Há mais de um ano a pandemia da Covid-19 intensifica desafios, lutas e agrava a situação de vulnerabilidade de alguns coletivos, como é o caso das vítimas da violência de gênero. A Ciência, este contexto como em outros, revela-se fundamental na perspectiva do enfrentamento e superação deste problema, considerado de saúde pública.

A Eco Nordeste participou, em 2020, de um projeto de monitoramento coletivo da violência de gênero que envolveu mais seis mídias independentes | Imagem: Adriana Pimentel

Por Adriana Pimentel
Colaboradora

O projeto conjunto interdisciplinar “Entendendo os Impactos da Covid-19 sobre a Violência Doméstica no Brasil” foi aprovado pela “Sexual Violence Research Initiative Knowledge for Action to End Violence Against Women and Violence Against Children – Research Grant 2021 (SVRI)”, a maior rede mundial de pesquisa sobre violência contra mulheres e violência contra crianças, e receberá um financiamento de R$ 706.000. Entre 330 propostas recebidas mundialmente em um rigoroso processo de seleção envolvendo três rodadas de avaliações realizadas por especialistas de renome internacional na área, apenas oito foram selecionados e o projeto brasileiro foi um deles.

A instituição-líder do projeto é a Universidade Federal do Ceará (UFC). Segundo o investigador principal, professor José Raimundo Carvalho, do Programa de Pós-Graduação em Economia (Caen)/UFC e diretor do Colégio de Estudos Avançados (CEA)/Eideia/UFC, “este é um projeto oportuno para abordar uma questão urgente, complexa e globalmente desafiadora sobre como a Covid-19 impactou no comportamento doméstico de homens, mulheres e crianças, e como produzir evidências científicas e contribuir para um plano de retomada pós-Covid-19 que integre uma perspectiva de gênero”.

Uma rede interinstitucional trabalhará em conjunto na realização do projeto, entre eles, Instituto Maria da Penha (IMP), Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (Ipece), Universidade Estadual do Ceará (Uece), Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Universidade de Essex (Inglaterra) e Universidade de Gotemburgo (Suécia).

A equipe do projeto é internacional e interdisciplinar, contando com a professora Sonia Bhalotra (Universidade de Essex); Conceição de Maria (IMP); professor Diego de Maria (UFRN); professor Antônio Rodrigues Ferreira (Uece); professor Victor Hugo Oliveira (Ipece); e professor Joseph Vecci (Universidade de Gotemburgo), e abrange conhecimentos científicos nas áreas de Economia, Econometria de Avaliação de Programas, Criminometria, Saúde Pública, Gênero, Pesquisa de Survey Domiciliar, Ética, Violência Doméstica e Familiar contra Mulheres e Crianças, e Políticas Públicas.

O projeto “Entendendo os Impactos da Covid-19 sobre a Violência Doméstica no Brasil” tem como objetivo avaliar o impacto da Covid-19 e as respostas associadas, incluindo a influência de medidas de saúde pública e a transferência de renda condicional de emergência sobre a violência doméstica e familiar contra mulheres e crianças, bem como desenvolver diretrizes para um plano de retomada pós-Covid-19 inclusivo em termos de gênero.

A iniciativa está ligada a um estudo já em andamento, relacionado à temática da violência doméstica no Brasil e que trabalha com uma amostra significativa (10.000 mulheres), representativa e longitudinal: a Pesquisa de Condições Socioeconômicas e Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher (PCSVDF-Mulher). Há relatórios disponíveis no site do Instituto Maria da Penha. O novo projeto vai complementar a base de dados pré-existente com informações extensas coletadas em sete estados brasileiros: Bahia, Ceará, Goiás , Pernambuco, Pará, Rio Grande do Sul e São Paulo.

Para Conceição de Maria Mendes de Andrade, cofundadora e superintendente geral do Instituto Maria da Penha, os dados e estatísticas obtidos pelas pesquisas são primordiais para nortear a criação e melhoria de políticas públicas existentes e a comunicação com todos os stakeholders envolvidos direta e indiretamente com o tema da violência doméstica e familiar: “O momento desafiador no qual nos encontramos nos motiva a estudarmos a fundo os impactos da pandemia da Covid-19 e, a partir de balizadores científicos, traçar estratégias para formulação de um plano de retomada para o período pós-pandemia”.

O projeto terá início em 1º de junho de 2021, com uma pesquisa Computer Assisted Telephone Interview (Cati) com 6.000 mulheres que já foram entrevistadas pouco antes do início da pandemia, e utilizará uma metodologia longitudinal baseada em experimentos “quase-naturais” para atingir seus objetivos.

“Para mim, que estou desde o início do projeto, é gratificante ver aonde chegamos, sendo reconhecidos em um processo seletivo tão difícil e concorrido internacionalmente. Esperamos que os resultados obtidos na pesquisa sejam utilizados pelos gestores públicos para enfrentar o problema da violência doméstica, que infelizmente ainda é tão presente na sociedade brasileira”, afirma Diego André, professor do Departamento de Economia da UFRN e pesquisador participante.

Trabalhar as questões complexas que envolvem o combate à violência de gênero é algo desafiador e requer aprofundamentos técnicos, científicos, éticos e até ideológicos únicos envolvidos no tema que será analisado. “Mas isso é exatamente o tipo de problema complexo que queremos enfrentar e fazer a diferença, como cientistas e seres humanos, trabalhando para influenciar as políticas públicas, para aumentar e fortalecer a pesquisa orientada para a ação e sua aceitação (research uptake), e para melhorar a vida daquelas que experimentam a violência baseada no gênero”, finaliza o professor Carvalho.

Somar forças no combate à violência de gênero, um problema social e de saúde pública é responsabilidade de todEs. Em 2020, a Eco Nordeste participou do monitoramento “Um vírus e duas guerras”, em parceria com outras seis mídias do Jornalismo Independente, Amazônia Real (Amazonas); Projeto #Colabora (Rio de Janeiro); Marco Zero Conteúdo (Pernambuco), Portal Catarinas (Santa Catarina); Revista AzMina e Ponte Jornalismo (São Paulo), que levantou dados sobre a evolução da violência doméstica durante a pandemia de Covid-19.

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