“A primeira gota d’agua que cai das nuvens é para as várzeas cearenses como os primeiros raios de Sol nos vales cobertos de neve; é o beijo de amor entre o céu e a terra, o santo himeneu do verbo criador com a Eva sempre virgem e sempre mãe”
(Fragmentos de O Sertanejo, de José de Alencar)
Texto: Alice Sales
Imagens: Iago Barreto
Produção: Adriana Pimentel / Maristela Crispim
Edição: Maristela Crispim
Edição de vídeo: Samantha Yabuta
Apoio logístico: Cetra
A comunidade Corredor, município cearense de Graça, é emoldurada por um sol que se esconde por trás da cadeia de montanhas da Chapada da Ibiapaba. Seus campos verdejantes perdem todos os anos a cor e dão lugar a uma tonalidade cinza da Caatinga . É a natureza com toda a sua graça fazendo jus ao nome do lugar.
A espera anual pela chuva renova a esperança dos camponeses do Corredor. Lá, vive um jovem casal engajado em Agroecologia, Extensão Rural e Comunicação. Se uniram sem saber que tinham como propósito servir à terra sempre mãe, como nos versos de José de Alencar. São cheios de esperança e trazem nos olhos o viço da juventude junto à vontade de aprender, ensinar, plantar e colher e assim constituir uma família.
Em uma paisagem que varia entre o cenário típico do sertão mesclado na vegetação de pé de serra, as comunidades rurais do Vale do Acaraú, no Norte do Ceará, enfrentam as dificuldades causadas pela periódica escassez hídrica. A busca incansável por alternativas sustentáveis que viabilizem recursos hídricos e, ao mesmo tempo, preservem a natureza se faz presente na realidade das comunidades.
O início da vida de Itanael Rodrigues e Letícia Silva enquanto casal se deu vencendo muitos desafios e conquistando aprendizados. A construção de uma nova vida veio acompanhada pelo início da realização de sonhos que passaram a ser concretizados com a chegada do Projeto Paulo Freire. A luta permanente para mostrar que o Semiárido não é um território infértil e lugar de pessoas sofridas se mostra cada vez mais necessária.
Como alternativa para solucionar problemas sociais no meio rural, o Projeto Paulo Freire, iniciativa da Secretaria do Desenvolvimento Agrário (SDA) do Ceará, em parceria com o Semear Internacional, programa do Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola (Fida), implementado pelo Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA), tem trazido ao meio rural um novo fôlego para o sustento das famílias.
O Centro de Estudos do Trabalho e Assessoria ao Trabalhador (Cetra) realizou o cadastro e dá assessoria técnica ao Paulo Freire no território de Sobral 1 e 2, como denomina a SDA. No território de Sobral 2 também atuam o Instituto Antônio Conselheiro (IAC) e o Centro de Estudos e Assistência às Lutas do(a) trabalhador(a) (Cealtru). As três Organizações Não Governamentais (ONGs) integram a Articulação Semiárido Brasileiro (ASA).
O território de Sobral 1 corresponde a dez municípios no entorno de Sobral; e o território de Sobral 2 corresponde a seis municípios no entorno de Ipu. No território de Sobral 1, o Cetra atua em 132 comunidades de dez municípios. No território de Sobral 2, são 12 comunidades de seis municípios.
Projeto Paulo Freire
Por meio de Tecnologias Sustentáveis, o Projeto tem como principal objetivo reduzir a pobreza e elevar o padrão de vida de agricultores familiares em condições de extrema pobreza. A iniciativa contempla 600 comunidades rurais com baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), pelo desenvolvimento do capital social e humano e da produção sustentável para aumento da renda a partir de fontes agrícolas e não agrícolas com foco prioritário nos jovens, mulheres e povos tradicionais.
A área de atuação do projeto compreende uma extensão de aproximadamente 23.530 Km² e abrange 31 municípios de seis territórios: Cariri, Sertão dos Inhamuns, Sertão dos Crateús, Sertão de Sobral, Serra da Ibiapaba e Litoral Oeste/Vales do Curu-Aracatiaçu.
O Projeto prevê ações em dois componentes de formação para acesso às políticas públicas, assessoria técnica, capacitação, mobilização e controle social, formação de jovens para atividades econômicas e acesso à terra, e qualificação dos assessores técnicos. Além disso, o projeto é destinado a financiar os investimentos produtivos como estratégia de apoio à Agricultura Familiar com base nos princípios da Convivência com o Semiárido e Agroecologia.
