Por Alice Sales
Colaboradora

Mergulhadores submergiram, nesse sábado (26), no mar da Praia de Canoa Quebrada, no Litoral Leste do Ceará, para a realização de uma vistoria em busca de resquícios de petróleo cru, mas não encontraram. Uma das grandes preocupações é a respeito dos danos que o contato direto com a substância pode causar à saúde humana. A Semace lançou um guia sobre como se proteger do óleo nas praias. O número de localidades afetadas desde o início de setembro já chega a 248, de 90 municípios. Os danos já prejudicaram ecossistemas de 14 Unidades de Conservação do País, segundo levantamento do ICMBio.

Mergulhadores vasculharam o fundo do mar em Canoa Quebrada neste sábado, mas não encontraram sinais do óleo

Aracati – CE. Mergulhadores submergiram, nesse sábado (26), no mar da Praia de Canoa Quebrada, situada no Litoral Leste do Ceará, para a realização de uma vistoria em busca de resquícios de petróleo cru em alto mar. A operação inédita foi coordenada pela Superintendência Estadual do Meio Ambiente (Semace) e contou com o apoio da Marinha do Brasil e de proprietários de barracas de praia locais.

A ação durou cerca de 5 horas. Oito mergulhadores participaram da operação, mergulhando em pontos com um raio de 300 m a 400 m, em uma profundidade de 7 m. De acordo com eles, não foi encontrado nenhum resquício ou mancha de óleo.

“Ao longo do tempo que passamos lá nós tocamos os sedimentos, verificamos se nossas mãos ficavam sujas, ou com óleo, e não encontramos nada. Não quer dizer que não exista a possibilidade de ter óleo, mas não identificamos o óleo nos locais onde amostramos”, detalha Sandra Paiva, mergulhadora e doutoranda no Programa de Ciências Marinhas e Tropicais da Universidade Federal do Ceará (UFC).

A ação se fez necessária a partir da suspeita de que tufos do óleo tenham afundado ou que estejam se deslocando debaixo d’água, rumo à praia. Técnicos do monitoramento da Semace perceberam que o óleo, uma substância densa e viscosa, fica abaixo da coluna d’água, dificultando a visualização, desde helicópteros ou embarcações.

Os mergulhadores que efetuaram essa vistoria são voluntários e integram a operadora de mergulho Mar do Ceará, que já possui experiências de mergulho científico.

Sobrevoos preventivos

Na última quarta-feira (23), duas manchas de óleo foram retiradas do mar após serem localizadas durante um sobrevoo preventivo realizado pela Semace, no Litoral Leste do estado. As manchas se deslocavam em direção às praias de Aracati e mediam até 20 metros quadrados, além de possuírem elevada viscosidade.

A retirada do óleo foi feita com auxílio de botes infláveis, próprios para operações rápidas próximas à costa. O óleo recolhido será destinado à uma fábrica de cimento, em Sobral, autorizada pela Semace para a queima deste tipo de substância.

Um outro sobrevoo foi realizado, na manhã da última quinta-feira (24), no Litoral Leste, para monitorar as praias próximas aos municípios de Fortim, Aracati e Icapuí. A região é considerada sensível por causa da Foz do Rio Jaguaribe. “Temos que prevenir que o óleo chegue às praias, aos mangues e rios”, afirmou o gerente de Análise e Monitoramento da Semace, Gustavo Gurgel. “É um trabalho de parceria que está vencendo o óleo”, completou.

Esse foi o sexto sobrevoo do tipo realizado pela autarquia, com o objetivo de conter o óleo e minimizar os efeitos do derramamento ocorrido em alto mar. As observações são realizadas a partir de helicópteros da Coordenadoria Integrada de Operações Aéreas (Ciopaer). A estratégia também conta com a parceria da Marinha, que mantém equipes de plantão para a retirada do óleo.

Os sobrevoos preventivos da Semace com o Ciopaer serão mantidos, enquanto houver o risco do óleo chegar às praias. O destino de cada voo é definido pelas informações levantadas pela Marinha e pelo trabalho voluntário de pescadores artesanais. Seis equipes da Marinha são mantidas de plantão para o deslocamento rápido até a mancha. O trabalho de parceria é pioneiro no Nordeste.

