A nova vida de assentados da Transposição do São Francisco

Na Vila Produtiva Rural Irapuá I, a vida segue ritmo próprio. Algumas casas já foram reformadas e, aos poucos, as famílias vão investindo na criação de animais e em pequenos plantios. FOTO: Maristela Crispim

 

A vida segue ritmo próprio nas vilas produtivas onde foram reassentadas famílias deslocadas pelas obras da Transposição das Águas do Rio São Francisco 

 

Maristela Crispim*

São José de Piranhas. Na quarta matéria na região de Sousa (PB), encontramos Damião Ferreira Fernandes, 28. Ele pertence a uma família de agricultores que há dois anos e oito meses vive na Vila Produtiva Rural Irapuá I com outros 31 reassentados pelo Projeto de Integração do Rio São Francisco com Bacias Hidrográficas do Nordeste Setentrional (Pisf).

Segundo Damião, são 256 famílias reassentadas pela Transposição na Paraíba, em quatro vilas produtivas. Para ele, os pontos positivos ganham dos negativos no balanço geral da mudança. Mas, apesar de a vida ser melhor na nova morada, destaca que as terras não são melhores que as anteriores, mas que isso varia de vila para vila.

Ele conta que a assistência técnica foi bem importante na transição e que a situação econômica das famílias melhorou, embora também haja uma variação de caso a caso. Eles deixaram as casas em 2012 e foram reassentados em 2016. Enquanto não recebiam as casas, tiveram uma ajuda de custo mensal de R$ 1.200.

Maria Zélia e Damião cuidam das cabras no quintal produtivo. FOTO: Maristela Crispim

As casas entregues têm três quartos, banheiro, cozinha e sala. Algumas já foram reformadas e ampliadas. Elas não possuem cisternas, pois têm água encanada a partir da Barragem Boa Vista, conta Maria Zélia Ferreira Fernandes, 62, mãe de Damião, que planta hortaliças, cria galinhas, cabras e já está constituindo um pomar de frutíferas em seu quintal produtivo.

Numa localidade da Barragem Morros, visitamos algumas ruínas de imóveis desapropriados por segurança, inclusive uma escola. FOTO: Maristela Crispim

Numa localidade da Barragem Morros, visitamos algumas ruínas de imóveis desapropriados por segurança, inclusive uma escola. Não muito distante dali está o Túnel Cuncas I, um dos seis do Eixo Norte da Transposição do São Francisco. Maior do Projeto e o maior para transporte de água da América Latina, tem 15 quilômetros de extensão, 9 metros de altura e de largura. Interliga São José de Piranhas (Paraíba) a Mauriti (Ceará). Seu objetivo é dar vazão a 83 mil litros d’água por segundo.

Túnel Cuncas I é o maior para transporte de água da América Latina, tem 15 quilômetros de extensão e interliga São José de Piranhas (Paraíba) a Mauriti (Ceará). FOTO: Maristela Crispim

O Projeto São Francisco

Segundo o informações do Ministério da Integração Nacional, o Eixo Leste do Projeto de Integração do Rio São Francisco , inaugurado em março de 2017, vem, desde então, garantindo o abastecimento de água a um milhão de pessoas em 35 municípios nos estados de Pernambuco e da Paraíba.

Já o Eixo Norte está na fase final, com mais de 97% das obras concluídas. Todas as grandes estruturas para condução da água aos estados beneficiados estão prontas – estações elevatórias, túneis, aquedutos etc. Os serviços remanescentes contam com turnos 24 horas para garantir o cronograma de entrega até o fim deste ano.

O Eixo Norte da Transposição está na fase final, com mais de 97% das obras concluídas. FOTO: Maristela Crispim

Ainda sobre o Eixo Norte, as águas do Rio São Francisco já avançam por 80 quilômetros de canais e outras estruturas – desde a captação, em Cabrobó (PE), até a terceira estação de bombeamento (EBI-3), em Salgueiro (PE). Desde novembro de 2017, o eixo vem atendendo mais de 12 mil moradores em comunidades rurais nos municípios pernambucanos de Cabrobó e Terra Nova.

Quanto à conclusão do empreendimento, é importante destacar que cabe ao Governo Federal entregar a água do São Francisco aos pontos de captação inicialmente previstos nos quatro estados beneficiários. Já os governos estaduais têm a prerrogativa de estudar e implementar intervenções necessárias para levar o recurso hídrico aos municípios e às torneiras das casas da população.

Potencial de atendimento

A Barragem Boa Vista é uma das que integra o Eixo Norte da Transposição das Águas do Rio São Francisco, localizada em São José de Piranhas (PB). FOTO: Maristela Crispim

O Eixo Leste foi projetado para levar água para aproximadamente 4,5 milhões de pessoas, em 168 municípios em Pernambuco e na Paraíba. Já o Eixo Norte, tem potencial para beneficiar 7,1 milhões de habitantes em 223 municípios, nos estados de Pernambuco, da Paraíba, do Rio Grande do Norte e Ceará. Destes, inclusive, mais de quatro milhões de moradores somente na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF).

* A jornalista viajou à Paraíba a convite da Inter Press Service – News Agency (IPS)

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