Monitoramento da poluição, descontinuado na pandemia, é essencial nas cidades

Por Taci Morais
Colaboradora

A Lagoa da Parangaba, em Fortaleza, como outros mananciais em zonas urbanas, sofre diversos impactos e pode representar riscos para usos por pessoas | Foto: Taci Morais

Fortaleza – CE. O meio ambiente, durante a pandemia, teve um respiro da emissão de gases na atmosfera, impactando positivamente inclusive em rios, açudes, lagoas e praias. Em Fortaleza, Região Metropolitana e interior do Ceará (Cariri e Sertão Central), as operações do “Programa de Combate à Fumaça Negra“, iniciadas em março de 2020, pela Superintendência Estadual do Meio Ambiente (Semace), não cessaram.

De acordo com relatório da autarquia, foram 404 veículos vistoriados, 27 multados e uma redução de 524 certificados de índices de fumaça emitidos pelo órgão. Por outro lado, não há registros do monitoramento da qualidade das águas das lagoas e rios de Fortaleza desde o início da pandemia. Procurada, a Secretaria Municipal de Urbanismo e Meio Ambiente (Seuma) não respondeu a equipe da Eco Nordeste a respeito. Já a balneabilidade das praias pela Semace tem sido divulgada semanalmente. Mas ficou interrompida entre 18 de março a 10 de setembro de 2020, período de isolamento social mais rígido durante a pandemia no Ceará.

Fiscalizar veículos é uma forma de controlar a emissão de poluentes de ônibus, caminhões e transportes alternativos movidos a diesel com a utilização da Escala de Ringelmann. Além de piorar a qualidade do ar, essa poluição impacta a qualidade da água em zonas perto do trajeto dos veículos. Por isso o monitoramento é de extrema importância para a qualidade de vida da população que habita ambientes urbanos.

O monitoramento fornece indicadores para as intervenções dos órgãos e setores que cuidam do meio ambiente

Para Rinaldo dos Santos Araújo, diretor de pesquisa e inovação e coordenador do Laboratório de Tecnologia Química, do campus de Fortaleza do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE), do ponto de vista atmosférico algumas substâncias despejadas ou os compostos formados durante o processo de degradação das águas, são responsáveis pela diminuição da qualidade do ar no entorno dos mananciais contaminados. Este é o fenômeno principal, embora, em períodos de chuva, alguns poluentes atmosféricos (gases industriais e automotivos, metais, sais) possam se combinar com a água e serem transportados para o solo e águas superficiais alterando negativamente os ecossistemas.

Entre os principais poluentes associados ao acúmulo de esgoto em mananciais e outras áreas urbanas, destacam-se os compostos amoniacais (amônias, aminas aromáticas, indois), os compostos sulfurados (ácido sulfídrico, mercaptanas, dissulfetos) comumente associados ao cheiro de ovo podre. Também merece destaque os chamados compostos orgânicos voláteis que incluem os hidrocarbonetos (fenóis, aldeídos, ácidos orgânicos, ésteres, organoclorados). Estes elementos químicos em geral se originam da decomposição anaeróbica matéria orgânica que compõe os resíduos descartados no meio ambiente.

As estratégias de monitoramento do ar e das águas permitem, em uma abordagem básica, identificar as espécies químicas e suas fontes, além de quantificar a carga de substâncias nocivas ao meio ambiente e às pessoas. Ainda fornece indicadores para as intervenções dos órgãos e setores que cuidam do meio ambiente, garantindo desenvolvimento sustentável ambientalmente seguro a partir da prevenção, do combate e da redução dos níveis das emissões poluentes.

A ausência do conhecimento dos indicadores físico-químicos (pH, oxigênio dissolvido, matéria orgânica) e biológicos (coliformes termotolerantes) expõe diretamente a população a riscos à saúde e os ecossistemas ficam bastante comprometidos. Há ainda um risco maior quando se considera a possibilidade de contaminação destas águas pelo lançamento de esgotos industriais que podem despejar nos mananciais uma diversidade de outros poluentes orgânicos e inorgânicos ainda mais tóxicos.

O acúmulo de substâncias poluentes devido à falta das rotinas de monitoramento e limpeza dos recursos hídricos leva à morte de peixes por conta da redução das capacidades de oxigenação e de depuração das águas. Muito comumente há a liberação de compostos de odor desagradável e aumenta-se a produção de poluentes orgânicos e inorgânicos. Neste caso, merecem destaque os compostos de fósforo, que podem levar à eutrofização do corpo d’água com crescimento excessivo de plantas aquáticas, o que traz sérios problemas à biodiversidade da área afetada, segundo as informações do pesquisador do IFCE.

Samara Freitas, que mora condomínio próximo à Lagoa da Maraponga, em Fortaleza, destaca que é muito importante preservar essas áreas verdes. Para ela, os órgãos responsáveis precisam fiscalizar as construções irregulares, respeitar a biodiversidade local e manter também a população que vive no em torno consciente e engajada. “É preciso ensinar a evitar depositar lixo nesses espaços, já que em períodos chuvosos são essas comunidades que sofrem mais com possíveis doenças e inundações”, destaca.

A Prefeitura de Fortaleza lançou, em janeiro passado, medidas para a quadra chuvosa de 2021, com ações de limpeza, drenagem, saúde e assistência social. O plano de contingência inclui estratégias que abrangem planejamento, monitoramento e integração entre órgãos municipais e estaduais.

De acordo com o prefeito José Sarto, além da limpeza e da desobstrução dos recursos hídricos com possibilidade de inundação, a população poderá contar com suporte e acolhimento em áreas seguras. A expectativa é dar continuidade ao cronograma de conservação e limpeza dos recursos hídricos (canais, lagoas e açudes) em bairros e Regionais da capital. Todo plano terá acompanhamento da Secretaria Municipal da Conservação e dos Serviços Públicos (SCSP), da Defesa Civil e das Regionais, dentre outros órgãos.

A Semace disponibiliza boletins semanais de balneabilidade de praias de Fortaleza e dos litorais leste e oeste do Ceará

Contudo, o pesquisador Rinaldo dos Santos alerta que, do ponto de vista da saúde, a exposição humana, seja por contato com o solo, atmosfera ou principalmente com água poluída destes ambientes degradados, em curto prazo, pode ocasionar problemas de pele (micoses), infecções respiratórias ou alterações do trato gastrointestinal.

As consequências à saúde podem variar de leves a muito preocupantes. Em geral, a população no entorno destas áreas deve evitar a ingestão da água e o uso ordinário em banho, lavagem de roupas, pesca ou lazer, entre outros. Por isso campanhas de educação ambiental e fiscalização são importantes instrumentos de minimização da disseminação de males ocasionados por esta forma de poluição.

Confira o último boletim de balneabilidade das praias disponibilizado pela Semace.

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