Balneabilidade

De acordo com o boletim semanal de balneabilidade divulgado pela Semace, na última sexta-feira (25), a Praia do Futuro e todo o litoral da zona leste de Fortaleza estão livres do óleo e próprias para banho.

Na zona centro, que inclui o Mucuripe, o Meireles e a Praia de Iracema, cinco das sete praias monitoradas pela Semace estão próprias para receber banhistas. Estão impróprios os dois trechos compreendidos entre o Farol e o Monumento do Jangadeiro, no Mucuripe, que apresentaram amostras de água do mar com qualidade inaceitável.

Na zona oeste, das dez praias analisadas, três estão próprias. O trecho que vai da avenida Pasteur à Barra do Ceará deve ser evitado.

Com relação ao litoral do Estado, a Semace orienta os banhistas que frequentam as praias localizadas a leste e a oeste da capital a verificar a possível ocorrência de óleo. Constatada a substância, a praia deve ser rejeitada. A localização do óleo deve ser informada à autoridade de meio ambiente local, para que seja feita a remoção e destinação adequadas.

Alerta à saúde

Uma das grandes preocupações provenientes do desastre causado pelo derramamento de petróleo cru no mar é a respeito dos danos que o contato direto com a substância pode causar à saúde humana, em curto, médio e longo prazo.

A Semace adverte que moradores e frequentadores se mantenham afastados do óleo e que não tentem fazer a remoção da substância sem orientação técnica ou equipamentos de proteção individual (EPIs). A limpeza e a destinação da substância para a queima devem ser realizadas dentro dos padrões internacionais de segurança.

Steven Primeiro, um dos voluntários que está à frente das limpezas de praia em Icapuí, relata que, desde que a primeira maré trouxe as manchas, a população já começou a se mobilizar para erguer as mangas e ajudar na remoção da substância, que chegou nas praias de Barreira, Melancias, Redonda e Ponta Grossa, nas últimas semanas.

Segundo ele, caixas de luvas e máscaras estão sendo doadas pelo hospital municipal e farmácias, além de que os voluntários estão sendo orientados sobre como proceder durante a limpeza, para assegurar a integridade da saúde daqueles que estão colaborando.

“Quando as manchas chegam é uma corrida contra o tempo para tirá-las, antes que a maré volte e dificulte a retirada ou pior, leve para áreas mais sensíveis como o mangue. E por isso a ação da população é importantíssima, pois não podemos esperar a chegada dos órgãos competentes. Sem o uso dos equipamentos, seria impossível manusear, além de acentuar ainda mais o risco de contaminação que sofremos. O óleo é espeço e pesado, exala um cheiro forte. Sem os equipamentos é suicídio manusear e já basta a fauna e a flora morrendo com esse desastre”, ressalta Steven.

E completa: “a realidade é que não sabemos o nível de contaminação que está em jogo. Há uma parte do óleo que é solúvel em água, outra parte pode ser ingerida pelos peixes ao se alimentarem de outros que já foram afetados pelo óleo. Os reais danos são imensuráveis e seus sintomas só o tempo irá mostrar”.

Em Pernambuco, 118 casos suspeitos de intoxicação, insolação ou queimadura em decorrência da retirada de petróleo cru no mar foram contabilizados. Foram 84 em Itapuama, no Cabo de Santo Agostinho, Região Metropolitana do Recife. Boa parte dessas pessoas foram voluntárias na coleta de óleo derramado nas praias do Estado. Os sintomas alegados são os mesmos: náusea, vômito, dor de cabeça, reações alérgicas e dificuldade para respirar.

Pelo menos um caso de possível intoxicação também ocorreu em Fortaleza, com Adla Farah, voluntária do Grupo de Estudos e Articulações Sobre Tartarugas Marinhas (GTAR) / Instituto Verdeluz, que prestou primeiros socorros à uma tartaruga marinha encalhada na Praia do Futuro. Na ocasião, a estudante de medicina veterinária teve contato direto com a areia atingida pelo óleo e horas depois sentiu sinais de intoxicação.

