O objetivo do curso é contribuir para o reflorestamento e orientar a comunidade sobre a importância da recuperação das árvores para garantir a renda das famílias, a continuidade da atividade econômica e o extrativismo sustentável | Foto: Geo Brasil

 

O pequi é fonte de renda para muitas famílias do Cariri cearense. O fruto faz parte da tradição culinária da região. É fonte de vitaminas, tem efeito terapêutico e ainda pode ser utilizado na produção de cosméticos. A ação do ser humano, porém, afeta o surgimento de novas árvores, e a população de pequizeiros da região está diminuindo.

Com o objetivo de contribuir para o reflorestamento e orientar a comunidade sobre a importância da recuperação das árvores para garantir a renda das famílias, a continuidade da atividade econômica e o extrativismo sustentável, a comunidade de extrativistas de pequi do Sítio Cruzeiro, no distrito de Santa Fé, no Crato, recebe, até o dia 4 de maio, um curso de produção de mudas da planta. A capacitação é promovida pelo campus de Crato do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE), em parceria com a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Agrário e Recursos Hídricos (SMDARH).

Coordenadora do curso, a professora Francinilda Araújo explica que o crescimento natural dos pequizeiros está prejudicado: “Muitos estão envelhecendo e não estão sendo repostos. Há ainda a ocupação desordenada da Área de Proteção Ambiental (APA), que impede a dispersão natural do pequizeiro, feita pelos animais. O pequi é uma árvore protegida por lei e mesmo assim a gente percebe, pelos relatos dos extrativistas, que tem diminuído cada vez mais”.

A ideia é de fazer uma transição do extrativismo para uma cultura domesticada, aprimorando e adaptando técnicas de produção de mudas para que esse processo seja feito mais rapidamente | Foto: Geo Brasil

A pesquisa que deu origem à capacitação é coordenada pelo professor Ademar Parente. O objetivo é transformar a cultura extrativista do pequi em uma cultura domesticada, aprimorando e adaptando técnicas de produção de mudas para que esse processo seja feito mais rapidamente. O projeto segue o exemplo de estados como Goiás e Minas Gerais, onde a cadeia produtiva do pequi já é mais fortalecida.

O caminho a seguir ainda é longo, mas o pesquisador tem boas expectativas: “Em vez de colher pequi só uma vez por ano, o agricultor poderá dizer quando quer fazer a colheita. Por exemplo, podemos induzir a floração e ter duas colheitas ao ano”, explica Parente. Agora, a pesquisa busca estabilizar o processo de enxertia: a união de tecidos de duas plantas diferentes, que continuam o crescimento como uma única planta. O processo acelera o crescimento da muda e facilita a propagação.

Uma das técnicas aperfeiçoadas pela pesquisa, por exemplo, é a de quebra da dormência, ou seja, a abertura do fruto e a retirada da semente de forma manual. Os pesquisadores do IFCE aprimoraram a técnica de abertura para que seja feita de forma caseira, com instrumentos adaptados e de baixo custo, barateando a produção das mudas. Com a quebra e o uso de hormônios de indução, eles já conseguem fazer com que a germinação aconteça entre 10 e 60 dias do plantio. Quando não há interferência humana, é preciso esperar cerca de um ano para que haja a decomposição natural das camadas do fruto e a semente germine. É essa técnica que está sendo ensinada aos extrativistas.

O estudante de Zootecnia Jouynbert Rodrigues é bolsista no projeto de pesquisa e monitor no curso de capacitação ofertado para a comunidade. Ele repassa para os extrativistas a técnica que ajudou a desenvolver, com o professor Ademar, durante a pesquisa: “Esse trabalho é uma forma de expandir o conhecimento que a instituição proporciona para a gente, como aluno. A nossa participação é importante para buscar formas de contribuir para o Desenvolvimento Sustentável, além de iniciar na pesquisa, seja básica ou aplicada, buscando alternativas de simplificar para o pequeno produtor. Com exceção do hormônio de crescimento, todo o material de produção o agricultor tem em casa”, conta ele, que participa da pesquisa há dois anos.

Moradora da Baixa do Maracujá, dona Gorete trabalha há dez anos com a venda do pequi a produção do óleo do fruto, que garantem renda para a família. “Esse curso é muito bom, porque é uma forma de aprender a fazer a muda do pequi mais rápido. Do jeito que eu fazia, demorava um ano, um ano e meio para crescer. Com certeza vou colocar em prática o que aprendi na Chapada toda, não só no meu terreno”.

Rede de projetos

A pesquisa do professor Ademar Parente e a capacitação dos extrativistas fazem parte de uma rede de projetos ligados ao pequi e desenvolvidos pelo campus de Crato do IFCE, em parceria com outras instituições do Cariri, como a SMDARH e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). A ideia é implantar uma usina de processamento do fruto na zona rural do Crato, para produzir polpa e óleo de melhor qualidade, agregando valor aos produtos e fortalecendo a cadeia produtiva do pequi na região.

1 Comentário
  1. Bom dia gostaria de receber mais informações sobre esse nova técnica para se fazer mudas de pequi, já estou com algumas sementes em preparação, más vi que podemos tentar acelerar esse processo.

    ATT. VALÉRIA

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