Iniciativas inovadoras priorizam desenvolvimento verde do Nordeste

Imagem de grande espelho d'água azul escuro com cânions e vegetação rala ao redor

Plano Nordeste Potência aponta a necessidade de sanar o passivo ambiental das hidrelétricas do Rio São Francisco com o reflorestamento das suas margens | Foto: Haroldo Oséias de Almeida

Por Verônica Falcão
Colaboradora

Duas iniciativas lançadas recentemente no Nordeste têm como foco o desenvolvimento da região com base na conservação ambiental. Uma, o Plano Nordeste Potência, estima que a expansão de empreendimentos na área de energias renováveis gerará 2 milhões de empregos, devendo os governos locais investir na qualificação de mão-de-obra para ocupar essas vagas de trabalho. A outra, voltada para a proteção da caatinga, é a criação de cooperativa de produtores rurais para comercialização de créditos de carbono.

O Plano Nordeste Potência – Mais emprego, Mais água, Mais energia para o Brasil foi apresentado, na última semana de julho, ao governador de Pernambuco, Paulo Câmara, na condição de presidente do Consórcio Nordeste, que reúne os líderes do poder executivo dos nove estados da região.

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O documento, de 24 páginas, também aponta a necessidade de sanar o passivo ambiental das hidrelétricas do Rio São Francisco com o reflorestamento das suas margens. Há cerca de 3,3 milhões de hectares que precisam ser recuperados em reservas legais e áreas de preservação permanente. Tanto a produção de mudas quanto o plantio são vistos como oportunidades de trabalho para os nordestinos.

Nos próximos meses, será apresentado a candidatos do Nordeste, que podem aproveitar as ideias para debater os caminhos de recuperação econômica da região pós-pandemia. O plano resulta de uma coalizão de quatro organizações civis brasileiras: Centro Brasil no Clima, Fundo Casa Socioambiental, Grupo Ambientalista da Bahia e Instituto ClimaInfo, com apoio do Instituto Clima e Sociedade.

O presidente do Consórcio Nordeste considerou importantes as recomendações e ofereceu apoio na execução do plano. Paulo Câmara destacou a necessidade da presença de mão de obra local em todas as etapas do crescente desenvolvimento das energias renováveis no Nordeste. “A natureza precisa de um olhar diferenciado. Estamos vendo muitos desastres ocorrendo com cada vez mais frequência no nosso país e em outras regiões do mundo. Isso é uma reação a anos de destruição. Temos que intensificar a proteção e as boas práticas”, ressaltou Paulo Câmara.

O engenheiro Aurélio Souza, do Instituto ClimaInfo, lembrou que o Nordeste está passando por grandes mudanças. “Ao mesmo tempo em que as energias renováveis crescem, é preciso garantir que essa expansão seja feita de maneira ordenada, com menos impacto e com bases sólidas para que um mercado de trabalho com empregos bons e qualificados se forme”, justificou.

A diretora executiva do Fundo Casa Socioambiental, Cristina Orfeu, ressaltou ainda que é preciso dar protagonismo às comunidades nos processos que envolvem as tomadas de decisão sobre território. “Nesse sentido, qualquer projeto que envolva as comunidades precisa reconhecer os direitos delas. É preciso que a transição energética seja justa, popular e inclusiva e que leve ganhos para o clima e para o Planeta. No entanto, defendemos que todos os direitos das comunidades locais sejam preservados”, afirmou.

Acesse o Plano Nordeste Potência

Crédito de Carbono no Bioma Caatinga

Foto de pôr do sol e silhueta de vegetação arbustiva com uma árvore à esquerda

A caatinga não costuma ter relevância em relação à capacidade de absorção de carbono, mas a inclusão da componente socioambiental e a valorização da floresta em pé melhoram esse cenário | Foto: Haroldo Oséias de Almeida

A Associação de Produtores de Crédito de Carbono Social do Bioma Caatinga é composta por pessoas que possuem áreas preservadas no bioma Caatinga dos estados de Alagoas, Bahia, Pernambuco e Sergipe, e também técnicos comprometidos com o desenvolvimento de projetos de Crédito de Carbono Social. O conceito abrange mecanismos de redução de desigualdades, economia regenerativa, mercado de carbono, serviços ambientais, recuperação de ecossistemas e proteção da biodiversidade.

O presidente eleito da cooperativa, Haroldo Oséias de Almeida, explica que ainda não está definido como será calculado o crédito de carbono. “Mas já sabemos que não será estimado apenas o carbono retirado da atmosfera em plantas em desenvolvimento. “Os projetos de reflorestamento também vão poder gerar créditos de carbono, claro, mas nossa ideia é incluir propriedades que mantém a caatinga de pé”, adianta Haroldo, ambientalista e proprietário de 1 hectare de floresta nativa do Semiárido brasileiro no município de Delmiro Gouveia, em Alagoas.

Haroldo destaca que a cooperativa permitirá a inclusão de pequenos produtores rurais no mercado de crédito de carbono. O presidente da Associação de Produtores de Crédito de Carbono Social do Bioma Caatinga afirma que a caatinga não costuma ter relevância em relação à capacidade de absorção de carbono, mas considera que a inclusão da componente socioambiental e a valorização da floresta em pé melhoram esse cenário.

O ambientalista considera fundamentais, para a concretização do trabalho da cooperativa, as parcerias entre outras instituições, como o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), o Colegiado Territorial do Alto Sertão de Alagoas, a Universidade Federal de Alagoas (Ufal) e as prefeituras de Inhapi, Olho d’Água do Casado e Delmiro Gouveia.

“A Associação está alinhada com os conceitos mais arrojados de desenvolvimento regenerativo e conseguiu reunir um conjunto impressionante de forças e de conhecimentos, tornando-se uma referência inspiradora para outros biomas do Brasil”, ressalta Sérgio Xavier, articulador do Centro Brasil no Clima, que apoia a iniciativa.

Link do Estatuto da Associação

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