Consórcios de Algodão Agroecológico se desenvolvem em diversos territórios

Gerar renda para mais de duas mil famílias agricultoras que estão plantando algodão em consórcio com outras culturas em sete territórios de seis estados no Semiárido Nordestino. Essa é a proposta do “Projeto Algodão em Consórcios Agroecológicos”, iniciativa coordenada pela Diaconia. Esta é a quinta parte de uma série especial da Agência Eco Nordeste com histórias inspiradoras de Convivência com o Semiárido, colhidas durante o 6º Seminário Internacional de Convivência com o Semiárido, do Centro Xingó / IABS, em Piranhas (AL).

Por Maristela Crispim
Editora

Gerar renda para mais de duas mil famílias agricultoras que estão plantando algodão em consórcio com outras culturas em sete territórios de seis estados no Semiárido brasileiro é a proposta do “Projeto Algodão em Consórcios Agroecológicos” | Foto: Diaconia

Piranhas – AL. O Centro Xingó de Convivência com o Semiárido encerrou novembro e iniciou dezembro entre o 6º Seminário e o 5º Curso Internacional de Convivência com o Semiárido. Uma das muitas histórias de inspiração contadas por esses dias foi a do Projeto Algodão em Consórcios Agroecológicos, resultado da parceria da Diaconia com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Algodão e a Universidade Federal de Sergipe (UFS) – Campus Sertão – Nossa Senhora da Glória; com o apoio técnico e financeiro do Instituto C&A.

Presente no Seminário, Fábio Aquino, da Embrapa Algodão, destacou que não foi o bicudo sozinho que acabou com a riqueza gerada pelo algodão no Brasil, mas processos comerciais. Por outro lado, falou sobre o desafio da produção da agroecológica com o policultivo em faixas envolvendo culturas como milho, sorgo, feijão e gergelim, com escalonamento da mão de obra na colheita. Destacou também a importância de agregar valor ao produto pela formação do Organismo Participativos de Avaliação da Conformidade Orgânica (Opac).

Gerar renda para mais de duas mil famílias agricultoras que estão plantando algodão em consórcio com outras culturas em sete territórios de seis estados no Semiárido brasileiro é a proposta do “Projeto Algodão em Consórcios Agroecológicos”, com duração de dois anos, de agosto de 2018 a agosto de 2020.

Territórios

  • Alto Sertão Alagoano
  • Alto Sertão Sergipano
  • Sertão do Pajeú
  • Sertão do Araripe
  • Sertão do Apodi
  • Cariri Paraibano
  • Serra da Capivara

O Algodão em Consórcios Agroecológicos já comemora a estimativa de produção de mais de 70 toneladas de pluma orgânica e em transição somente no primeiro ano de atividades, juntamente com 127 toneladas de feijão, 242 de milho e 23 de gergelim. O projeto está distribuído em alguns eixos estruturais.

Fortalecimento dos OPACs

Os OPACs são associações habilitadas a conferir o Selo Orgânico Brasileiro aos produtos produzidos pelos consórcios. Isso aproxima as famílias agricultoras do comércio justo e do mercado orgânico, além de garantir a segurança alimentar e nutricional delas. Em Sergipe e Alagoas, as ONGs estão trabalhando para a criação dos OPACs. Por enquanto, esses territórios estão relacionados ao OPAC da Serra da Capivara (PI).

OPACs formalizados

  • Associação dos Produtores Agroecológicos do Semiárido Piauiense (Apaspi/PI)
  • Associação Agroecológica do Pajeú (Asap/PE)
  • Associação de Certificação Orgânica Participativa do Sertão do Apodi (Acopasa/RN)
  • Associação de Agricultores e Agricultoras Agroecológicos do Araripe (Ecoararipe/PE)
  • Associação Agroecológica de Certificação Participativa do Cariri Paraibano (Acepac/PB)

Além desses organismos, a Diaconia estabeleceu parcerias com ONGs locais com experiência em Agroecologia que são responsáveis pelo assessoramento técnico para fortalecer os OPACs e a produção agroecológica. No Sertão do Piauí, a Cáritas Diocesana de São Raimundo Nonato desenvolve as atividades na Serra da Capivara. No Sertão do Cariri, na Paraíba, o trabalho está sendo realizado pela Arribaçã. No Sertão do Araripe, em Pernambuco, as ONGs Caatinga e Chapada assumiram conjuntamente as ações do projeto. As atividades no Alto Sertão de Alagoas e no Alto Sertão de Sergipe estão a cargo do Instituto Palmas e do Centro Dom José Brandão de Castro, respectivamente.

Protagonismo Feminino

Uma das linhas de atuação da Diaconia é promover a Justiça de Gênero. Dentro do conceito da equidade, o projeto tem a preocupação de desenvolver uma abordagem de Gênero pelo qual mulheres e homens podem se envolver em qualquer tipo de atividade, principalmente no campo, como forma de atingir justiça social e diminuir as desigualdades.