“Não sou alérgica a nada e nesse dia não comi nada de diferente. Tive contato com a areia da praia contaminada e fiquei suja de areia por algumas horas. Em seguida fiquei com a pele vermelha e coçando muito. Fiquei intoxicada e, ao ser atendida por uma médica, fui receitada com antialérgicos. Os médicos não conseguiram ter um diagnóstico certo para afirmar que foi por causa do petróleo, mas tudo indica que foi isso”, relata Farah.

Um guia sobre como se proteger do óleo nas praias foi lançado pela Semace.  A cartilha tem como objetivo reduzir o risco de contaminação que pode ocorrer diante do contato ou da ingestão da substância.

O Ministério da Saúde também listou orientações sobre como proceder com a substância:

Para a população geral

  • Não entrar em contato direto com a substância (petróleo), especialmente crianças e gestantes
  • Seguir as orientações dos órgãos ambientais sobre atividades recreacionais nas regiões afetadas
  • Em caso de exposição ou aparecimento de sintomas, contatar o Centro de Informações Toxicológicas (0800 722 6001) e procurar atendimento médico

Para voluntários

  • Seguir as orientações dos órgãos de Defesa Civil ou o Comando local de resposta ao desastre antes de realizar a ação de voluntariado
  • Durante a limpeza, recomenda-se evitar o contato direto com o óleo por meio do uso de: máscara descartável, luvas de borracha resistentes, botas ou galochas de plástico ou outro material impermeável
  • Não é recomendada a participação de crianças e gestantes nos mutirões de limpeza
  • Lavar a pele com água e sabão sempre que houver contato da pele com o petróleo
  • Utilizar óleo de cozinha e outros produtos contendo glicerina ou lanolina
  • Eventuais lesões de pele devem ser tratadas por serviços médicos especializados
  • NUNCA usar solventes (como querosene, gasolina, álcool, acetona, tiner) para remoção (esses produtos podem ser absorvidos e causar lesões na pele)
  • Em caso de exposição ou aparecimento de sintomas, contatar o Centro de Informações Toxicológicas (0800 722 6001) e procurar atendimento médico

Para profissionais de saúde

  • Recomenda-se atenção aos sinais e sintomas característicos de intoxicação aguda. Ressalta-se que os casos suspeitos e confirmados (em trabalhadores ou voluntários) de intoxicação exógena devem ser notificados na respectiva ficha do Sistema Nacional de Agravos de Notificação (Sinan), conforme determina a Portaria de Consolidação Nº 4/2017
  • Em caso de dúvidas, recomenda-se consulta ao documento Instruções para preenchimento da Ficha de Investigação de Intoxicação Exógena no Sinan1 e consulta ao Centro de Informação Toxicológica

14 Unidades de Conservação afetadas

O número de localidades afetadas pelo petróleo cru que atinge o litoral do Nordeste desde o início de setembro já chega a 248, de 90 municípios atingidos. Os danos causados pelo desastre já prejudicaram ecossistemas de 14 Unidades de Conservação do País, segundo levantamento do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Dentre as áreas atingidas estão Parques Nacionais, Áreas de Proteção Ambiental, Reservas Extrativistas e Reservas Biológicas e Áreas de Relevante Interesse Ecológico.

Unidades de Conservação atingidas

  • Área de Proteção Ambiental Delta do Parnaíba (PI)
  • Reserva Extrativista Delta do Parnaíba (PI)
  • Reserva Extrativista Cururupu (MA)
  • Parque Nacional Lençóis Maranhenses (MA)
  • Reserva Extrativista Prainha do Canto Verde (CE)
  • Área de Proteção Ambiental Barra do Rio Mamanguape (PB)
  • Área de Relevante Interesse Ecológico Manguezais da Foz do Rio Mamanguape (PB)
  • Área de Proteção Ambiental Costa dos Corais (PE)
  • Parque Nacional de Jericoacoara (CE)
  • Reserva Extrativista Acaú-goiana (PB)
  • Reserva Extrativista Batoque (CE)
  • Reserva Extrativista Marinha Lagoa do Jequiá (AL)
  • Área de Proteção Ambiental Piaçabuçu (AL)
  • Reserva Biológica Santa Isabel (SE)
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