De acordo com Rocicleide da Silva, coordenadora técnica da SDA, as comunidades estão nos territórios dos 31 municípios mais pobres do Ceará. Nestas comunidades existem dificuldades de toda natureza: econômicas; de estruturação da produção agrícola; nas unidades familiares; de acesso à saúde, à informação por serem comunidades mais afastadas; de acesso à água, além da produção mínima de animais de pequeno porte.
Segundo a coordenadora, o projeto se propôs atuar em alguns temas que pudessem dar suporte e sustentabilidade mínima, além de condições para que essas comunidades possam gerar conhecimento e se fortalecerem: “Claro que a política pública deve ser permanente. As maiores necessidades dos beneficiados são de assistência técnica e extensão rural; estruturação de produção e associações; acesso a tecnologias, diálogo e informações no campo”.
Mudança de vida
Na comunidade de Casa Forte, situada na Serra do Rosário, no município de Sobral, tudo era diferente antes da chegada das ações do Projeto. A família de Varderlei Pereira vivia basicamente da agricultura de subsistência até conhecer as Tecnologias Sustentáveis que mudaram suas vidas.
Ele relata como era a sua vivência nesse período: “Quando eu era jovem, meu plano era comprar uma moto, até que decidi comprar este terreno. Casei e trabalhava como meu pai, plantando milho e feijão. Daí resolvi mudar o sistema de trabalho. Foi quando vieram as tecnologias do projeto Paulo Freire e tudo melhorou”.
E completa: “Fomos nos adaptando até o momento em que chegou a assistência do Projeto e não tínhamos uma associação. Eu era associado em outra comunidade. Nessa época, consegui uma cisterna pequena, de primeira água. Quando chegou o Projeto Paulo Freire, conseguimos formar uma associação na nossa comunidade com a primeira benfeitoria, que foi uma cozinha comunitária. Numa articulação de 20 famílias, 16 mulheres atuam hoje nesta cozinha, fazendo bolos, doces, pão, polpa, com as frutas que sobram das colheitas, gerando renda para a comunidade”.
Beneficiado com reúso de água cinza em seu sítio, Vanderlei, que não conta com água encanada em sua casa, passou a ter uma maior disponibilidade, aproveitando as águas do banho e das pias para irrigar os canteiros e pomares. Segundo ele, a prioridade de sua produção é o consumo de subsistência. “É tudo orgânico. As frutas e hortaliças que sobram são vendidas. Mas há uma dificuldade de vender, por ser tudo orgânico e não ter, às vezes, a aparência desejada para o mercado”.
A família de Vanderlei foi beneficiada, em 2002, com a primeira cisterna para armazenar água. Em 2009, recebeu uma cisterna de segunda água por meio dos projetos da ASA. “Esta cisterna calçadão é a mãe da propriedade”, destaca.
Casada com Vanderlei, Márcia Silva relata que receber as Tecnologias Sustentáveis por meio do Projeto foi um grande benefício. “Quando recebemos as cisternas de primeira água já foi uma melhoria. A de segunda, então, foi ainda melhor. Começamos a aumentar o nosso quintal produtivo de onde tiramos a maior parte do nosso sustento, com alimentos orgânicos”.
Um biodigestor também foi instalado no quintal da família. Atualmente, eles não necessitam mais comprar gás de cozinha, produzindo o próprio gás em seu quintal. “E isso porque ainda não temos energia solar”, vislumbra Márcia.
Ela explica que é possível armazenar em média 16 mil litros de água por ano na cisterna de primeira água. Ela serve para beber e cozinhar. “Cultivamos couve-manteiga, cebolinha, pimentão, tomate-cereja. Quando conseguimos vender o que sobra, chegamos a arrecadar em média 150 reais ao mês com a venda de nossa produção. Quando acaba a água, usamos a do reúso para os pomares”.
Com dois filhos engajados na produção, Márcia comemora o interesse de sua prole pelo meio rural. “Temos dois filhos, um rapaz de 19 anos e uma menina de 10. Agora ele trabalha fora e ajuda a gente. A menina estuda e o menino pensa em fazer faculdade. Meu filho é muito interessado e minha filha também. Ela é responsável pela criação de galinhas da nossa propriedade”.
Tradição familiar
Inspirada por sua avó que a ensinou a cultivar cajueiros, Aristídia Nascimento, produtora familiar que vive na comunidade Riacho do Gabriel, em Sobral, conta que começou cultivando canteiros para o sustento de cada dia de sua família. “Fui tendo mais vontade, sonhando em aumentar minha plantação. Nunca desisti e lutei até aqui. Às vezes não dava certo, mas nunca deixei a agricultura”.
