Cientistas dialogam sobre derramamento de óleo no litoral Nordestino

Por Alice Sales
Colaboradora

Em estudos mais recentes estima-se que 57 Unidades de Conservação tenham sido afetadas.. Quanto aos danos causados à fauna, as pesquisas apontam 34 espécies ameaçadas prejudicadas com a presença do óleo nos ambientes costeiros

Um balanço de estudos realizados sobre o desastre do derramamento de petróleo cru na costa do Nordeste, ocorrido em 2019 e que ainda repercute de forma drástica, foi exposto durante evento virtual que reuniu cientistas do Brasil e de outros países. O intercâmbio foi realizado no último dia 23 e objetivou expor dados, além de fortalecer a interação de cientistas que estão realizando pesquisas a respeito.

A abertura do evento contou com a participação de Ozilea Menezes, diretora do Instituto de Ciências do Mar (Labomar) da Universidade Federal do Ceará (UFC), que contextualizou o desastre e seus desdobramentos, relembrando acidentes com petróleo de grande repercussão como o ocorrido no Golfo do México, no ano de 2010 e na Bahia de Guanabara, em 2000.

Também participaram do encontro cientistas de universidades do Nordeste do Brasil, como a Universidade Estadual do Ceará (Uece) e a Universidade Federal da Bahia (UFBA), e de universidades americanas, como a Florida State University (FSU) e o Woods Hole Oceanographic Institution (WHOI).

Marcelo Soares, pesquisador do Labomar, ressaltou, durante o evento, a repercussão mundial que o desastre alcançou, principalmente por se tratar de um acidente inédito, tendo uma área afetada considerada como a mais extensa entre os já ocorridos com petróleo em oceanos tropicais. Além disso, os estudos realizados por pesquisadores da UFC, tiveram destaques em publicações de alcance internacional, como a revista científica Science Magazine.

Como impactos socioambientais apontados durante o intercâmbio virtual, tiveram ênfase os danos causados aos bancos de rodolitos, estruturas formadas por algas calcárias, consideradas fundamentais para o equilíbrio dos ecossistemas marinhos e tidas como importantes no processo de sequestro de gás carbônico e redução da Emergência Climática.

Em estudos mais recentes estima-se que 57 Unidades de Conservação tenham sido afetadas, no entanto acredita-se que este número pode estar sendo subestimado. Quanto aos danos causados à fauna, as pesquisas apontam 34 espécies ameaçadas prejudicadas com a presença do óleo nos ambientes costeiros.

Sores ressaltou também um dos grandes problemas causados pelo derramamento: a maioria das comunidades costeiras afetadas são vulneráveis no ponto de vista socioambiental e no que diz respeito à segurança alimentar, tendo essa vulnerabilidade agravada com o desastre. Posteriormente, a pandemia da Covid-19 afetou ainda mais essas comunidades e dificultou os trabalhos de contenção, monitoramento e pesquisas sobre os impactos do derramamento, trazendo danos cumulativos.

Samuel Façanha, pesquisador do programa de pós-graduação em Administração da Uece, apresentou o estudo de impactos causados à chamada Economia do Mar, referente a toda a cadeia econômica que depende do mar como recurso.

“O nosso trabalho buscou identificar a vulnerabilidade socioeconômica dos negócios localizados nessas regiões litorâneas.  Tivemos como objetivo mapear esses negócios e buscar estabelecer um indicador que nos ajudasse a entender em quais locais, em que momento e que tipo de setores poderiam ter sido mais afetados com o desastre”, explica.

Nesse sentido, para o pesquisador, saber qual a dimensão dos possíveis prejuízos causados pelo desastre é muito importante para auxiliar na tomada de decisões em diferentes políticas públicas. Empreendimentos de 116 cidades ao longo da costa do Nordeste foram mapeados, sendo a Bahia, Pernambuco e Ceará os três estados mais afetados no quesito socioeconômico.

Os pesquisadores Carlos Teixeira, do Labomar, e Guilherme Lessa, da UFBA, palestraram sobre estudos a respeito da dispersão da mancha de óleo no Oceano Atlântico levando em consideração as correntes marítimas, o vento e outros fenômenos naturais que puderam ter influência na forma como o petróleo cru se espalhou no mar e suas possíveis origens.

Aspectos sobre a química do óleo também foram apresentados pelo pesquisador Rivelino Martins, do Labomar, em conjunto com os cientistas Ryan Rodgers, da Florida State University, e Chris Reddy, da Woods Hole. O evento contou com a mediação de Gabrielle Melo, oceanógrafa e pesquisadora da UFC  e foi promovido pelo Instituto AIR Center de Portugal e pelo Labomar.

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