Por Líliam Cunha
Colaboradora
Salvador – BA. Manchas de óleo voltaram a aparecer em quatro praias da capital baiana desde a última quinta-feira (25). As primeiras delas foram encontradas por uma pessoa que se exercitava na Praia de Piatã, que ao perceber o óleo contactou os integrantes do Guardiões do Litoral, grupo de voluntários criado para monitorar e promover ações de limpeza e retirada do óleo nas praias da Bahia, bem como combater a propagação de fakenews relacionadas ao derramamento de óleo que aconteceu no segundo semestre de 2019, atingindo todo o litoral nordestino e algumas praias capixabas. Pelotas de óleo também foram encontradas nesta sexta-feira (26), desta vez nas praias da Pituba e do Rio Vermelho.
“Assim que fui notificado, fui até o local para verificar a veracidade da informação e, chegando lá, ao ver uma quantidade muito pequena, desconfiei. Porém, ao me deslocar pela área, encontrei uma quantidade maior, com manchas de até 20 cm”, explica Juvenal Gordilho, um dos fundadores do Guardiões do Litoral, sobre as manchas encontradas nas praias de Piatã e Jaguaribe. Segundo ele, a estimativa é de que cerca de 100Kg de óleo tenham sido retirados de uma área de aproximadamente 400 metros de praia.
Técnicos do Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema), da Secretária de Meio Ambiente do Estado da Bahia (Sema-BA) e pesquisadores do Instituto de Biologia e Geociências da Universidade Federal da Bahia (UFBA) recolheram amostras para análise da origem do material. O Inema, por meio de sua assessoria de comunicação, informou que, ao que tudo indica, pelas características do material, as manchas encontradas agora são resquícios do derramamento ocorrido em 2019. Segundo o órgão, estudos feitos à época mostraram que novas manchas poderiam voltar a aparecer por um período de até um ano, desde o início dos primeiros casos, sendo resultado do movimento das marés.
De acordo com a professora Olívia Oliveira, diretora do Instituto de Geociências (Igeo) da UFBA e vice diretora do Lepetro/Igeo/UFBA, por iniciativa própria, o instituto coletou duas amostras na Praia da Pituba para análise geoquímica do material contaminante que apareceu nesta sexta-feira (26) no local. Segundo ela, as amostras coletadas possuíam características físicas visuais (viscosidade, cor e odor) de petróleo. “O material coletado foi devidamente cadastrado no Lepetro, Centro de Excelência em Geoquímica do Petróleo, Energia e Meio Ambiente do Igeo/UFBA, e iniciados os procedimentos analíticos”, explica a pesquisadora.
Segundo Olívia, a primeira etapa analítica, também realizada nesta data, consistiu da separação física e desidratação do material contaminante da areia e água do mar. Os resultados das análises das amostras serão comparados com os resultados das análises do petróleo contaminante do litoral brasileiro, no segundo semestre de 2019, e, se for necessário, daqueles que compõem o Banco de Óleos do Lepetro, o qual possui representantes de amostras de petróleo de diferentes bacias petrolíferas brasileiras e dos principais países produtores, no intuito de se identificar a possível origem do petróleo derramado no mar, informou.
“Acreditamos que o material coletado possua as mesmas características do petróleo contaminante no evento de 2019, também confirmado em nota da Marinha do Brasil, datada de 24 de junho de 2020, confirmando que amostras de fragmentos de óleo, encontradas em partes do Litoral do Nordeste do Brasil, possuíam a mesma origem. No entanto, o Igeo sente-se igualmente imbuído da responsabilidade técnica-científica-acadêmica de igualmente demostrar à sociedade sua competência”, ressalta a professora.
A pesquisadora destacou, também, que esse é um trabalho interdisciplinar onde o Igeo avalia a origem geoquímica do petróleo e o Instituto de Biologia (Ibio), da UFBA, os danos do óleo nos organismos marinhos. “O trabalho é realizado sempre em parceria com a Sema e Inema, bem como a Prefeitura de Salvador e de municípios atingidos pelo óleo. Além disso, o Igeo/Ufba também estará em breve celebrando acordo de cooperação com outras unidades da UFBA, a exemplo do Instituto de Biologia e Escola Politécnica e com o Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), para monitorar o litoral baiano frente a acidentes dessa natureza bem como continuar com o desenvolvimento de processos biotecnológicos de remediação de áreas afetadas”, informa Olívia Oliveira.
A retirada das pelotas nas quatro praias foi feita por funcionários da Empresa de Limpeza Urbana de Salvador (Limpurb) que informou que adotará o mesmo procedimento realizado quando as primeiras manchas surgiram em Salvador, em outubro. “Após a coleta, o material será armazenado e em seguida será transferido para uma empresa que seja habilitada para tratar e dar a destinação final”, diz nota enviada pela assessoria da Limpurb.
Óleo também ressurgiu
em praias de AL, PE e RN
O ressurgimento de óleo nas praias do litoral nordestino vem sendo registrado desde o último dia 19. De acordo com a Marinha do Brasil, além da Bahia, as pelotas foram encontradas em praias de Alagoas, Rio Grande do Norte e Pernambuco. Em nota, a organização militar afirmou que, de acordo com análise feita pelo Instituto de Estudos do Mar Almirante Paulo Moreira (IEAPM) com as amostras coletadas, os resíduos apresentaram perfis químicos compatíveis com o material que atingiu o litoral brasileiro no segundo semestre de 2019.
