Em novo ataque a tiros, dois caciques Guajajara são mortos no Maranhão

Por Elaíza Farias
Da Amazônia Real

Após o ataque, os indígenas Guajajara iniciaram um protesto na rodovia BR-266 no início da tarde deste sábado | Foto: Magno Guajajara

Jenipapo dos Vieiras – MA. Um grupo de indígenas do Povo Guajajara foi atacado a tiros de revólver, por volta das 12h40 (horário de Brasília) deste sábado (7), enquanto percorria em motocicletas um trecho da Rodovia BR-266 próximo à Aldeia El Betel, na Terra Indígena Cana Brava, no município de Jenipapo dos Vieiras, no Maranhão. Este é o segundo ataque a tiros contra indígenas Guajajara em menos de dois meses.

No ataque morreram dois caciques: Firmino Praxete Guajajara, 43, da Aldeia Silvino (TI Cana Brava), atingido por quatro disparos; e Raimundo Belnício Guajajara, da Terra Indígena Lagoa Comprida. O indígena Nelsi Olímpio Guajajara levou um tiro na perna e escapou com vida, segundo informou a liderança Magno Guajajara à Agência Amazônia Real.

O outro indígena ferido é Raimundo Guajajara, da Aldeia Descendência Severino, também da TI Lagoa Comprida. Os dois feridos estão sendo atendidos no hospital do município de Barra do Corda, vizinho de Jenipapo dos Vieiras. Não há informações sobre quem são os criminosos. Segundo as testemunhas, os atiradores estavam dentro de um veículo Gol branco quando começaram a disparar contra os indígenas.

Após o ataque, os indígenas Guajajara iniciaram um protesto na Rodovia BR-266 no início da tarde deste sábado, impedindo o acesso ​de veículos à rodovia. “O clima está tenso aqui”, revelou Magno Guajajara.

No dia 1º de novembro, o guardião da floresta Paulo Paulino Guajajara, 26, foi assassinado em um ataque de madeireiros na Terra Indígena Arariboia. O indígena Laércio Guajajara ficou ferido. Ele e mais dois guardiões da floresta ingressaram no Programa de Proteção à Testemunha devido às ameaças que sofrem no território. Os Guardiões da Floresta são defensores e atuam monitorando e combatendo a exploração ilegal de madeira nas terras indígenas do Maranhão.

No ataque de novembro também morreu, segundo a Polícia Federal, durante um confronto com os indígenas, o madeireiro Márcio Greyck Pereira. As circunstâncias dos crimes estão sendo investigadas pela polícia.

Os assassinatos de indígenas Guajajara acontecem no momento em que a coordenadora-executiva da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), Sonia Guajajara, está participando de protestos internacionais denunciando a situação de ausência de poder público e invasão para exploração de madeira nos territórios indígenas brasileiros.

“Mais dois parentes Guajajaras foram assassinados hoje no Maranhão. Basta de vítimas, não queremos mártires, queremos vozes vivas! Toda solidariedade aos parentes da terra indígena Cana Brava”, declarou Sonia Guajajara, em sua conta no Twitter nesta tarde.

Caciques estavam em reunião

Segundo Magno Guajajara, os indígenas foram atacados quando voltavam de uma reunião na Aldeia Coquinho​, onde se encontraram com diretores da Eletronorte Energia.

Na reunião, da qual participaram 60 caciques e lideranças Guajajara, os indígenas discutiram temas sobre as compensações de obras de linhas de transmissão dentro território, segundo o coordenador da Fundação Nacional do Índio (Funai) no Maranhão, Guaraci Mendes.

“Estávamos tratando do assunto da Eletronorte. Ao finalizar a reunião​, os indígenas voltaram para casa de moto. Numa descida ​na ladeira, os parentes foram abordados e alvejados. Simplesmente atiraram nos parentes. No trajeto, baixaram o vidro e olharam​ para identificar se ​eram indígenas. Aceleraram e atiraram. Foi um tiro fatal. Ninguém sabe por que ocorreram esses disparos, essa violência, essa manifestação de ódio”, afirmou Magno Guajajara à Amazônia Real.

O servidor da Funai, Guaraci Mendes, contou à reportagem que já enviou equipes para o local e comunicou o caso à Polícia Militar do Maranhão e​ que aguardava mais informações. Ele também relatou como soube do atentado.

“Meu colega (da Funai) foi participar da reunião, mas depois vi que havia esquecido um documento. Pedi para o Magno entregar. Em dez minutos que ele sai, o Magno me liga: ‘Guaraci, acabaram de matar dois parentes. Tem dois baleados. A gente viu​ o carro, ele abriu fogo e fugiu’. Já mandamos as equipes e procuramos a Polícia e agora estamos aguardando mais informações”, disse Mendes.

O coordenador da Funai destacou que “apenas lideranças que estavam reunidas para tratar dos recursos da compensação com a Eletronorte. Era toda a cúpula, caciques e lideranças, da Terra Indígena Cana Brava. Parece que foi ação planejada”, afirmou Mendes.

(Colaboraram Izabel Santos, Kátia Brasil, Alberto César Araújo e Elvira Eliza França)

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