Segundo a produtora rural, com a chegada do Projeto Paulo Freire à comunidade, ela começou a receber visitas de técnicos e passou a atuar na associação: “Nunca pensei que este projeto ia chegar e vingar aqui. Comecei a participar de reuniões e, às vezes, não sabia nem como me expressar, mas Deus foi nos dando força e começamos a ver que as coisas estavam dando certo”.
Em uma propriedade às margens de um açude, Aristídia sente-se orgulhosa por ser agricultora experimentadora. Muitos que ainda não plantavam, estão se espelhando em seu exemplo. “Com a chegada do Projeto, fomos nos aprimorando e nos interessando mais. Plantei banana, manga, goiaba, feijão, milho, ata. Tenho uma cisterna de primeira água e de segunda”.
Em um quintal repleto de fruteiras carregadas de flores e frutos, que recebe a visita diária de diferentes espécies de aves, Aristídia, grávida do quinto herdeiro, reforça a ideia e aconselha as pessoas que vivem no sertão a não desistir de seus sonhos e os incentiva a permanecer no campo.
Cercada de pintinhos que recebeu por meio do Projeto Paulo Freire para iniciar sua criação de galinhas, Rosilene Melo, produtora rural que também vive na comunidade do Riacho do Gabriel, em Sobral, comemora as alegrias trazidas pelos benefícios do projeto: “Antes, eu não tinha em meu quintal a criação das galinhas, e nem a tecnologia de reúso de água. Recebi ração, pó da madeira e todo suporte para a criação dos pintos. As hortaliças que cultivo no canteiro do Projeto Paulo Freire, eu consigo vender muito bem nas feiras”.
Números do Projeto Paulo Freire
1. 17.700 famílias cearenses foram beneficiadas diretamente
600 comunidades / 23.646 famílias receberam assessoria técnica
144 mulheres beneficiadas com a implementação da Caderneta Agroecológica
4.047 cisternas de primeira água implantadas
23 cisternas escolares implantadas
6.496 aviários concluídos
1.953 quintais produtivos concluídos
375 sistemas de reúso instalados
4.790 apriscos concluídos
1.779 pocilgas concluídas
349 biodigestores instalados
6.796 colmeias adquiridas
252 máquinas de costura adquiridas
179 canoas adquiridas
30 freezers adquiridos
101.528 pintos adquiridos
4.692 ovinos / caprinos adquiridos
104 suínos adquiridos
Fonte: SDA
Juventude no campo
Letícia Silva é estudante de Agroecologia e conta que, quando fala em Agricultura, lembra de seus pais, que sempre estiveram inseridos neste meio. Entre tantos desafios enfrentados pelos camponeses, ela destaca a falta de água: “A comunidade sempre foi muito dependente das autoridades para as benfeitorias com relação à agua, mas nunca éramos atendidos. Sofremos bastante com este conflito. Minha família mora em vilinhas de casas e tiveram autonomia para se reunir e comprar um motor para o poço e viabilizar água para todas as casas. Todos os custos foram divididos. Agradecemos muito por esta união com o coletivo que tivemos depois que o Projeto Paulo Freire chegou”.
Esposo de Letícia, formado em Agropecuária pela Escola Família Agrícola da Ibiapaba, e atualmente estudante do curso de Tecnologia em Agroecologia no Instituto Federal do Piauí (IFPI), Itanael Rodrigues, também possui formação em Comunicação e Educação Popular. Para ele cultivar e produzir é uma atividade que vem desde o berço, que sempre teve esse vínculo com a terra, com os vegetais, com a agricultura e com os animais.
Foi a partir da assessoria técnica e por meio do Projeto Paulo Freire que se desenvolveu na comunidade do Corredor: “Eu conseguir me reencontrar, redescobrir o campo com um novo olhar. Quando eu cheguei à Escola Família Agrícola Ibiapaba, eu me descobri, me identifiquei muito com o modo de ensino contextualizado dentro dessa perspectiva participativa, estudando as próprias realidades e construindo coletivamente este saber. Esta metodologia que Paulo Freire sempre sempre dialogou, no princípio de Pedagogia da Alternância, a Escola intensificou neste processo de identidade com o campo, com a comunidade, com as relações e com a família”.
