Aliar uma convivência saudável com a natureza a tradições produtivas e culturais ancestrais tem sido uma marca da comunidade
ribeirinha Vila Carrapato, localizada no sopé da Chapada do Araripe, no Crato, Cariri cearense.

E foi um dos resultados desse rico trabalho que abriu um momento especial de celebração e de trocas de conhecimento da agricultura familiar promovido pela Articulação Semiárido Brasileiro (ASA). O Maracatu Uinu Erê deu as boas vindas do V Encontro de Agricultoras e Agricultores Experimentadores (Enae), que segue até a próxima sexta-feira, em Juazeiro do Norte.

Ronaldo Pedro da Silva, 45, mais conhecido como Roni Flor, é o presidente da Associação Comunitária do Sítio Belo Horizonte, onde fica a comunidade. Ele conta que as famílias são remanescentes de agricultores que trabalhavam para senhores de engenho, na produção de cana-de-açúcar e que, com a decadência dessa cultura na região, esses proprietários foram vendendo as terras para a especulação imobiliária.

Segundo ele, o processo de urbanização crescente na região só tem trazido problemas, com o desmatamento e ocupação indevida das áreas de encosta e da mata ciliar e o despejo de lixo e esgoto no Rio Granjeiro. “Os agricultores foram ficando sem terra para trabalhar e passaram a conviver com a sujeira gerada rio acima. “Nós tínhamos quase 100 nascentes e esse número reduziu à metade”, lamenta.

Segundo ele, o movimento nasceu da vontade de se organizar para melhorar a convivência com tudo isso. “A gente não tinha nem coleta”, relata. Por outro lado, ele conta que era preciso manter a tradição do cultivo de alimentos. “Agricultura é vida e não podíamos deixar isso morrer”, destaca. O movimento nasceu, foi crescendo e hoje conta, inclusive, com uma rádio comunitária para auxiliar no processo de educação e informação.

“A Vila foi quase engolida pela urbanidade, mas conseguiu impulsionar esse movimento de limpeza, de recuperação e manutenção da mata ciliar e de valorização da cultura popular. O Projeto Socioambiental Carrapato Cultural surgiu como um Ponto de Cultura e foi criando corpo”, conta o artista, educador popular e rainha do maracatu, João do Crato, que faz parte da Rede de Educação Cidadã (Recid) ao lado de Paulo Fuísca (rei do maracatu), que é historiador e geógrafo.

“Esse trabalho desenvolveu uma consciência sobre a necessidade de políticas públicas para a agricultura, o respeito à religiosidade,
às diferenças, inclusão de ciganos, LGBTs . Além disso, o Maracatu, fruto dos cortejos trazidos pelos africanos ao Brasil, se funde com as místicas locais, como a mãe d’água, pai da mata, povos da natureza”, ressalta João do Crato.

Segundo pauto, são 72 residências na Vila. “Trata-se de uma comunidade que se reconheceu como afrodescendente, com forte influências indígenas, e que mantém costumes como quintais compartilhados e crianças cuidadas por todos”, descreve.

Confira boletim de sistematização da experiência.

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