Por Maristela Crispim
Editora-chefe
Fortaleza – CE. Arquiteto e dono de uma pequena empresa de construções e reformas, Gildomar Lima explica que esse dia 5 de abril, o primeiro de sol depois de mais de um mês de muita chuva, foi de fazer reparos nos telhados dos clientes. “Todo mundo teve problema. As chuvas com ventos fortes provocaram vazamentos no que nunca tinha vazado. A predominância aqui são ventos de leste/sudeste. Essa chuva veio com ventos do sul, oeste. Pequenas frestas que deixam passar alguma água, com vários dias seguidos sem sol, e sem evaporar, acumulou, provocando vazamentos”, afirma.
“Todos os prédios de Fortaleza foram construídos contando com os ventos e chuvas vindo sempre do nascente, do leste/sudeste. Portanto, as fachadas a barlavento (que recebem primeiro os ventos) são mais vedadas para chuva; e as fachadas a sotavento (que ficam protegidas do vento ou de costas para o vento), mesmo não sendo completamente vedadas, não sofrem com infiltrações. O que houve com essas chuvas foi um mudança nesse padrão, junto com ventos muito fortes”, completa.
Quem mais se surpreendeu com muita ventania e chuvas nesse março em Fortaleza? Este é, de fato, o mais chuvoso da cidade desde que começaram as medições, em 1973, quando foi criada a Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), com 638,4 mm, superando os 617,4 mm de março de 1986. Na verdade foram 34 dias consecutivos de chuvas de 3 de março a 4 de abril. Mas os maiores período de chuvas consecutivas na Cidade foram em 2003, por 51 dias; e em 2019, por 41 dias, informa o meteorologista Vinícius Oliveira.
Além do recorde histórico, as chuvas da Capital representam ainda o maior acumulado entre os 184 municípios cearenses, seguida por Granjeiro e Várzea Alegre, ambos no Cariri, com 551,7 mm e 551,5 mm, respectivamente.
Foram muitos dias com chuvas acima de 50 mm e e acima de 100 mm em dois dias consecutivos. Mas os ventos foram um capítulo à parte, com velocidade média variando entre 3 km/h e 13 km/h nos últimos dias, foram registradas rajadas de até 48 km/h, nos dias 31 de março e 3 de abril. Outros dias tiveram ficaram entre 20 a 35 km/h, segundo Vinícius, motivadas principalmente por nuvens convectivas.
O Fortalezense está mais habituado a ventos fortes no segundo semestre, com ventos médios de 36 km/h e rajadas que superam 59 km/h. O meteorologista explica que, conforme a chuva vai se deslocando pode haver variações na direção. Mas, ainda assim, não houve nenhuma mudança muito brusca de parâmetros. “Muitos dias consecutivos de chuvas é normal para esta época do ano”, resume.
Distribuição
“Em fevereiro, tivemos poucas chuvas, abaixo da média em todas as macrorregiões. Mas em março todas as macrorregiões ficaram acima ou na média”, informa Vinicius. O meteorologista recomenda atenção aos boletins semanais com previsão subsazonal que a Funceme divulga toda quinta-feira.
A chuva esperada para hoje e amanhã deverá ocorrer, principalmente, durante os períodos da madrugada e manhã na faixa litorânea e partir do fim da tarde nas demais macrorregiões, em geral, em virtude de áreas de instabilidade oriundas do Oceano Atlântico, devido à proximidade da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT), bem como em razão de efeitos locais, como temperatura, relevo e umidade.
As chuvas em Fortaleza ficaram também acima da normal climatológica, com um desvio de 97%, isso devido à proximidade da ZCIT, que é o principal sistema indutor de chuvas no Ceará nesta época do ano.
10 maiores chuvas acumuladas por posto do mês (em mm)
Fortaleza (Pici): 714.1mm
Fortaleza (Água Fria): 681.2mm
Iguatu: 667mm
Maranguape (Fazenda Columinjuba): 628mm
Fortaleza (Castelão): 618mm
Granjeiro (Cana Brava dos Ferreiras): 590.4mm
Cariús: 588mm
Lavras da Mangabeira: 585mm
Guaiúba: 583.5mm
Várzea Alegre (Boa Vista): 583mm
Fonte: Funceme
Recarga
Segundo Vinícius, no início de março o maior reservatório do Estado, o Castanhão, estava com aproximadamente 8% da sua capacidade e findou o mês com praticamente o dobro disso, 16%, o que é muita água considerando a dimensão do açude.
Dos 155 açudes monitorados pela Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh), 61 ainda estão com volume inferior a 30%; 29 estão acima de 90%, sendo que 22 estão sangrando. No total, eles acumulam 30,5% das suas capacidades. Considerando os três maiores o Castanhão está com 16,08%; Orós com 39,69%; e Banabuiú com 8,26%.