Qual é uma das primeiras providências na implantação de um empreendimento imobiliário senão a “limpeza” do terreno, ou seja, supressão de praticamente toda a vegetação existente, inclusive árvores? E quando um empreendimento consegue reduzir ao mínimo o desmatamento e ainda investe em reflorestamento? O que dizer? Prática comum no Brasil? No Nordeste? Pois é assim que vem acontecendo em um condomínio localizado na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), no município de Eusébio, e que a tendência é que surjam outros empreendimentos semelhantes.
Eusébio – CE. O Azur Condomínio Lago foi todo planejado para ter o mínimo de impacto possível no ambiente natural, desde a construção até o funcionamento. O paisagismo, por exemplo, é ornamental e funcional. Foi pensado para atrair pássaros, repelir insetos, manter a cadeia alimentar em equilíbrio, destaca Irineu Guimarães, que é CEO da BLD Urbanismo.
Para isso, foi convidado o paisagista Benedito Abbud. Ele trabalha com a Acupuntura Paisagística, que melhora pontos estratégicos para que esses benefícios se espalhem, aos poucos, por toda a região onde são aplicados; e o Paisagismo Sensorial, que mescla o aroma das plantas com espécies frutíferas, chás e temperos, remetendo ao olfato e ao paladar. A visão é exaltada pelas cores e pelos tamanhos dos espaços. As texturas das plantas evocam o tato, enquanto o barulho delas plantas, do vento e da água atiçam a audição.
“O projeto foi pensado para que a natureza continue funcionando. O paisagismo foi combinado com as árvores já existentes, incluindo plantas nativas ou adaptadas”, explica Magda Maya, consultora de Sustentabilidade do projeto. “E por que manter a área de preservação? Uma lagoa é viva e dinâmica. É preciso garantir o o equilíbrio ecossistêmico e também manter a área pública”, acrescenta.
A área de preservação foi delimitada, com passagem de fauna, assim como as áreas verdes e funcionais. Para o condomínio foi planejada uma fachada ativa (street mall) de uso misto para evitar o deslocamento dos moradores (uso de veículo automotor) para realização de compras / serviços, com praticidade, conforto e segurança. Inclusive as calçadas são largas (três metros) para priorizar o pedestre. Do ponto de vista do lazer, o condomínio tem um clube completo. “Trata-se de uma solução urbana para morar, trabalhar, estudar, comprar e se divertir”, sintetiza Irineu Guimarães.
O Azur também investiu em autossuficiência energética solar na áreas comuns e produziu uma cartilha de Sustentabilidade para servir de guia à Associação que vai gerir o seu funcionamento. Quando os proprietários forem construir suas casas, se precisarem suprimir alguma árvore, terão que plantar três como compensação, por exemplo.
Valoração de Serviços Ecossistêmicos
Os serviços ecossistêmicos fomentados e / ou promovidos pela implantação do empreendimento foram valorados pela Geoanalysis, empresa de Magda Maya, de acordo com os padrões internacionais indicados pela Organização das Nações Unidas (ONU).
A Valoração de Serviços Ecossistêmicos (os benefícios da natureza viva) é uma metodologia internacional reconhecida utilizada para mensurar o valor da natureza em termos de benefícios locais e globais. Eles estão agrupados em três categorias: Provisão, Cultural e Regulação/Manutenção. O Azur fomenta pelo menos 18 Serviços Ecossistêmicos cujos benefícios são ambientais e sociais.
Boas práticas sustentáveis implementadas
Paisagismo ecológico
O paisagismo realizado no Azur, de autoria de Benedito Abbud, priorizou a utilização de espécies nativas e em consonância com o ecossistema local, caracterizando-se
como uma verdadeira floresta urbana fomentadora de diversos Serviços Ecossistêmicos, como, por exemplo, a atração de polinizadores.
Proteção / Recomposição de APP
A chamada vegetação ripária, existente às margens da lagoa do Azur, abriga uma grande quantidade de espécies essenciais para o equilíbrio ecológico da floresta urbana e sua área de entorno, e por essa razão está sendo preservada em seu estado natural, havendo apenas pequenas intervenções para manutenção.
