Por Adriana Pimentel
Colaboradora
O número de indígenas contagiados e mortos pelo novo coronavírus em todo o Brasil é alarmante. Além da subnotificação por parte dos órgãos de saúde do Governo Federal, o atendimento médico está quase colapsado, principalmente na Região Amazônica, onde tem o maior número de indígenas com a Covid-19 e também mortos pela doença. Segundo Alberto Terena, liderança indígena e integrante do Conselho do Povo Terena da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), a chegada da doença nas comunidades é avassaladora.
“Os ataques de madeireiros, garimpeiros, grileiros, entre outros invasores, vinham sufocando nossas comunidades e territórios indígenas. Mas agora, além da violência eles estão trazendo o vírus da morte consigo. A história vem mostrando que décadas após décadas as epidemias, como a varíola, o sarampo, a malária, a tuberculose vêm dizimando nossos povos. E agora é a vez da Covid-19 mostrar que o Governo Federal, responsável pela saúde indígena, tem um projeto de morte para os Povos Indígenas”, afirma a liderança indígena.
São incontáveis as violações dos direitos garantidos pela Constituição Federal aos Povos Indígenas, como as dificuldade impostas ao avanço dos processos de demarcação de terras, à segurança à vida, à qualidade de suas águas, plantações, entre outros. “O momento é muito difícil para nós, povo indígena, porque nada que o governo tem feito é favorável a nós. O projeto que ele já divulgou, ainda na campanha presidencial, era de ter nós como inimigos, e a cada dia tem se concretizando, essa questão do genocídio”, daclara Kretã Kaingang, da Coordenação Executiva da Apib/Sul, em entrevista exclusiva à Agência Eco Nordeste.
Uma alternativa é unir forças no combate à vulnerabilidade dos Povos Originários e buscar apoio, dentro e fora do País, para uma coalizão pela segurança sanitária e territorial. “A nossa alternativa é recorrer às organizações civis em nível nacional e internacional para tentarmos, em conjunto, frear e, se possível, barrar o vírus da morte em nosso território. Neste sentido, as organizações indígenas no Brasil, tal como a Apib, estão monitorando junto às comunidades indígenas os casos de contágio e de óbitos para denunciar para o mundo”, revela Alberto Terena.
A Apib está articulando um Plano de Ações, nos conta Kretã: “a gente fez a Assembléia Nacional dos Povos Indígenas, que foi para levantar as demandas da área de saúde, para gente criar um plano de ação da Apib para os povos indígenas. Esse plano vai ser lançado muito em breve e a nossa ideia é buscar parceiros internacionais que possam nos dar apoio, tanto político, quanto financeiro para que possamos estruturar a nossa saúde indígena porque, senão, a tendência para nós indígenas é que a situação fique bem mais complicada, assim que sair o Plano de Nacional de Ação da Apib sobre a questão de saúde e a Covid-19, vamos buscar parceiros internacionais”.
No ano passado, a Apib realizou a jornada “Sangue Indígena: Nenhuma Gota Mais”, que percorreu 12 países da Europa em 35 dias. Hoje, este contato segue ativo e lideranças indígenas que participaram dessa comitiva, como Sônia Guajajara, Alberto Terena, Kretã Kaingang e Elizeu Kaiowa, entre outros, cobram dos países um posicionamento mas firme contra todas as agressões sofridas pelos Povos Originários, e uma das cobranças é que não ratifiquem o acordo do Mercosul, porquê será o financiamento do genocídio dos Povos Indígenas.
Kretã Kaingang reforça a fala dele durante a jornada: “a responsabilidade pela Amazônia e todo o bioma dessa Região não pertence só a nós Povos Indígenas, porque nós estamos dando as nossa vidas para manter aquilo. Agora precisa que a Europa e o mundo entrem nessa luta pela a Amazônia, entrem na luta pelos Povos Indígenas, porque senão nós não vamos conseguir proteger por muito tempo a Amazônia”.
Na Região Centro-Oeste, em Mato Grosso do Sul, o cenário de contágios pela Covid-19 não é diferente do nacional, e a forma de proteger as comunidades também é a barreira sanitária, que não autoriza nenhum estranho entrar nas Terra Indígenas. Elizeu Kaiowa, liderança indígena da Região e membro da Grande Assembleia Guarani Kaiowá da Apib, ressalta que a burocracia é uma dificuldade a mais no recebimento de ajudas financeiras “para receber doações financeiras, o que dificulta a chegada desse apoio à nossa comunidade Guarani Kaiowá, é que os órgãos querem uma instituição para receber as doações e nós não temos e eles precisam prestar contas e tem que ser por uma empresa, e por conta disso muitas vezes isso não chega à nossa base”.
“Agora que chega o frio, aqui tem geada, e muitas crianças, mulheres nas comunidades, principalmente na minha aldeia, que é Kurusu Amba, que é retomada, e tem mais de 100 famílias, mais ou menos 400 pessoas, e todos precisam de cobertor, as crianças precisam de agasalho e não é só isso, o Auxílio Emergencial do governo muitos daqui não conseguem retirar porque, muitas vezes, tem algum documento irregular. Eu estou passando a realidade, por exemplo, eu mesmo tenho cinco crianças e a gente não está recebendo ajudas e com a pandemia a gente não tem como ir atrás de ajudas”, desabafa Elizeu Kaiowa.
Para doar
Nome: Elizeu Pereira Lopes Guarani kaiowa
Banco do Brasil – Agência 0743_9 – Conta corrente 55889_3
Nome: Sebastião Vilhalva Alegre
Banco do Brasil – Agência 0749-3 – Conta poupança 29.703-8
No Catarse há diversas campanhas
SOS ALDEIA PIRAÍ COVID-19 – Guardiões da Aldeia Piraí – Povo Guarani Mbyte
POVO MUNDURUKU CONTRA A COVID-19 – Associação Indígena Pariri e Wakoborun
NAÇÕES INDÍGENAS CONTRA COVID-19 – Povo Kuikuro
Aldeia Tekoa Itakupe – Terra Indígena Jaraguá/SP