Geossítio Ponte da Pedra no Geopark do Araripe | Foto: Arquivo SGB-CPRM

O primeiro geoparque, chancelado pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), no Brasil completou 15 anos em setembro. O Geopark  Araripe, localizado no sul do Ceará, no Cariri cearense, entrou para a Rede Global de Geoparques (GGN) em 2006 e, desde então, segue sendo o único projeto brasileiro a fazer parte desta lista. Outras áreas do País vêm pleiteando uma vaga nesse rol de locais de elevado valor geológico e paleontológico. Possivelmente teremos uma série de geoparques brasileiros chancelados pela Unesco no futuro, mas até lá destaca-se o pioneirismo do Geopark do Araripe.

Para Joana Sanchez, representante da Comissão de Geoparques da Sociedade Brasileira de Geologia (SBG) e professora da Universidade Federal de Goiás (UFG), a chancela é importante para o País, pois traz um reconhecimento para um patrimônio geológico excepcional como o do Araripe.

“A Bacia do Araripe conta com a maior larga strata de fósseis, é impressionante todas as camadas de rochas apresentarem algum tipo de fóssil e contarem uma história geológica fenomenal. Ser reconhecido como geoparque Unesco traz um status de que temos potencial, de que temos história e conhecimento e nos coloca no mesmo patamar que todos os locais do mundo”, completa a professora.

O Geopark Araripe foi criado com o auxílio de diversos órgãos e instituições, incluindo o Serviço Geológico do Brasil (SGB-CPRM). Ele leva esse nome pelo seu território fazer parte da Bacia Sedimentar do Araripe. O local possui uma área de 3.789 km2 (IBGE/Funceme, 2001) distribuída pelos municípios de Barbalha, Crato, Juazeiro do Norte, Missão Velha, Nova Olinda e Santana do Cariri (CE).

O Geopark Araripe faz parte de uma região muito importante para registro geológico do período Cretáceo, com destaque para seu conteúdo paleontológico, com registros entre 150 e 90 milhões de anos, que apresenta um excepcional estado de preservação e revela uma enorme diversidade paleobiológica.

O Geopark do Araripe representado pela linha vermelha no Mapa do Ceará | Foto: Arquivo SGB-CPRM

Os principais objetivos do Geopark Araripe são proteger e conservar os sítios de maior relevância geológica e paleontológica, territorialmente denominados geossítios. Além disso, possui uma relação importante com a educação, turismo e desenvolvimento. O geoparque tem como um de seus braços o setor de Educação Ambiental com o objetivo de proporcionar à população local e aos visitantes, oportunidades de conhecer e compreender os estudos e tudo que acontece dentro do parque. O setor lidera diversos projetos como Geopark nas Escolas, Geopark nas Comunidades, Oficinas Pedagógicas, Colônia de Férias e muito mais.

Outros setores do geoparque são o Geoturismo e a Geoconservação. No primeiro, o objetivo é incentivar um turismo de qualidade, baseado nas múltiplas valências do território, por meio de uma estratégia de promoção e divulgação de nível internacional. Todos os municípios envolvidos com o geoparque têm um potencial enorme para o turismo, no entanto, a região que se destaca é a do Cariri, que vem cada vez mais se consolidando como destino para turistas por conta de todas as suas qualidades e diversidades de atrações, que vão desde a parte cultural até o turismo religioso e natural.

Manifestação cultural no Cariri cearense | Foto: Geopark Araripe

Por sua vez, a geoconservação é crucial assegurar a salvaguarda do geopatrimônio brasileiro, garantir os cuidados com esse patrimônio, porém utilizando-o de maneira racional e sustentável, o que casa com a proposta do geoparque de ensinar e divulgar a todos a sua história, seus patrimônios e natureza.

