Fernando de Noronha – PE. Dividindo espaço e alimento com animais nativos de Fernando de Noronha desde a década de 60, o teju agora pode não ser mais o único lagarto introduzido na ilha que passou a integrar a lista de espécies invasoras. Enquanto faziam o monitoramento de golfinhos, biólogos da equipe do Projeto Golfinho Rotador registraram uma lagartixa até então restrita ao continente. Um resumo dessa descoberta foi apresentado no 23º Congresso Brasileiro de Zoologia, realizado no mês de março de 2020, em Águas de Lindóia (SP).
O lagarto estava no Mirante da Baía dos Golfinhos, dentro da área do Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha. Pertence ao gênero Tropidurus. Na classificação dos seres vivos, o nome de cada animal tem pelo menos duas palavras. A primeira é relativa ao gênero e a segunda, à espécie. Um gênero pode ter várias espécies. No caso do Tropidurus, há pelo menos 30, todos na América do Sul. Os biólogos do Projeto Golfinho Rotador ainda não sabem à qual espécie pertence o novo lagarto de Fernando de Noronha.
Os lagartos do gênero Tropidurus são encontrados em áreas abertas, verdes, em rochas e construções civis. Alimentam-se de artrópodes, grupo integrado, entre outros animais, por insetos e aracnídeos. São ativos no período mais quente do dia.
O registro do lagarto ocorreu no dia 11 de janeiro de 2019. A bióloga Lisandra Maria de Lima Silva Bezerra fez fotos e vídeos. “Não houve captura, apenas observação do comportamento, que ocorreu entre 14h34 e 16h”, detalha Lisandra.
O lagarto alternou seu comportamento entre se expor ao sol e se deslocar em zig-zag. O Tropidurus dividia espaço com mabuias, lagartixa endêmica de Fernando de Noronha, mas sem manterem contato físico.
Este é o único registro de Tropidurus em Fernando de Noronha até o presente momento, no entanto, sabe-se que a introdução deste lagarto no Arquipélago pode trazer grandes impactos sobre a fauna local, principalmente a mabuia, com a qual pode competir por alimento e habitat.
“O registro de mais um animal exótico em Fernando de Noronha é de extrema preocupação e reforça a necessidade de fiscalização nos pontos de chegada de pessoas e mercadorias à ilha, como aeroporto e navios cargueiros que descarregam no Porto”, alerta Lisandra.
Mabuia
A mabuia, lagarto encontrado apenas em Fernando de Noronha, é cientificamente denominada Trachylepis atlantica e evoluiu na ilha sem a presença de predadores naturais, como serpentes ou aves de rapina. Apesar de abundante, a espécie vem sofrendo uma predação cada vez maior nos últimos anos.
Animais introduzidos pelo ser humano, como os ratos, gatos domésticos e tejus, se alimentam do pequeno réptil. O simpático lagarto tem comportamento curioso, aproxima-se das pessoas e é frequentemente encontrado dentro de bolsas e sacolas de turistas. Ocupa quase todos os nichos, morando em áreas com pedras, areia, árvores e construções. São animais onívoros, se alimentam de tudo que conseguem manipular.
Teju
Maior lagarto das Américas, o teju foi introduzido na década de 60 para controlar a população de ratos e de sapos. De hábitos diurnos, no entanto, passou a se alimentar das mabuias, além de aves e caranguejos. Assim, mesmo sendo nativo do Brasil, tornou-se uma espécie invasora em Noronha.
Sendo onívoro e tendo uma população estimada em 2004 em 8 mil indivíduos, come grande quantidade de frutas, espalhando pela ilha sementes de frutíferas exóticas (que não são originárias de Noronha).
A elaboração de trabalhos científicos como o registro do novo lagarto em Noronha, bem como atividades na área de Educação Ambiental, envolvimento comunitário e sustentabilidade realizados desde 1990 pelo Projeto Golfinho Rotador, têm patrocínio da Petrobras, por meio do Programa Petrobras Socioambiental.