Os apicultores querem ampliar e diversificar a produção para conquistar novos mercados | Foto: Tuno Vieira

Com um investimento já realizado de quase R$ 20 milhões, o Governo do Ceará e o Banco do Nordeste (BNB) caminham em direção à estruturação da cadeia produtiva do mel em polos de desenvolvimento. A proposta, aprovada por apicultores dos sertões Central, dos Inhamuns e Crateús, é fazer com que o Estado retome o título de maior produtor de mel de abelha do Nordeste e conquistar espaços nos mercados interno e externo. A profissionalização e a diversificação dos subprodutos da Apicultura também estão entre os objetivos.

“A Rota do Mel é uma coordenação de atores públicos e setoriais com a qual conseguimos traçar objetivos comuns. O nosso foco é fazer com que as instituições consigam cooperar e haja uma complementariedade das ações em torno da apicultura”, informa Joaquim Carneiro, coordenador de Projetos Integrados do Ministério do Desenvolvimento Rural (MDR). Segundo ele, o “Rotas da Integração” é nacional, com foco nas regiões Nordeste, Sul e Sudeste.

Com a entrega dos projetos produtivos pelos projetos São José e Paulo Freire, além das ações em parceria com órgãos da administração pública federal, a estimativa é que ocorra um salto produtivo de 22% no primeiro ano. O cálculo é simples: com a entrega de 29.156 colmeias e uma média de produção de 25 Kg a cada 50 colmeias entregues, a atividade tende a ser impulsionada em direção ao sucesso. “Isso, claro, depende do interesse dos apicultores em buscar capacitação para produzir cada vez mais e melhor”, pondera Márcio Peixoto, coordenador da Secretaria de Desenvolvimento Agrário (SDA).

Boas expectativas

Caso se comprove, e considerando apenas as vendas para o mercado interno, a receita bruta da atividade no Estado receberia um acréscimo de mais de R$ 3,13 milhões já no próximo ano. A questão é que, diferentemente da agricultura de sequeiro, os apicultores costumam reinvestir os lucros na própria atividade. “Há um caso aqui na nossa comunidade, em que um dos produtores quis pagar o empréstimo que tomou já no ano seguinte”, relata Algaci Abreu, tesoureiro da Associação Taboense de Apicultura, no município de Monsenhor Tabosa.

“Em 2018, contratamos, via Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste (FNE), 829 operações apenas nos 19 municípios que compõem a Rota do Mel, totalizando negócios no valor de R$ 5,8 milhões. Todos eles se encontram no Semiárido nordestino e são considerados prioritários para a Política Nacional de Desenvolvimento Regional (PNDR)”, informa Paulo Dídimo, gerente do Programa de Desenvolvimento Territorial do BNB. “A expectativa é aumentar esse valor em função do Programa Rotas do Mel, em parceria com a SDA e o MDR”, pontua.

Para atingir o intento, é necessária uma melhor organização das associações comunitárias e um maior empenho dos produtores rurais no cuidado com as colmeias. O coordenador de Desenvolvimento das Cadeias Produtivas da Pecuária orienta, por exemplo, a necessidade de que os apicultores realizem o manejo a cada 15 e 30 dias, conforme o período do ano. “Se não houver organização suficiente, por meio dos entrepostos, o produtor acaba não barganhando um preço melhor no mercado”, acrescenta.

Estados concorrentes

Atualmente, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatítica (IBGE), a primeira colocação nacional em produção de mel é do Rio Grande do Sul, seguido pelo Paraná, Minas Gerais e Piauí. Com uma produção anual de 1,77 mil toneladas de mel em 2017, o Ceará se encontra na quinta colocação e 2,62 toneladas atrás do Estado vizinho. “Em 2014, de acordo com a Pesquisa da Pecuária Municipal, o Piauí mais que dobrou a produção de mel e nos ultrapassou por dois anos consecutivos”, reconhece o titular da SDA, Francisco de Assis Diniz.

Entretanto, observa o secretário, parte do resultado se deve ao fato de que parte da produção apícola do Estado atravessa a fronteira para atender o entreposto da Casa Ápis, no Piauí. “Assim como acontece em relação ao Rio Grande do Norte, que entrega parte da produção a um entreposto localizado em Limoeiro do Norte”, pontua. Pelos números da Agência de Desenvolvimento do Estado do Ceará (Adece), o mel de abelha é o 14º produto de exportação e rendeu ao Estado U$S 4.620.383 no ano passado.

