Por Murilo Gitel
Colaborador

Até o momento, três cidades baianas registraram aparições do óleo: Conde, Esplanada e Jandaíra (Mangue Seco)

Especialista receia que o ‘óleo misterioso’ atinja os manguezais da região

Salvador – BA. Embora tenha sido o último Estado do Nordeste a registrar o lamaçal de petróleo nas praias, a Bahia também inspira preocupação quanto aos impactos ambientais. Amostras do óleo encontradas no município de Conde começaram a ser analisadas na segunda-feira (7), por pesquisadores do Centro de Excelência em Geoquímica do Petróleo da Universidade Federal da Bahia (UFBA).

Segundo os cientistas, aparentemente, o material está degradado e existe o risco de que ele contamine áreas de mangue, ecossistema que é considerado o berçário da vida marinha. A direção do Instituto de Biologia (Ibio)/UFBA já disponibilizou quatro especialistas, que viajaram nesta quarta-feira (9) para ajudar o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) no diagnóstico da situação dos ecossistemas marinhos das regiões baianas afetadas.

Até o momento, três cidades baianas registraram aparições do óleo: Conde, Esplanada e Jandaíra (Mangue Seco). A Agência Eco Nordeste conversou com uma das maiores especialistas do Brasil nessa área, a professora-doutora Olívia Cordeira de Oliveira, diretora do Instituto de Geociências  (Igeo)/UFBA, a fim de compreender melhor o trabalho que tem sido realizado.

“Todo esse material – amostras coletadas nos sedimentos de praia dos litorais sergipanos e baianos – foi devidamente cadastrado no Laboratório de Estudos do Petróleo (Lepetro)/Igeo/UFBA. A partir de então, iniciamos os procedimentos analíticos no Centro de Excelência em Geoquímica do Petróleo”, explica Olívia.

Separação

De acordo com a especialista, a primeira etapa analítica consistiu da separação física do material contaminante (com odor característico de petróleo) da areia. “O material coletado em dois dias de procedimento analítico tem sofrido processo de retirada da água presente e ataque químico com reagentes específicos para separação dos compostos orgânicos presentes. Nos primeiros dias de análise, comprovamos geoquimicamente que o material contaminante se trata de petróleo”, acrescenta.

Olívia estima que em um prazo de cinco dias sua equipe passe a contar com todas as amostras analisadas, as quais passarão por equipamentos com tecnologia de ponta, internacionalmente reconhecidos e operados por técnicos do Igeo/UFBA. “Após os resultados analíticos com laudo técnico, equipes de pesquisadores especialistas em geoquímica do petróleo, avaliarão tais resultados e elaborarão laudo conclusivo interpretativo. Essa conclusão tomará como base análises realizadas em óleos/petróleos que compõem o Banco de Óleos Nacionais e Internacionais de nossa Instituição”, adianta.

‘DNA do óleo’

A diretora do Igeo/Ufba pondera que tais análises não indicam o fato ocorrido para haver tal contaminação. “Ela poderá/deverá indicar com máxima precisão a origem do petróleo – ambiente geológico/Bacia Petrolífera a qual o petróleo contaminante foi gerado. A partir desses resultados os órgãos competentes podem realizar as buscas necessárias para entendimento do acidente ocorrido.”

Para descobrir a origem do petróleo derramado em praias do Nordeste, os especialistas contam com a chamada geoquímica forense, que se utiliza de parâmetros geológicos/geoquímicos para promover determinada investigação e contribuir para a elucidação com precisão científica de determinado fato/acidente. “Existem alguns organismos que só viveram em determinado período da nossa era geológica, então quando identificamos esses organismos, chamados de biomarcadores, sabemos dizer quando ele viveu e comparamos com a idade das bacias petrolíferas”, esclarece Olívia.

Origem

A diretora observa, também, que o petróleo possui características que o identificam como uma espécie de DNA e os cientistas conseguirão confirmar, a partir de um extenso banco de dados de amostras, se o material é oriundo ou não de uma das dez bacias petrolíferas brasileiras.

Olívia ressalta que o Laboratório de Estudos em Petróleo da UFBA possui uma equipe multidisciplinar, formada por geólogos, biólogos e químicos com capacidade para determinar, por exemplo, se o óleo encontrado é brasileiro ou não. “Podemos analisar se é um óleo com características das bacias petrolíferas do Brasil, Arábia Saudita, Colômbia, Venezuela ou do Estado do Arkansas, nos EUA.”

Impactos

Na avaliação de Olívia Oliveira, o impacto das manchas de óleo na biodiversidade marinha é incalculável. “Ameaça a vida de plantas e animais marinhos. Se estende por toda a cadeia alimentar. Os sedimentos litorâneos, como exemplo as praias, são afetadas. Quando atinge os manguezais torna-se muito mais difícil ou quase impossível a limpeza física e consequentemente as comunidades que utilizam do pescado para venda e compra são igualmente prejudicadas”, lamenta.

Para os pesquisadores da UFBA, o petróleo encontrado é uma espécie de piche. Eles não vislumbram uma utilidade para ele, uma vez que está aparentemente degradado e coberto por areia e sedimentos. A possível destinação do material seria, segundo os cientistas, a costumeira incineração, o que geraria um outro problema ambiental.

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