Do alto da torre de observação, o visual da mata preservada é fantástico, mesmo sob chuva | Foto: Eduardo Queiroz

 

Entrar nas trilhas da Serra das Almas é sempre uma experiência única, cheia de cheiros, cores e emoções, tanto quando a vegetação está verdinha, quanto quando atravessa o período de estiagem e perde as folhas, mas não a beleza. Esta é a segunda de uma série de matérias sobre o trabalho de conservação ambiental realizado pela Associação Caatinga no Sertão do Ceará e Piauí.

 

Setembro de 2000 foi a data de criação da Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Reserva Natural Serra das Almas, um local de contemplação da natureza que preserva tanto a carnaúba (objetivo inicial) quanto as outras espécies do bioma com a visão de que conservar bem a natureza é fundamental para a manutenção da água, que está completamente ligada à floresta em pé.

“Não tem como desassociar. A base do nosso trabalho é de educação para que as pessoas vejam a natureza como aliada”, afirma Gilson Nascimento, biólogo e coordenador de conservação da Associação Caatinga.

A RPPN Serra das Almas, mantida pela Associação Caatinga, é reconhecida, pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), como Posto Avançado da Reserva da Biosfera por abrigar uma representativa parte da Caatinga.

A área protegida resguarda três nascentes e espécies ameaçadas de extinção. São desenvolvidas atividades de pesquisa científica, recreação e visitação escolar, além de projetos de Educação Ambiental e Desenvolvimento Sustentável junto às comunidades do entorno, combinando preservação ambiental com geração de renda e melhoria da qualidade de vida local.

Localizada no Sertão dos Inhamuns, no município de Crateús (Ceará) e Buriti dos Montes (Piauí), numa área classificada pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA) como de alta importância para a conservação, a Reserva Natural Serra das Almas (RNSA) tem uma área de 6.146 hectares que abrigam uma amostra significativa da flora e fauna da Caatinga. A sede da reserva fica a 50 Km da cidade de Crateús (385 Km de Fortaleza). Este percurso leva, em média, 1h15 de carro.

Estrutura para visitantes

O Centro Ecológico Samuel Johnson possui auditório, alojamento, cozinha, refeitório e um viveiro com capacidade para produção de 100 mil mudas/ano | Foto: Eduardo Queiroz

Antes de subir a serra, há a estrutura do Centro Ecológico Samuel Johnson que possui auditório com capacidade para 30 pessoas, alojamento para 22 pessoas, cozinha, refeitório e um viveiro com capacidade para produção de 100 mil mudas/ano. Ideal para visitas escolares, possui uma trilha de 11 Km que o liga à sede da reserva, além da Trilha da Encosta e Trilha do Açude.

Gilson explica que o local funciona como um show room de Tecnologias Sustentáveis. “Aqui é um centro de difusão ambiental (CDA) onde temos dois viveiros, estufa, meliponário, composteira, fogão ecológico, forno solar, cisterna de placa, bioágua (sistema de reúso) e banheiro seco (para a redução da nossa pegada hídrica)”, enumera.

A estrutura da Serra das Almas proporciona uma experiência completa de imersão no bioma Caatinga | Foto: Eduardo Queiroz

Já o Centro de Visitantes fica na Sede da Reserva, com alojamento para 20 pessoas, cozinha, refeitório, ecodemia (academia ao ar livre), trilhas e área de convivência. Este espaço é ideal aos aventureiros e amantes da natureza que querem experimentar a vida numa reserva isolada, com caminhadas em três trilhas ecológicas, observação de aves e diversos espaços para contato direto com a natureza.

Trilha dos Macacos

A trilha possui este nome porque na época da seca, os macacos-prego se concentram nas suas imediações podendo ser avistados facilmente. Favorecida por um riacho que mantém seu curso d’água durante todo o ano, oferece um local de alimentação e água. Possui aproximadamente 2 Km de extensão. Seu nível de dificuldade é considerado médio, devido ao terreno irregular, havendo subidas e descidas que requerem um pouco de cuidado dos visitantes. A vegetação é caracterizada como Floresta Decidual, popularmente conhecida como Mata Seca. As árvores de grande porte como Jatobá, Sipaúba, Espinheiro, Aroeira, Ingaí e Inharé, proporcionam sombra, possibilitando que esta seja feita em qualquer horário do dia.