Em um quintal produtivo de 50×60 metros quadrados, que integra outras tecnologias, Itanael cultiva milho, feijão, jerimum, gergelim e ração paras aves, cujo projeto inicial foi sistematizado na Escola Família Agrícola como uma ação que desenvolve uma ferramenta utilizada para a inserção dos jovens no meio rural e permanência para promover a sucessão rural que é um dos objetivos principais.
“Costumo considerar três pontos importantes: o econômico; o social que acaba engajando jovens que participam deste projeto produtivo com a perspectiva de inclusão social; e ambiental. O quintal produtivo é uma grande ferramenta para Agroecologia. A agricultura é sustentável e ecologicamente correta porque tem muita característica do Sistema Agroflorestal que estimula a Biodiversidade”.
Itanael, destaca que a Agroecologia mudou a sua vida. “A partir da hora em que gente conhece, mergulha e se identifica, como eu fiz, é como se fossem óculos na nossa vista. A gente conseguisse ver outra dimensão, seja no aspecto produtivo ambiental ou social e muda totalmente o comportamento, seja com as pessoas, seja com o meio ambiente.
Protagonismo da mulher rural
Conviver com as dificuldades do campo é também uma tarefa dividida entre as mulheres. Executando com muita maestria o papel de pai e mãe de seus filhos criados por ela sozinha, Rosilene Melo, relata que se sente uma guerreira. “Sou mãe e pai dos meus quatro filhos, criados com o que a terra dá. Todos estão bem encaminhados. Enfrentei muito preconceito, principalmente por estar à frente de tudo. É mais fácil eu ensinar os homens sobre o meu serviço de agricultora do que eles me ensinarem”, desabafa com bom humor.
Letícia, relembra que sempre teve uma infância muito restrita. Precisava fazer tudo só e teve pouca vivência com a companhia de homens. “Sofri muito preconceito e hoje sinto que tenho mais liberdade. Já participei de cursos de Extensão Rural, cursos de Comunicação por meio do Projeto Paulo Freire. Para mim, isso é um avanço como mulher. Eu, particularmente, me sinto mais inclusa nos projetos. Aqui vemos muito o êxodo rural e, para mim, essa prática não é necessária. Minha mãe sempre foi muito ativa nos trabalhos rurais e foi um espelho para mim.
Orgulhosa por ser exemplo para outras mulheres, esposas, agricultoras e mães, Aristídia, relata que sempre gostou de trabalhar neste meio. “Capino, planto e nada me impede de fazer. Minhas filhas também me ajudam”.
Segundo Fabiana Dumont, coordenadora do Programa Semear Internacional, a questão de gênero é um ponto forte, buscando a valorização da mulher no campo. “Nós podemos dar visibilidade à importância e papel da mulher rural que nem sempre é reconhecido. Mulheres que produzem em seus quintais passaram um ano anotando em suas cadernetas tudo o que foi produzido e consumido. Isso rendeu uma publicação sobre Cadernetas Agroecológicas e ressalta a importância da figura feminina no campo. Avaliamos o quanto isso impactou em termos de renda dessas mulheres e de alimentação, principalmente dos seus filhos”, relata.
Saberes, inovações e boas práticas
O Semear Internacional é um programa de gestão do conhecimento em zonas semiáridas do Nordeste do Brasil que visa facilitar o acesso a saberes, inovações e boas práticas que possam ser adotados e replicados pela população rural para melhorar suas condições de vida e promover o desenvolvimento sustentável e equitativo da região. Um dos projetos é o Paulo Freire, que busca identificar ações para que o projeto alcance seus resultados. Neste Projeto, é essencial o papel da Comunicação para fazer com que as informações cheguem até o público-alvo, além de identificar as necessidades de cada comunidade e difundir tecnologias.
Para a identificação de famílias que necessitavam do apoio do Projeto Paulo Freire, foram realizadas reuniões com comitês locais municipais, ação puxada pela SDA. O critério era que fossem comunidades e famílias com baixo IDH. O Cetra entrou com a assessoria técnica e cadastro dessas famílias nas comunidades. Há uma média de 40 famílias por comunidade diretamente beneficiadas.
Essas famílias cadastradas passaram a participar de reuniões para elaboração dos planos de investimento de acordo com a aptidão produtiva da região. Além disso, foram realizadas outras ações que contribuem para o desenvolvimento social dessas comunidades, como rodas de conversas com juventudes e mulheres e gestão da associação.