Construção e disseminação de Conhecimento

Em todos os territórios de atuação do projeto, a Embrapa Algodão está realizando pesquisas, condução das formações técnicas para os agricultores e agricultoras. A entidade implantou uma Unidade de Aprendizagem e Pesquisas (UAP) em cada território para capacitar o público envolvido no cultivo do algodão. Elas servem de referência, um local de encontro para as formações. Tudo com o objetivo de aumentar a produtividade e desenvolver as tecnologias para poupar a mão de obra no plantio, manejo e colheita.

À Universidade Federal de Sergipe (UFS), cabe estudar meios para agregar valor às culturas no tocante ao processamento dos produtos do consórcio (feijão, milho e gergelim). A universidade também está envolvida na formação do OPAC no estado de Sergipe.

Fundo de Incentivo Produtivo e Ambiental

Para inserir a produção ao comércio justo e ao mercado de orgânicos, as famílias precisam ter uma infraestrutura adequada que garanta a qualidade dos produtos, além da certificação conferida pelos OPACs da Serra da Capivara, Sertão do Araripe e Alto Sertão Sergipano.

Pensando nisso, o projeto criou o Fundo de Incentivo Produtivo e Ambiental (Fipa), uma ferramenta que permite enfrentar as principais barreiras entre os OPACs e o concorrido mercado, a exemplo da infraestrutura para beneficiamento, logística, armazenamento e capital de giro.

A ferramenta servirá de ponte para viabilizar a entrada qualificada dos produtos no mercado e superar as principais dificuldades evitando que a produção termine no mercado informal.

O Fipa futuramente será suprido com recursos gerados a partir do Fundo de Incentivo à Autonomia Financeira (FIAF) que será alimentado pela doação de uma pequena fração da comercialização dos produtos com valor agregado pela certificação orgânica.

Produção e Comercialização

A produção do algodão agroecológico, durante esses dois anos de atuação já está com a venda garantida. As empresas Vert Shoes, da França, e a Organic Cotton Colours, da Espanha, que apoiam e incentivam a cultura do algodão orgânico e o mercado da moda sustentável no mundo, assinaram com os OPACs e cooperativas acordos que garantem a compra do que for produzido no campo.

Em números, o valor do quilo da pluma orgânica certificada sai a R$ 12,57, enquanto a pluma em processo de certificação será comprada por R$ 11,43, ambas com os valores dos impostos (ICMS) já inclusos. Os OPACs ainda recebem um prêmio social no valor de R$ 1,00 por cada quilo vendido pelas famílias. O recurso é destinado para aquisição de insumos e equipamentos a serem usados coletivamente no âmbito de fortalecimento dos OPACs.

A produção do algodão agroecológico, durante esses dois anos de atuação já está com a venda garantida | Foto: Diaconia

O projeto Algodão Agroecológico em Consórcios entra, em 2020, para a sua terceira etapa, com perspectivas de ampliação, segundo Waneska Bonfim, da Diaconia, que trabalha certificação orgânica participativa e acesso a mercados, envolvendo 1.227 famílias.

No Alto Sertão Sergipano, por exemplo, o Centro Dom José Brandão de Castro desenvolve o projeto há 14 meses, com a participação de 137 famílias, em seis municípios, com 17 grupos, duas áreas coletivas e 129 individuais. Segundo Bayne Ribeiro, a formação técnica de produtores e multiplicadores se dá pela experimentação com base em objetivos e ações. Já Ana Cristina Accioly, do Instituto Palmares, informa que, no Alto Sertão Alagoano, são 76 famílias, de oito comunidades, em sete municípios.

Centro Xingó

O Centro Xingó de Convivência com o Semiárido tem como objetivo a geração e difusão do conhecimento, a partir do contexto histórico e cultural local. A expectativa é valorizar a troca de saberes, as práticas e experiências inovadoras para a promoção da convivência com o semiárido de forma sustentável, contribuindo com os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS).

Objetivos temáticos

INCLUSÃO PRODUTIVA – Promover a produção local e sua inclusão em cadeias de valor para geração de trabalho e renda, além de segurança alimentar para as comunidades locais.
TECNOLOGIAS SOCIAIS – Conhecer, aperfeiçoar e disseminar práticas e tecnologias sociais que aproveitem as potencialidades locais e promovam o bem-estar da população.
MEIO AMBIENTE – Gerar e disseminar técnicas e conhecimentos que promovam a adaptação às mudanças climáticas e a conservação e uso sustentável da caatinga e demais ecossistemas da região.
HISTÓRIA, CULTURA E PROTAGONISMO SOCIAL – Resgatar e valorizar a identidade sociocultural e história local, propiciando a troca de saberes e empoderamento do povo sertanejo, principalmente de mulheres e jovens.

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