Biodiversidade é fundamental

Para alcançar o propósito, a primeira medida é garantir a preservação do meio ambiente. Ao deter o privilégio de possuir uma extensa variedade de pasto apícola, formada por plantas produtoras de néctar, o Estado estimula a biodiversidade distribuindo mudas de essências florestais nativas, exóticas e frutíferas. Somente na última edição do Programa Hora de Plantar, conforme dados da SDA, foram distribuídas 170 mil mudas de essências florestais nativas, exóticas e frutíferas e 400 mil mudas de cajueiro anão precoce.

O programa subsidiado com recursos do Fundo de Combate à Pobreza Rural (Fecop), assegura o pagamento da contrapartida em até quatro anos, em caso de mudas frutíferas. “Essa grande variedade do pasto apícola nos favorece. Temos aqui a Aroeira, com sua florada em agosto e um mel diversificado, que já gera uma grande procura dos mercados do Sul e do Sudeste. É uma região riquíssima, tanto para o mel, quanto para o própolis, para geleia ou para cera”, comenta o representante da Federação dos Apicultores do Ceará, Irineu Fonseca.

“Um dos principais indicadores a serem destacados é o crescimento das demandas cadastradas pela Ematerce (Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Ceará)”, cita Neyara Araújo, coordenadora do programa. Segundo ela, entre 2017 e 2019, os pedidos de mudas de Aroeira mais que quadruplicaram, passando de 283,16 para 1.173,6; e os mogno quase triplicaram, de 349,47 para 1.0123,23.

Próximos passos

Os apicultores precisam de muita organização para que o plano prospere no Estado | Foto: Tuno Vieira

Com a delimitação do conselho gestor, a realização de um planejamento estratégico e a priorização de cinco linhas de ação, em especial aquelas de mais fácil execução e que não envolvem grande volume de recursos, “para levantar o ânimo”, fica mais fácil a Rota do Mel andar com os próprios pés. “Muitas vezes os produtores acham que precisam de marca única, mas não possuem um padrão de produção”, orienta Joaquim Carneiro. Ele explica que, entre as limitações, estão colmeias são muito diferentes, mel não homogeneizado, falta de reconhecimento pela qualidade e ausência de qualquer grau de cooperativismo.

Alguns dos indicadores a serem observados, ainda segundo o coordenador de Projetos Integrados do MDR, é se os apicultores vivenciam problemas com a flora apícola ou com agrotóxicos. “No Nordeste, temos o Polo do Mel de Jandaíra, no Rio Grande do Norte. Lá, eles já possuem carteira de projetos priorizados, formaram grupos menores e estão na fase de escrever o Canvas (quadro de gerenciamento de ações). A próxima etapa já é a execução desses projetos”, cita sobre a implantação Rota do Mel que conta com as parcerias da Universidade Federal Rural do Semiárido (Ufersa) e do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae).

No Sudeste e Sul, a situação dos projetos é ainda mais avançada. “No Norte de Minas Gerais tivemos grandes avanços: o polo foi reconhecido como Arranjo Produtivo Local (APL) pelo MDR e pelo governo estadual e foi concluído um entreposto na região de Bocaiúva”. “Antes, os apicultores precisavam enviar o produto deles para uma casa de mel a 800 Km de distância. Ou seja, o mel dessa região precisava viajar 1.600 Km para ser envasado, retornar com o número do Serviço de Inspeção Federal (SIF) e, só então, ser comercializado no mercado nacional e internacional”, revela.

“No Rio Grande do Sul estamos trabalhando para concluir um entreposto, que vai fazer toda a diferença. Hoje, os apicultores do pampa gaúcho vendem a produção para outros entrepostos: que acabam envasando, exportando e ficando com boa parte do lucro do negócio. A partir do momento que este entreposto tiver a capacidade de exportar, ele corta o atravessador e pode acessar lucros e reinvesti-los na cadeia. Inclusive, pagando melhor os apicultores, que podem procurar uma profissionalização e melhorar a qualidade da produção”, conclui Joaquim Carneiro.

Com informações da SDA

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