“O Geopark Araripe, ao longo dos seus 15 anos, acumula um legado de defesa dos patrimônios do território do Araripe e da promoção do desenvolvimento desse território. Ele não existiria se não existissem as pessoas do Cariri, que são o objetivo final das suas ações, fazer com que as pessoas entendam os seus patrimônios e elas próprias possam preservar. É um trabalho difícil, longo, mas começamos a ver resultados muito expressivos dentro do território e nos anima a continuar nessa caminhada em defesa / promoção do patrimônio e de animação do território para o desenvolvimento. Eu tenho orgulho de fazer parte da história do Geopark e, assim como eu, tenho certeza que toda a equipe não medirá esforços no sentido de fazer o melhor prol do desenvolvimento da região”, afirma o professora da Universidade Regional do Cariri (Urca) e  diretor do Museu de Paleontologia Plácido Cidade Nuvens, Allysson Pinheiro.

De fato, o reconhecimento mundial do Geopark Araripe, segundo Rafael Soares, pesquisador do seu setor de Geoconservação, demonstrou que a prática de fazer de um geoparque o programa de desenvolvimento territorial sustentável para um território funciona e pode ser produzida também em outros locais, claro, consideradas as diferentes especificidades locais e regionais.

De fato, a entrada na Rede Global de Geoparques abriu espaço para outros trabalhos no Brasil começarem a serem produzidos tendo o Geopark Araripe como exemplo. Para Rafael Soares a chancela da Unesco representou:

“Um despertar para essa possibilidade de expansão do nosso trabalho enquanto geocientistas. A comunidade geológica e das demais geociências, suas principais organizações e sociedades, começaram a perceber novos horizontes e, felizmente, resolveram investir nisso, acreditando firmemente nos desdobramentos positivos possíveis que o Programa de Geoparques da Unesco poderia trazer aos territórios mais diversos.”

Dentro do Geoparque existem nove geossítios que os visitantes podem conhecer. Geossítios são locais bem delimitados graficamente e que concentram formações geológicas com grande valor. Por exemplo, o Geossítio Floresta Petrificada do Cariri, local onde se encontram fragmentos de troncos petrificados com aproximadamente 145 milhões de anos.

Geossítio Floresta Petrificada no Cariri cearense| Foto: Luís Carlos Bastos Freitas / SGB-CPRM

Toda essa maravilha geológica pertencente ao Geopark Araripe festeja neste ano de 2021 os 15 anos de reconhecimento mundial da Unesco. O local se tornou motivo de orgulho para todos os que trabalham com a geodiversidade e proteção das riquezas naturais no País. Contudo, manter o título não é algo fácil. A Unesco por vezes faz uma reavaliação de toda a sua rede buscando protegê-la, o que aumenta ainda mais o simbolismo da data comemorativa. Segundo a pesquisadora do Serviço Geológico do Brasil, Lígia Maria Ribeiro, o trabalho feito para manutenção da chancela envolveu lidar com diversas questões importantes e complexas no território, mas sobretudo um compromisso de desenvolvimento sustentável em parceria com as comunidades locais.

“O sucesso do Geoparque Araripe em manter o título é louvável e um marco que já trouxe resultados no sentido de que novas iniciativas aconteçam em outras partes do Brasil. Felizmente já temos pelo menos dois novos Geoparques aspirantes em território Brasileiro, o Seridó (RN) e o Cânions do Sul (RS). Os 15 anos de experiência do Geopark Araripe têm sido um exemplo de que manter uma iniciativa assim é possível e com importantes resultados em termos de conservação e divulgação da geodiversidade alinhadas ao desenvolvimento sustentável local”, completa a pesquisadora.

A descoberta paleontológica mais recente e significativa do Brasil é da Bacia do Araripe. O fóssil Ubirajara jubatus, um dinossauro de 120 milhões de anos, que habitava o Nordeste do Brasil. O governo brasileiro busca a repatriação do fóssil, que atualmente se encontra em um museu no sudoeste da Alemanha. Os pesquisadores estrangeiros se negam a devolver o exemplar que carrega a evidência do primeiro dinossauro com penas.

E não é o primeiro caso. Em 2019, sete fósseis procedentes da Bacia do Araripe, que foram apreendidos na Colômbia em 2017 foram repatriados, com ajuda do Serviço Geológico Colombiano, e entregues ao Serviço Geológico do Brasil. As amostras foram entregues ao Museu de Ciências da Terra, que abriga a maior coleção de fósseis da América Latina.

Serviço

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