Ação de conservação incentiva crianças e jovens a se aproximarem da ciência

Dois estudantes negros sentados em frente a uma mesa onde há microscópios. Do outro lado da mesa há duas mulheres expondo o material e auxiliando no uso dos equipamentos

Microscópios, amostras de fauna marinha, lupas, dentre outros elementos práticos da lida dos cientistas estiveram disponíveis para os estudantes | Foto: Alice Sales

Fortaleza (CE). A Sabiaguaba é uma das mais importantes áreas verdes da cidade de Fortaleza. É lá onde desemboca no mar o Rio Cocó margeado por um manguezal rico em peixes e crustáceos que movimentam a economia de famílias tradicionais da região. A área, que faz parte de duas Unidades de Conservação (UCs) regulamentadas desde 2006, ganhou recentemente um Polo Gastronômico. Na última semana, estudantes da rede pública de Fortaleza estiveram reunidos neste espaço para conhecer mais sobre a natureza, a partir da perspectiva de cientistas que realizam estudos na região.

Ao longo de três dias, crianças e adolescentes da rede pública de ensino estiveram engajados em uma programação de oficinas e exposições voltadas para a Educação Ambiental. Um ponto alto das atividades foi a “Conversa com Cientista”, quando os jovens e crianças tiveram a oportunidade de diálogo com pesquisadores a respeito de cada área que vem sendo estudada sobre os estuários cearenses, no Instituto de Ciências do Mar (Labomar), da Universidade Federal do Ceará (UFC).  Microscópios, amostras de fauna marinha, lupas, dentre outros elementos práticos da lida dos cientistas estiveram disponíveis para os estudantes.

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“Apresentamos desde projetos de conclusão de curso da graduação até teses de pós-doutorado, com o objetivo de disseminar informações em longo prazo sobre as questões ecológicas dos espaços públicos. Todas as temáticas que estão sendo dialogadas aqui são observadas pelos jovens a partir do momento em que eles frequentam o Polo Gastronômico da Sabiaguaba. Eles participam, questionam, interagem. A ação teve muita receptividade por parte deles”, destacou Fábio Matos, professor do Labomar.

Duas mulheres, ambas morenas, de cabelos cacheados, usando óculos, sentadas enquanto uma delas segura uma carcaça de estrela do mar e um pote de vidro. Na mesa à frente há outras amostras de espécies marinhas conservadas em potes de vidro

Em três dias de programação, crianças e adolescentes da rede pública de ensino estiveram engajados em oficinas e exposições voltadas para a Educação Ambiental | Foto: Alice Sales

Fabrício Gomes, estudante do Ensino Médio da rede pública estadual, conta que tem vontade de seguir carreira científica. Ele relata que participar das atividades foi bastante informativo: “Tinha muita coisa que eu não sabia e que aprendi aqui, como por exemplo, sobre a espécie de mangue vermelho e sua alta capacidade de gerar carbono azul. Também descobri que essa área sofre influência das marés e aprendi mais sobre o tempo de decomposição dos tipos de lixo na natureza”.

“Trouxemos uma série de materiais biológicos, fauna marinha, amostras de micro-organismos cultivados em placas para eles verem em microscópios e lupas. É uma chance para essa juventude do Ensino Médio e Fundamental conhecer essa realidade, para despertar a curiosidade científica e, ao mesmo tempo, a percepção de que a área ambiental permeia toda a vida humana, em todos os aspectos. E mesmo os que não forem seguir uma carreira de cientista, possuem igual responsabilidade de cuidar e de propagar a percepção e os cuidados ambientais, além de compreenderem os impactos ambientais que a humanidade gera porque a solução vem quando há um engajamento da sociedade”, destacou Marcelo Moro, professor do Labomar.

Três meninas juntas e abraçadas. Da esquerda para a direita há uma menina negra de cabelos negros presos, uma menina branca de cabelos loiros presos e uma terceira menina de cabelos castanhos soltos. As três usam o uniforme branco e amarelo. Ao fundo há um rio e vegetação de manguezal

Maria Eduarda, Maria Isabele e Ana Suelen aprenderam muito sobre conservar a natureza durante a ação | Foto: Alice Sales

Maria Isabele Araújo, 9, é estudante da rede pública de Fortaleza e reside em uma das comunidades da Sabiaguaba. Na ocasião, ela aprendeu mais sobre a natureza, a importância de não jogar lixo no chão, nos rios e nas praias. “Também aprendi a não derrubar as árvores  e porque elas são importantes”. Sua colega de classe, Maria Eduarda dos Santos, da mesma idade, conta que durante as atividades, aprendeu sobre reciclagem e a necessidade de proteger os animais da natureza. Já Ana Suelen de Andrade, também da mesma idade, aprendeu a fazer brinquedos com materiais recicláveis e ganhou uma muda de uma árvore nativa que, segundo ela, irá plantar em seu quintal com muito cuidado e já imagina a sombra fresca que a árvore dará.

Valorização dos Manguezais

Rio ladeado por vegetação de mangue sob um céu azul

Estuário do Rio Cocó, na Sabiaguaba, em Fortaleza (CE) | Foto: Alice Sales

Samuel Trajano Rabelo, estudante do Programa de Doutorado em Ciências Marinhas Tropicais do Labomar, é um dos cientistas que interagiu com os estudantes durante a ação. Ele realiza estudos sobre florística na Área de Proteção Ambiental (APA) do Rio Pacoti. Sua pesquisa justifica a proteção da área pela rica biodiversidade de espécies vegetais nativas que lá existem.

O pesquisador considera a ação importante para expor as riquezas dos ecossistemas costeiros que temos no Ceará e, ao mesmo tempo, mostrar que esses podem ser ambientes de lazer para as pessoas que vivem na cidade: “Muita gente vê o manguezal como um ambiente sujo, por ser rico em matéria orgânica e por ter aquela lama com cheiro forte. Por isso também acho importante que ações deem visibilidade à Sabiaguaba, um ambiente muito rico, com belezas naturais próprias do ecossistema e que tem o rio com boa balneabilidade”.

A ação, intitulada “Caminhos das Águas”, fez alusão ao Dia Mundial da Água, celebrado no  dia 22 de março, e foi uma iniciativa do Instituto Dragão do Mar, em parceria com o Labomar/UFC. Além da presença de pesquisadores acadêmicos, a ação contou com os monitores de Educação Ambiental da Prefeitura Municipal de Fortaleza, exposições de organizações como a Associação Caatinga, Associação de Pesquisa e Preservação de Ecossistemas Aquáticos (Aquasis) e Serviço Social do Comércio do Ceará (Sesc Ceará), e contou com o apoio do Estado do Ceará, do Complexo Gastronômico da Sabiaguaba, Fecomércio, Ecomuseu Natural do Mangue, Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Mangue Vivo e Associação de Nativos, Moradores e Amigos da Sabiaguaba (ANMAS).

As atividades também contemplam ações previstas pelo Programa de Pesquisas Ecológicas em Longa Duração (Peld), submetido pelo Labomar ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), para a realização de estudos sobre a Costa Semiárida do Brasil. Inicialmente, para 2023 quatro ações semelhantes estão previstas para o projeto, mas eventualmente pode haver outras.

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