Trilha das Arapucas

Com cerca de 6 Km de extensão é a trilha mais longa na parte serrana da reserva. Possui esse nome por se assemelhar, para quem olha da depressão sertaneja, a uma armadilha usada para capturar tatus e pebas. Inicia na estrada que dá acesso à sede da Reserva Natural Serra das Almas. Como é uma trilha de longa duração, requer um bom preparo físico e muita disposição, sendo necessário levar água e lanche. No fim da trilha, se encontra o local mais alto da reserva com 739 metros em relação ao nível do mar. O mirante possui uma das mais belas vistas, onde se pode observar toda sua área localizada na depressão sertaneja. A vegetação é composta uma parte pelo Carrasco e boa parte de mata seca, ainda bem preservada.

Trilha do Lajeiro

A Trilha do Lajeiro é leve, sem subidas abruptas e com uma paisagem que se modifica durante o percurso, mostrando a diversidade da vegetação existente na reserva | Foto: Eduardo Queiroz

Possui uma extensão de aproximadamente 1,2 Km. É uma trilha leve, sem subidas abruptas e com uma paisagem que se modifica durante o percurso, mostrando a diversidade da vegetação existente na reserva. No início, há um pequeno riacho. Logo após atravessá-lo, é possível avistar as pedras que os macacos-prego utilizam para quebrar coquinhos e castanhas. Seguindo a trilha, podemos notar a mudança para a vegetação de porte mais baixo onde é fácil a visualização de pássaros de várias espécies. A trilha termina no Lajeiro, uma formação rochosa de aparência bastante exótica e bela. É um ambiente muito rico em cactáceas e bromeliáceas, plantas símbolo da Caatinga e do Nordeste, como o mandacaru, xique-xique e a macambira.

Trilha da Gameleira

O percurso da Trilha da Gameleira pode ser percorrido a pé ou de bicicleta | Foto: Eduardo Queiroz

Mais nova trilha da reserva, possui 7,9 Km de extensão, é adaptada para o ciclismo de passagem individual e é considerada moderada, podendo ser realizada a pé. A trilha apresenta fitofisionomia Mata Seca em toda a sua extensão. Perto do fim, possui a estrutura de uma antiga casa de farinha e o seu final, uma belíssima vista panorâmica e uma grande surpresa. Descendo a trilha de pedras da encosta, há uma frondosa gameleira, árvores centenária, maior da região e que dá nome à trilha.

Formações vegetacionais

  • Arbustiva estacional densa decídua Montana (Carrasco)
  • Florestal estacional decídua submontana (Mata Seca)
  • Não florestal estacional arbórea/arbustiva decídua espinhosa (Caatinga)

São formações que possuem diferentes fisionomias de acordo com a época do ano. Na estação chuvosa, o verde toma conta da paisagem, enquanto que na estação seca a maior parte dos vegetais perde suas folhas, em resposta à escassez d’água.

Flora

É possível encontrar árvores como: Mororó (Bauhinia spp.), Joazeiro (Ziziphus joazeiro), Pau-d’arco (Tabebuia ochracea), Jaborandi (Pilocarpus spicatus), Aroeira (Myracrodruon urundeuva), Jurema-preta (Mimosa tenuiflora), Sabiá (Mimosa caesalpinifolia), Jatobá (Hymenaea spp.), Mofumbo (Combretum spp.) Espinheiro (Acacia glomerosa). Dentre as espécies de cactos merecem atenção: o mandacaru (Cereus jamacaru), o xique-xique (Pilosocereus gounellei) e a coroa-de-frade (Melocactus macrodiscus). As bromeliáceas chamadas popularmente de macambiras e croatás pertencem aos gêneros: Encholirium e Bromelia. Ao todo podem ser encontradas mais de 320 espécies de plantas.

Fauna

A reserva também abriga várias espécies animais, inclusive algumas espécies ameaçadas de extinção. No último levantamento realizado foram encontradas 45 espécies de mamíferos, 237 de aves, 44 de répteis e 34 de anfíbios. Durante as trilhas é possível encontrar várias dessas espécies, como os simpáticos soins (Callithrix jacchus), macacos-prego (Cebus apella), o cancão (Cyanocorax cyanopogon), ave que anda em bandos, dentre várias outras que podem ser observadas e contempladas, desde que se tenha muita atenção e silêncio.

A Reserva Natural Serra das Almas também contribui para a conservação de espécies ameaçadas de extinção como a jaguatirica (Leopardus pardalis), a suçuarana (Puma concolor) e o veado catingueiro (Mazama gouazoubira). O grande número e diversidade de aves faz da reserva um ótimo local para a prática do birdwatching.

1 Comentário
  1. Um local maravilhoso para se redescobrir caatingueiro, identificando a riqueza de um bioma que devemos conhecer para melhor conviver sem degrada lo estimulando para um desenvolvimento que primeiro pense e repense suas potencialidades no semi árido.

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