“Todo recurso para a implementação dos Planos de Investimento Produtivo (PIP) é repassado via associação. A família a receber precisa estar associada. Para isso, o Cetra contribuiu com a criação e regularização de diversas associações”, ressalta Cássia Pascoal, coordenadora de projetos do Cetra.
Segundo ela, a implantação dos Planos de Investimento é desafiadora, pois, desde a escrita até a aquisição dos materiais e construções, enfrentaram dificuldades. “Implantar projetos produtivos com o viés Agroecológico e Sustentável para o meio ambiente e as famílias é desafiador, porém gratificante”.
A coordenadora de projetos aponta as mudanças que o projeto possibilita para as famílias: “Melhoria no quintal, na alimentação das famílias, na renda. Muitas delas passaram a comercializar os produtos dos quintais na comunidade e nas feiras agroecológicas. Melhoria também no debate sobre a Agroecologia. Possibilitou o protagonismo das mulheres. A Caderneta Agroecológica é um exemplo disso”.
Feiras Agroecológicas
Os excedentes da produção dos quintais das famílias são limpos e organizados para que sejam vendidos em feiras agroecológicas da região. Com a pandemia da Covid-19 e as medidas de isolamento social, as feiras passaram a acontecer virtualmente, uma vez ao mês, tendo os produtos organizados e distribuídos pelo Cetra.
“Consigo vender em média 300 reais ao mês, quando as vendas são boas. Durante a pandemia, as vendas estão sendo maravilhosas. Não precisei sair para vender, apenas para fazer as entregas. Foi ruim por ver todos adoecendo com a Covid-19, mas consegui vender muito bem”, comemora Rosilene Melo.
Mais de duas décadas de articulação
Neste 2020, no mês de novembro, a ASA comemorou 21 anos de atuação no Semiárido brasileiro. Em uma trajetória de esforços em prol das comunidades rurais, as mais de duas décadas da instituição vêm sendo celebradas com grandes conquistas, mas há um olhar atento para a possibilidade de retirada de direitos conquistados ao longo desse tempo.
De acordo com Marcos Jacinto, coordenador executivo da ASA pelo Estado do Ceará, “as Tecnologias Sociais cumprem um papel muito significativo no fortalecimento das experiências de produção agroecológica, uma vez que elas ampliam a oferta de água às famílias e em seu processo de implantação privilegia a capacitação em Agroecologia e a troca de experiências entre as famílias agricultoras. Além disso, as feiras agroecológicas e a comercialização comunitária, incentivadas e apoiadas pelas organizações que compõem a ASA, favorecem a comercialização dos produtos agroecológicos e a geração de renda das famílias”.
Convivência com o Semiárido
A ASA Brasil destaca que a convivência com o Semiárido pressupõe a adoção da cultura do estoque para diversos usos: água para consumo humano, produção de alimentos e para servir aos animais; alimento para família e para a criação animal; sementes para os próximos plantios.
A ASA desenvolveu, no início dos anos 2000, o Programa Um Milhão de Cisternas (P1MC), que visa atender a uma necessidade básica da população que vive no campo: água de beber. Cada cisterna tem capacidade para armazenar 16 mil litros, volume suficiente para abastecer uma família de até seis pessoas, no período de estiagem que pode chegar a oito meses. O seu funcionamento prevê a captação de água da chuva que cai no telhado da casa e escoa para a cisterna por meio das calhas.
O acesso à água de beber, ou primeira água, como ficou conhecida popularmente, no Semiárido tornou-se política pública e passou a ter recursos previstos no Orçamento Geral da União.
Os princípios metodológicos que orientam a ação do P1MC garantem a mobilização e a formação das famílias e comunidades rurais como eixo fundamental da ação do programa. A participação social e comunitária está prevista em todas as etapas de execução do Programa.
Para ampliar o estoque de água das famílias, comunidades rurais e populações tradicionais para dar conta das necessidades dos plantios e das criações animais, a ASA criou, em 2007, o Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2). O nome do programa faz jus à estrutura mínima que as famílias precisam para produzirem – o espaço para plantio e criação animal, a terra, e a água para cultivar e manter a vida das plantas e dos animais.
Os objetivos do P1+2, com a cisterna de segunda água, são promover a soberania e a segurança alimentar e nutricional e fomentar a geração de emprego e renda das famílias agricultoras.
Neste 2020, não houve construção de tecnologias. O foco da ação do Programa foi fortalecer o acesso ao mercado para as famílias atendidas com o acesso à tecnologia de Segunda Água e que receberam o fomento produtivo.