Cercamento da área de preservação e passagem de fauna
Visando a segurança dos condôminos e ao mesmo tempo a garantia de que a área de preservação permaneça pública, foi realizada uma divisão com cerca entre área pública e de uso restrito, incluindo-se trechos para passagem de fauna.
Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil
O empreendimento conta com Plano de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil em plena execução, desde o armazenamento até a destinação final adequada.
Energias Renováveis / Baixo consumo
O empreendimento possui instalação de sistemas autônomos de geração de energia solar nas áreas comuns, além de posteamento com iluminação em LED, o que garante um menor consumo de energia.
Manutenção da qualidade da lagoa
Na lagoa do Condomínio Azur foi realizado um experimento científico em parceria com o Centro de Tecnologia da Informação (CTI) Renato Archer – Núcleo Nordeste / Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTI), de teste de qualidade da água com resposta em tempo real como uso do Barco Iracema. Os resultados atestaram as condições propícias para balneabilidade, pesca e esportes aquáticos (não motorizados). Para que tais condições sejam mantidas serão instalados aeradores para garantir a oxigenação para os peixes e plantas de modo a evitar a eutrofização.
Peixamento da lagoa para pesca
Uma vez atestadas as boas condições da lagoa, foi realizado um trabalho de peixamento da lagoa, com o objetivo de proporcionar mais uma opção de lazer para os condôminos por meio da pesca esportiva (pesque e solte), e ao mesmo tempo um benefício para comunidade do entorno que poderá pescar para consumo próprio.
Bosque preservado
Para além de todas as espécies arbóreas que foram preservadas no loteamento, também foi preservada uma área adensada de vegetação, caracterizada como um bosque o qual servirá especialmente de abrigo e/ou habitat especialmente para aves e também como ambiente de interação e conscientização entre os moradores.
Horta Comunitária / Viveiro de Mudas / Telhados Verdes
Outros espaços verdes também estão previstos no projeto, especialmente associados à fase de operação do empreendimento, uma vez que os condôminos serão os tutores.
Pavimentação drenante
Utilização de pavimentação permeável facilitadora da percolação da águas das chuvas e redutora da temperatura favorecendo uma amenização do microclima local, com blocos intertravados.
Reutilização de Solo e biomassa
Todo o solo movimentado nas obras foi reutilizado, evitando-se a importação ou exportação de solos, bem como todos os resíduos vegetais gerados nos processos de
preparação do terreno foram reutilizados no próprio terreno na fase de terraplenagem.
Utilização de madeira de reflorestamento
Áreas como playground e capela foram executadas com utilização de madeira de reflorestamento certificada (eucalipto), de modo a contribuir coma redução dos impactos ambientais causados pela extração de madeira.
Utilização de água de poço para irrigação
Considerando a importância do uso racional de recursos hídricos, toda a irrigação das áreas verdes do Condomínio tem sido realizada com utilização de água de poços, prática que deve ser mantida posteriormente.
Práticas sustentáveis para a fase de operação
Programa Permanente de Educação Ambiental
Visando garantir a permanência dos cuidados com a preservação ambiental presentes no Azur, desde sua concepção até a operação, será entregue à Associação Azur, responsável pela administração do condomínio em sua fase de operação, um Plano de Ações Sustentáveis. Este documento deverá servir como guia para a execução das boas práticas ambientais por parte dos condôminos.
Coleta Seletiva
A coleta seletiva deverá ser uma prioridade da fase de operação do Condomínio, no intuito de preservar o ambiente local, mas também com objetivo educativo e social,
por meio do envolvimento da Associação de Catadores do Município do Eusébio, que terá plenas condições de atender à coleta seletiva ponto a ponto e porta a porta.
Estatuto de Práticas Sustentáveis
Além de possuir um Programa Permanente de Educação Ambiental, os condôminos deverão aderir ao Estatuto de Práticas Sustentáveis, que será confeccionado de acordo
com as condições atuais de preservação do ambiente local.