“Seu aparecimento decorre, possivelmente, de fatores meteorológicos, como alterações no regime de ventos e marés, que acabaram por revolver sedimentos e possibilitaram o ressurgimento desses fragmentos neste último final de semana”, afirma a nota.
As novas manchas de óleo estão fragmentadas em tamanhos pequenos e foram encontradas em Alagoas, nas praias Coruripe, Japaratinga e Maragogi; em Pernambuco, nas praias do Cupe e Muro Alto, no município de Ipojuca e na praia de Tamandaré. Já no Rio Grande do Norte, as manchas foram encontradas no dia 24, na praia de Tabatinga, litoral Sul do estado.
Morte de tartaruga não
teve relação com óleo
Além da origem do óleo encontrado, pesquisadores do Instituto de Biologia da UFBA investigaram a causa da morte de uma Tartaruga-de-Pente, de aproximadamente 100 anos, encontrada no dia 25, durante a coleta das amostras de óleo nas praias de Piatã e Jaguaribe. Durante a análise, foi constatado que a morte do animal teve causas naturais, não tendo com isso relação com material poluente encontrado nas praias.
Pandemia adiou ações de
dimensionamento e reparação
Com vistas a dimensionar a extensão da contaminação deixada pelo vazamento do petróleo no meio ambiente e promover ações de reparação dos danos causados, em março deste ano a Sema e o Inema, juntamente com a Bahia Pesca, a Defesa Civil e o Corpo de Bombeiros, iniciaram as ações pós-vazamento de óleo. O planejamento abrange três ações imediatas.
A primeira providência foi aceitar a oferta do governo espanhol para relatar a experiência do derramamento de óleo do Navio Pestige, ocorrido em 2002, e que somente agora os ecossistemas da região da Galícia foram considerados zonas livre de óleo. Aos espanhóis se juntaram franceses e portugueses que viveram o mesmo drama.
A ideia é que, em um seminário internacional, com a participação de especialistas dos três países europeus, fossem abordadas técnicas para metodologias de identificação dos impactos do desastre; organização institucional; impactos socioeconômicos; impactos e monitoramento na saúde pós-desastre; impactos na fauna; impactos nos estuários; impactos nos mangues; e impactos nos recifes de corais. Por conta da pandemia do coronavírus, no entanto, o seminário foi suspenso e ainda permanece sem data para acontecer.
Após o seminário, a Sema e o Inema promoveriam um workshop com os órgãos do Estado para traçar o plano emergencial de mitigação e adaptação dos impactos do vazamento de óleo, tendo a experiência europeia como base norteadora. Do encontro, seriam traçadas também as diretrizes de um Plano de Contingência a ser aplicado em desastres similares, uma vez que os protocolos federais já estabelecidos, foram desativados a partir de março de 2019.
A terceira ação imediata, que deveria ocorrer simultaneamente, seria a contratação de uma consultoria especializada para identificar, avaliar e dimensionar os impactos do vazamento nos ecossistemas costeiros da Bahia. O Termo de Referência para a contratação da empresa já foi concluído e encontra-se submetido aos representantes das universidades convidadas a participar das ações de reparação.
Com a pandemia do coronavírus, tais ações não puderam ser desenvolvidas, por conta do distanciamento social, mas devem ser retomadas quando o período de quarentena for finalizado.
Pernambucano ganha
prêmio de fotografia na Rússia
O pernambucano Leonardo Malafaia foi o primeiro brasileiro a vencer o Concurso Internacional de Fotografia Andrei Stenin, na Rússia. O Prêmio, na categoria Fotojornalismo, foi conquistado com a foto do menino Everton Miguel dos Anjos, 13, em meio ao óleo que atingiu a Praia de Itapuama, no Cabo de Santo Agostinho (PE), na época do vazamento de petróleo que atingiu a costa brasileira em 2019.
“Essa é uma conquista muito grande para mim e me sinto bastante orgulhoso pelo trabalho. Aprendi bastante com toda a repercussão, experiência e com o poder de denúncia que a fotografia tem. Acredito que isso seja, inclusive, o mais importante disso tudo: ajudar a alertar para que as pessoas cobrem dos atores corretos as soluções efetivas para os problemas”, disse Malafaia.
Trabalhando como fotojornalista profissional há mais de dois anos, ele acompanhou de perto os acontecimentos do desastre que poluiu as águas de todo litoral nordestino. “Fiz a cobertura completa dos acontecimentos e fiquei muito feliz em vencer esse concurso, porque, além de ser uma imensa honra pra mim, também passou a ser um lembrete de que precisamos continuar jogando luz sobre assuntos e temas que muitos não querem ver”, revelou
A previsão é que a entrega do prêmio aconteça em setembro, em Moscou, capital russa. Logo após, será iniciada a turnê mundial de exposição composta pelas fotos dos vencedores do prêmio. Seguindo a tradição, a exposição com as fotos dos vencedores deverá visitar cidades da Europa, América Latina, África e Oriente Médio.