Foto colorida de área plantada dividida por uma franja de vegetação tendo ao fundo um morro coberto de vegetação
Agronegócio é responsável pelo desmatamento no Matopiba, região de expansão de fronteira agrícola | Foto: Camila de Almeida

Aumentou de oito para 30 o número de cidades do Matopiba com dados presentes na plataforma Diário do Clima, que desde agosto de 2023 reúne e filtra informações sobre atos governamentais relativos a meio ambiente e questões climáticas publicados nos Diários Oficiais de municípios brasileiros.

A inclusão foi feita a partir de solicitação da Eco Nordeste, que está utilizando os dados em investigações jornalísticas sobre o desmatamento e os conflitos socioambientais causados pelo agronegócio na região. O monitoramento das decisões locais ajuda a identificar e exigir a responsabilização de prefeituras por medidas que possam agravar a crise ambiental e climática, como as autorizações para supressão de vegetação.

Denominado com as sílabas iniciais dos quatro estados que abrange – Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia – o Matopiba inclui 337 municípios e é apontado desde os anos 1980 como um celeiro mundial de commodities. Sobre a vegetação nativa e populações tradicionais desses três Estados do Nordeste e um do Norte avançam plantações de soja, milho e algodão.

Foto colorida de extensão área de solo cor de barro sendo preparada para receber plantação agrícola tendo ao fundo um morro que se espalha no horizonte sob um céu coberto de nuvens cinzas
Área em franca expansão agropecuária, o Matopiba é uma porteira aberta para a devastação da Amazônia | Foto: Camila de Almeida

O Matopiba tem 73 milhões de hectares em três biomas: Cerrado ( 66,5 milhões de hectares, o equivalente a 91% da área), Amazônia (5,3 milhões de hectares correspondentes a 7,3%) e Caatinga (1,2 milhão de hectares que ocupam 1,7%). Sendo reconhecida como área de franca expansão agropecuária pelo Governo Federal desde 2015, o Matopiba é uma porteira aberta para a devastação da Amazônia.

O Diário do Clima empreende o esforço de sistematizar num único lugar um conjunto de informações que é diversa e difusa, já que “não há lista, site, ou qualquer  conjunto de dados que nos informa onde cada município publica seus diários oficiais”, como explica Giulio Carvalho, coordenador de Inovação Cívica na Open Knowledge Brasil (OKBR). “Também não há um formato padrão de publicação dos mesmos. Portanto, sempre precisamos realizar esse mapeamento de onde os municípios publicam e adequar o projeto aos diversos formatos de publicação”, conclui.

Para Maristela Crispim, editora-chefe da Eco Nordeste, a ampliação de 8 para 30 municípios do Matopiba monitorados pelo Diário do Clima possibilita um melhor acompanhamento dos atos do executivo e legislativo. “Os municípios, seja por meio da prefeitura ou da câmara de vereadores, têm responsabilidade sobre o desmatamento porque podem autorizar supressão de vegetação nativa”, justifica.

Na opinião da jornalista, os dados disponibilizados pelo Diário do Clima são uma fonte permanente de assuntos a serem jornalisticamente apurados. “Embora a Eco Nordeste tenha como principal foco o jornalismo de soluções, sempre recorremos aos dados para subsidiar o nosso trabalho.”

O Diário do Clima foi construído por uma coalizão especializada em temas sociais, ambientais e de transparência de dados. São seis organizações envolvidas: ((o))eco, Eco Nordeste, Agência Envolverde, InfoAmazonia, Open Knowledge Brasil (OKBR) e Projeto #Colabora.

Até fevereiro deste ano, apenas dois entre os 15 municípios líderes na produção de grãos da região do Matopiba estavam na plataforma de dados: Barreiras e Formosa do Rio Preto, ambos na Bahia. Agora, integram a plataforma também as cidades de Correntina, Jaborandi, Luís Eduardo Magalhães, Riachão das Neves (BA) e Campos Lindos (TO). Faltam apenas oito municípios (dois do Maranhão e cinco do Piauí) entrarem na lista para consolidar, de forma inédita, um banco de dados sobre a atuação das gestões locais nas áreas onde estão as maiores ameaças ao Cerrado brasileiro.

Isso porque a maioria dos municípios do Matopiba pertence a este bioma, mas para além dos líderes na produção agrícola há outras cidades também importantes que estão em áreas de Caatinga e Amazônia. No Maranhão, por exemplo, Bacabal é uma cidade que ocupa uma área de transição entre o Cerrado e a Amazônia. Da mesma forma, no Tocantins, as cidades de Sampaio, Aguiarnópolis e Araguaína  estão a meio caminho entre as florestas tropicais da Amazônia e as savanas do Cerrado. As quatro estão entre as que foram recentemente incluídas na plataforma.

Foto colorida de área agrícola com arado mecânico verde deixado sob a sombra da única árvore existente tendo ao fundo um morro coberto de vegetação verde escura
O desmatamento no Matopiba agora pode ser acompanhado por qualquer pessoa na plataforma Diário do Clima | Foto: Camila de Almeida

Hoje com mais de 500 mil diários oficiais no banco completo, o Diário do Clima pretende alcançar ainda este ano 1.000 municípios e 1 milhão de edições de diários. O principal foco são os municípios de pequeno e médio porte, onde há menos transparência e recursos para garantir o monitoramento jornalístico e cidadão.

Na Bahia, o município com maior número de ocorrências é Barreiras, com 627 resultados. No Maranhão, o protagonista de decisões relacionadas ao meio ambiente é Codó. No Tocantins, se destaca a capital, Palmas. Até agora, apenas o Piauí permanece completamente fora do alcance da sistematização do Diário do Clima, sem nenhum município na plataforma. No Estado, a maioria dos municípios publica seus diários oficiais num único documento associado, o que demanda ainda um amadurecimento do Diário do Clima para integrar a análise desse formato. No fim do ano passado, já foi possível incorporar um caso parecido, ao integrar os diários da Associação de Municípios Alagoanos, com 92 cidades.

Foto colorida de área ao ar livre com plantio de soja tendo atrás uma franja de árvores e palmeiras nativas e ao fundo um morro coberto de vegetação verde escura sob o céu nublado
A soja é um dos principais commodities agrícolas produzidos no Matopiba | Foto: Camila de Almeida

Projeto ma.to.pi.ba

Este conteúdo faz parte do Projeto ma.to.pi.ba., uma ação multimídia da Eco Nordeste, com o apoio do Instituto Clima e Sociedade (iCS). Com início em janeiro de 2024, traz matérias, reportagens, podcasts, webstories e newsletters que lançam sobre a região do Matopiba um olhar para além do agronegócio. Ao mesmo tempo em que aborda os problemas socioambientais, a iniciativa multimídia aponta experiências que têm dado certo na região, seguindo a linha editorial de Jornalismo de Soluções adotada pela Eco Nordeste.  

O projeto é executado por uma equipe premiada composta pelas repórteres Alice Sales e  Camila Aguiar, com edição da jornalista Verônica Falcão e coordenação geral da jornalista Maristela Crispim. Líliam Cunha assume a Assessoria de Comunicação, Flávia P. Gurgel é responsável pelo design; Isabelli Fernandes, edição de podcasts, e Andréia Vitório faz o gerenciamento das redes sociais.

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