Com relação ao impacto das obras no entorno da Avenida Beira-Mar (foto), o relatório nega que possa haver algum impacto erosivo sobre o litoral do município de Caucaia | Foto: Alice Sales

Por Filipe Pereira
Colaborador

O parecer é uma contribuição científica para a discussão sobre as intervenções na costa de Fortaleza e Caucaia, com sugestões  para a Gestão Ambiental sustentável do litoral.

O Laboratório de Gestão Integrada da Zona Costeira (LAGIZC) da Universidade Estadual do Ceará (Uece) divulgou, nesta quarta-feira (17), Parecer Técnico Ambiental que analisa os impactos da construção do atual Aterro da Beira-Mar de Fortaleza sobre a erosão costeira do litoral de Caucaia.

O trabalho é realizado a pedido do Ministério Público Federal (MPF) e teve como base dados concretos, desde a construção do primeiro ancoradouro em Fortaleza, em 1806. A área de estudo foi o trecho compreendido entre a Praia do Futuro, em Fortaleza, bastante alterada pela construção do Espigão do Titanzinho, em 1963, até o Litoral de Caucaia, com especial atenção à Praia de Icaraí, a mais suscetível aos processos erosivos.

Com relação ao impacto das obras no entorno da Avenida Beira-Mar, o relatório nega que possa haver algum impacto erosivo sobre o litoral do município de Caucaia. A justificativa é a inexistência de transporte significativo de sedimentos pela corrente de deriva litorânea na Praia do Meireles e pelo surgimento, nessa área, de uma contra-corrente no sentido de oeste para leste, contrário ao sentido da corrente de deriva litorânea. Segundo o estudo, caso ainda houvesse transporte de sedimentos nessa praia, eles seriam levados na direção do Mucuripe (leste), e não na direção de Caucaia (oeste).

O documento utilizou como informações científicas para seu embasamento dados primários produzidos pelos autores do estudo, obtidos a partir da análise ambiental da área em estudo, e dados secundários coletados por meio de uma minuciosa pesquisa bibliográfica de relatórios técnicos, livros publicados, teses e dissertações defendidas, artigos em jornais de grande circulação (fatos históricos) e artigos publicados em revistas científicas nacionais e internacionais.

Impactos anteriores

O texto revela que os impactos erosivos sobre o litoral oeste de Fortaleza e de Caucaia é uma consequência direta de três fatores históricos principais:

1 – Fixação das dunas do Mucuripe, que foi iniciada ainda no século XIX com empalhamento para diminuir o transporte de sedimentos para a praia, se consumando no século XX com o processo de urbanização acelerado da cidade de Fortaleza

2 – A construção do Porto do Mucuripe que modificou profundamente a dinâmica costeira local, impedindo na ponta do Mucuripe e áreas adjacentes, o transporte de sedimentos de leste para oeste

3 – O terceiro foi a urbanização, também acelerada, das dunas da Barra do Rio Ceará, impedindo o bypass hídrico dos sedimentos do Rio Ceará

O documento afirma que a associação destes três fatores provocou uma diminuição do volume sedimentar transportado pela corrente de deriva litorânea, criando a oeste do Porto do Mucuripe um déficit sedimentar que ocasionou o processo erosivo que consumiu as praias do litoral oeste de Fortaleza e do município de Caucaia desde o fim da década de 1940 até os dias atuais.

Leia o estudo na íntegra:

Dinâmica Costeira do Litoral de Fortaleza e os Impactos da Construção dos Aterros das Praias de Meireles (Beira-Mar) e Iracema sobre o Litoral de Caucaia

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