públicos podem ser ocupados por sujeitos que estão historicamente distantes da política tradicional.

“Nós sabemos como fazer política. O que nos tira fora dela são as desigualdades, tanto de possibilidades para estar na política institucional, como também para ocuparmos e permanecermos nela”, destaca.

Quem assume o cargo de vereadora é Adriana Gerônimo, enquanto Louise e Lila participam formalmente como assessoras, explicou Adriana ao Diário do Nordeste. No entanto, elas prometem horizontalidade entre as três integrantes na divisão de salário e na atividade parlamentar.

Muitas manifestações de comemoração à vitória do Nossa Cara foram registradas nas redes sociais. E, durante participação no programa Roda Viva, da TV Cultura, o cearense Preto Zezé, presidente da Central Única das Favelas (Cufa) Global, fez questão de exaltar o feito do coletivo. “Em Fortaleza, foram eleitas três mulheres negras. Lésbicas, moradoras de favela, eleitas num mandato coletivo para vereador. Isso é novo, é produtivo. Quero ver como fazemos isso não só um ciclo curto, mas um movimento permanente”, respondeu durante programa transmitido nacionalmente nesta segunda (16).

Movimento ambientalista

Conhecido por defender a preservação das Dunas da Sabiaguaba e Parque do Cocó, o vereador do Psol tem apenas 24 anos, mas já atua como ativista há uma década na capital

O movimento ambientalista também ganhou, neste domingo, um importante reforço com a eleição do biólogo Gabriel Aguiar. Conhecido por defender a preservação das Dunas da Sabiaguaba e Parque do Cocó, o vereador do Psol tem apenas 24 anos, mas já atua como ativista há uma década na capital. Formado pela Universidade Federal do Ceará (UFC), ele é já é mestre em Ecologia e Recursos Naturais também pela UFC e pesquisa os impactos dos gatos domésticos na fauna silvestre do Parque. Sobre o cargo que vai ocupar a partir do próximo ano, garante: será um mandato “verdadeiramente socioambientalista”.

“Temos no nosso coração a pauta da preservação, do cuidado com a biodiversidade, da requalificação dos nossos ecossistemas. Mas, entendemos que meio ambiente não é só o meio natural, envolve também o cultural e o urbano. Então, pautas como o saneamento básico, coleta de resíduos, mobilidade urbana, direito à cidade, geração de emprego e renda, saúde pública, opressões, tudo isso também entra na pauta ambiental”, afirma o biólogo.

Com mais de 200 propostas apresentadas, Gabriel busca um mandato alinhado com o século XXI e com a Crise Climática enfrentada no mundo e em Fortaleza. Ainda durante a campanha, baseou a propaganda em atividades de rua e mutirões de limpeza das praias que tanto chamavam a atenção para o tratamento dos resíduos sólidos na cidade como destacavam o discurso político voltado a demonstrar que é possível promover uma campanha sem produzir mais problemas ambientais na cidade.

“Ele não imprimiu panfletos e as estratégias de campanha dele era ir para o sinal conversar, organizar limpezas nas praias junto com os apoiadores. Foi uma campanha que coletou lixo ao invés de produzir mais lixo. Isso é massa!”, destacou o também biólogo Thieres Pinto, elogiando o colega de profissão e vereador eleito.

Maristela Crispim, fundadora, gestora e editora geral da Eco Nordeste ressalta ainda que Gabriel pode ser considerado o primeiro vereador “verdadeiramente ecológico” eleito em Fortaleza. Sobre o mandato coletivo “Nossa cara”, ainda destaca que as três mulheres envolvidas estão levando para a Câmara bandeiras que “nem mesmo os progressistas carregavam com tanto afinco”. E finaliza: “É algo verdadeiramente novo e bem interessante no parlamento municipal do Ceará”.

Quer a apoiar a Eco Nordeste?

Seja um apoiador mensal ou assine nossa newsletter abaixo: