Segundo o Lapis, no Nordeste, a tendência é predominar chuvas acima da média na região, inclusive no Semiárido brasileiro, especialmente na pré-estação | Foto: Maristela Crispim

Maceió – AL. Desde julho de 2019, o El Niño, fenômeno oceânico-atmosférico que tanto influencia o clima no Planeta, esteve ausente, permitindo que outros sistemas influenciassem o clima no Brasil. No momento, as suas condições de neutralidade  continuam sólidas no Pacífico equatorial, favorecendo as chuvas.

O meteorologista Humberto Barbosa, coordenador do Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélites (Lapis), ligado à Universidade Federal de Alagoas (Ufal), em entrevista ao blog Letras Ambientais, explicou, em dezembro ainda, a situação dos oceanos Pacífico e Atlântico, sua influência nas condições climáticas do Brasil até março. Também destacou outros sistemas atmosféricos que impactam nas chuvas e temperaturas, nas regiões brasileiras.

Atualização do El Niño

Regiões do Pacífico equatorial | Imagem: NOAA

Diversos pontos têm sido favoráveis às condições de neutralidade do El Niño, no Pacífico equatorial, tanto do ponto de vista da temperatura das águas da superfície do Oceano quanto da resposta da atmosfera, e ainda do comportamento dos ventos alísios.

Em geral, em todo o Pacífico tropical, ao longo do Equador, as temperaturas da superfície do oceano estão quase nulas, bem próximas à média histórica.

Além da temperatura neutra da superfície do mar, existem outros fatores que favorecem a ausência do El Niño Oscilação Sul, como o comportamento “neutro” da atmosfera e a velocidade dos ventos alísios do Pacífico, que também estão em torno da média.

Quando se forma um El Niño, não é apenas uma corrente marítima quente que se desloca no Pacífico. Há também um aquecimento anormal do sistema oceano-atmosférico, na zona tropical daquele Oceano.

Ou seja, para se configurar o fenômeno El Niño, consideram-se não só as águas, mas as mudanças atmosféricas próximas à superfície ao Oceano. Os ventos alísios também se tornam mais fracos naquela área.

Já quando ocorre um evento de La Niña, a velocidade dos ventos alísios aumenta, empurrando as massas de águas superficiais e quentes para o oeste do Pacífico. Como consequência, desencadeia-se uma quantidade maior de águas frias expostas na região oriental do Pacífico.

Tais cenários de El Niño ou de La Niña não se observam, nesse momento, no Pacífico equatorial. Pelo contrário, oceano, atmosfera e ventos alísios, naquela região, apresentam comportamentos que indicam neutralidade. E a tendência é de que permaneçam assim por vários meses.

Analistas do Centro de Previsão Climática (CPC), da Administração Oceânica e Atmosférica Nacional dos Estados Unidos (NOAA), estimam haver 70% de chance de as condições neutras durarem até o verão e 65% de chance de continuarem no outono.

É claro que temperaturas levemente acima da média, no Oceano Pacífico, são uma das razões pelas quais não podemos descartar um El Niño. Porém, a chance é de apenas 25 a 30% de o fenômeno se configurar, durante o outono. Ou seja, a possibilidade de continuação da neutralidade climática continua bem maior do que haver a formação de um El Niño.

Por causa da condição neutra no Oceano Pacífico, outros padrões climáticos estarão em jogo, neste verão 2020, e as precipitações acabam ocorrendo devido aos efeitos locais/regionais.

No Brasil, tem mais importância agora a temperatura das águas do Oceano Atlântico Sul, que banha toda a costa leste do País. É a principal influência a definir o padrão de chuvas e temperaturas das regiões brasileiras, durante este verão. Mas outros sistemas atmosféricos também atuarão no aumento das precipitações, em algumas regiões, conforme explicaremos a seguir

Fenômenos que influenciam o clima brasileiro

Temperatura dos oceanos em fevereiro de 2020

Com a neutralidade do El Niño no Oceano Pacífico, durante o verão, as chuvas nas regiões brasileiras são influenciadas por outros fenômenos climáticos e oceânicos.

Em primeiro lugar, destaca-se a previsão da temperatura do Oceano Atlântico Sul, que comanda as condições climáticas nas regiões brasileiras, na ausência de um El Niño.

Modelos climáticos indicam que as águas do Atlântico Sul ficam aquecidas, no período de janeiro a março. Com isso, a formação e o transporte de umidade irão favorecer o aumento das chuvas na região Nordeste.

Outros fenômenos atmosféricos também estão presentes, influenciando, de diferentes formas, o clima nas regiões brasileiras. É o caso da Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS), um dos principais sistemas meteorológicos do verão no Brasil. É um corredor de umidade que se desloca da Amazônia para o Sudeste, influenciando grande parte do total de chuvas nos estados do Centro-Oeste e do Sudeste.

A Alta da Bolívia também se forma, a partir de janeiro, trazendo chuvas acima da média para o Nordeste brasileiro. O fenômeno, que ocorre próximo à Bolívia, favorece a configuração de Vórtices Ciclônicos de Altos Níveis (VCANs) e de cavados, tanto em áreas do Semiárido brasileiro quanto do Litoral do Nordeste.

Segundo o meteorologista Humberto Barbosa, do Lapis, ainda em dezembro, embora os VCANs sejam difíceis de se prever, certamente eles irão influenciar o clima do Nordeste, nos próximos meses, podendo trazer chuvas intensas para a região.

Isto ocorre especialmente pelo fato de a Alta da Bolívia, que provoca VCANs e cavados sobre áreas do Nordeste, ocorrer simultaneamente com o sistema ZCAS, que atua sobre o Centro-Oeste e o Sudeste do Brasil.

Essa combinação da Alta da Bolívia e da ZCAS, durante o verão, potencializa a formação de corredores de umidade, favorecendo chuvas em algumas regiões brasileiras. Agora em janeiro, o meteorologista declarou, à Eco Nordeste, que as previsões estão se confirmando.

Como mostrado na ilustração acima, a partir de fevereiro, vai ocorrer a fase negativa do Dipolo do Atlântico. Isto significa que o Atlântico Sul ficará mais quente do que o Atlântico Norte, na costa norte do Brasil. Quando isso ocorre, a Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) tende a descer mais, provocando mais chuvas no norte do Nordeste e no norte da região Norte.

A ZCIT é um dos principais corredores de umidade que beneficiam a maior parte das chuvas, em grande parte da região Nordeste e no norte da Amazônia brasileira.

Previsão climática para regiões brasileiras

Previsão climática para janeiro de 2020 | Fonte: Lapis / Dados: ECMWF

 

 

Previsão climática para fevereiro de 2020 | Fonte: Lapis / Dados: ECMWF

O cenário climático esperado para o verão 2020 terá impactos diferentes em cada região do País, desde a mudança no regime de chuvas até as variações de temperatura. A previsão climática foi feita pelos meteorologistas do Lapis, que utilizaram o modelo europeu do European Centre for Medium-Range Weather Forecasting (ECMWF), sediado na Inglaterra.

Nordeste

De modo geral, a tendência é de ocorrerem chuvas volumosas na maior parte do Brasil, neste verão 2020. Segundo o Lapis, no Nordeste, a tendência é predominar chuvas acima da média na região, inclusive no Semiárido brasileiro, especialmente na pré-estação, ou seja, ainda em janeiro.

Com a temperatura da água do Atlântico Sul favorável, aproximando a ZCIT do Brasil, haverá chuvas intensas na região, principalmente em fevereiro. Destaca-se, inclusive, que o aumento das chuvas em função da atuação dos VCANs e cavados.

O meteorologista Humberto Barbosa recomenda o plantio de culturas agrícolas rápidas, aproveitando as chuvas já em janeiro, na pré-estação chuvosa do Nordeste.

As temperaturas previstas são normais, no interior do Nordeste, e acima da média, no Litoral, da Paraíba à Bahia. É possível que a ZCAS aumente o volume de chuvas sobre o estado baiano.

Matéria editada e atualizada a partir da original, publicada no blog Letras Ambientais:

Verão 2020 será mais chuvoso em algumas regiões brasileiras

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