Pesquisa revela dados inéditos sobre a biodiversidade de Abrolhos

Ambiente de fundo do mar com formações de recifes de cores alaranjadas, marrom cinza e amarelas, com um cardume de peixes cinzas e pequenos passando sobre os corais

Chapeirão do Pierre, habitat recifal exclusivo da região de Abrolhos | Foto: Athila Bertoncini

Os chapeirões são grandes recifes em formas de cogumelos que podem chegar a 20 metros de altura e 50 metros de diâmetro. Essas estruturas recifais são exclusivas da região do Parque Nacional Marinho de Abrolhos, no extremo Sul da Bahia, e foram um dos habitats marinhos estudados durante pesquisa inédita na região. O estudo apontou que uma em cada cinco espécies analisadas dentro da Unidade de Conservação marinha, encontra-se em alguma categoria de ameaça de extinção.

Ao todo 635 espécies de peixes, corais, invertebrados, mamíferos, aves e tartarugas marinhas na Região dos Abrolhos foram avaliadas durante a pesquisa, realizada pela Conservação Internacional (CI-Brasil), Instituto Baleia Jubarte (IBJ) e pesquisadores do Instituto Coral Vivo e de universidades brasileiras.

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Guilherme Dutra, diretor do Programa Marinho e Costeiro da CI-Brasil e um dos autores do estudo destaca que, durante a pesquisa, foram realizadas duas importantes importantes ações: foi atualizado o mapa de habitats marinhos da região, reunindo o conhecimento atual disponível; e foram refeitos os mapas de distribuição de 635 espécies marinhas, que ocorrem em Abrolhos. Com estas informações foi possível gerar um mapa de importância biológica e identificar as áreas com a maior biodiversidade na região, o que inclui o Parque Nacional Marinho dos Abrolhos.

“Desde 2005 que os dados sobre a biodiversidade da região dos Abrolhos não eram atualizados. Todos sabem que é a região com a maior biodiversidade marinha do Brasil, mas havia poucas informações detalhando a distribuição desta biodiversidade. O estudo atualiza os dados sobre os habitats e as espécies encontradas, e analisa as áreas onde essa biodiversidade está mais concentrada, contribuindo para o planejamento e priorização de ações de conservação na região” afirma Dutra.

Com cerca de 88 mil hectares, o Parque Nacional é reduto de pouco menos de 1% da Região dos Abrolhos. Apesar de pequeno comparado aos 9,5 milhões de hectares da região, a Unidade de Conservação é muito representativa para a biodiversidade. Das 635 espécies analisadas, 77% delas (491) são encontradas nas áreas da Unidade de Conservação.

Para se ter uma ideia, só de espécies de peixes são cerca de 400, e outras 52 espécies do grupo dos corais. Essa riqueza torna a Região dos Abrolhos a mais biodiversa do oceano Atlântico Sul, com os maiores recifes de coral da costa brasileira e o maior banco de algas calcárias do mundo.

Essa diversidade de vida na região se deve ao fato de que o Parque Nacional Marinho dos Abrolhos abrange distintos habitats e ecossistemas, como as várias formações de recifes de coral, recifes em franja no entorno das ilhas, recifes rasos, recifes mesofóticos, bancos de gramas e algas marinhas, bancos de algas calcárias, fundos de areia e chapeirões, atraindo desta maneira espécies características desses ambientes.

No entanto, o mapeamento feito pelo estudo, apontou que apesar de sua importância, o parque dos Abrolhos não é suficiente para proteger a biodiversidade da região: “O Parque dos Abrolhos possui grande importância para a conservação de muitas espécies marinhas, mas nem todas as espécies que ocorrem no parque estão protegidas. Boa parte delas possui ampla distribuição, ou seja, transitam por toda a região ou pela costa brasileira. Se a espécie sofre ameaça na maior parte de sua área de ocorrência, uma pequena área de proteção, não será suficiente para sua recuperação.”

Dutra ressalta que, quando se compara o mapa atualizado de habitats da região produzido no estudo com as áreas protegidas existentes, nota-se que importantes habitats e ecossistemas, como o banco de algas calcárias, as buracas ou o talude, encontram-se totalmente desprotegidos, enquanto outros, como os recifes mesofóticos e mesmo os recifes rasos encontram-se bem pouco representados ou ocorrem em áreas protegidas não implementadas.  O pesquisador defende que a atual rede de áreas marinhas protegidas precisa ser ampliada para proteger esses ecossistemas, seja para a conservação da biodiversidade que existe ali, seja para a promoção de sua exploração de forma sustentável.

Eduardo Camargo, diretor executivo do Instituto Baleia Jubarte e co-autor do estudo complementa: “a ampliação do Parque de Abrolhos e a definição de sua Zona de Amortecimento, bem como a criação de novas áreas protegidas de uso sustentável abrangendo toda a Região dos Abrolhos são propostas há anos por ambientalistas e podem garantir a conservação e o uso sustentável das espécies marinhas da região.”

Os novos dados levantados geram atenção ao fato de que toda essa diversidade é constantemente ameaçada. Há por pelo menos três décadas a tentativa de explorar petróleo e gás natural e minerar o fundo marinho dos Abrolhos. Além disso, desastres provenientes da ação humana, como o rompimento da barragem da Samarco, em Mariana (MG), e o grande vazamento de óleo que atingiu a costa Brasileira em 2019 deixaram danos nos ambientes marinhos de Abrolhos. A sobrepesca é também uma ameaça às formas de vida marinha existentes na região.

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