O estudo aponta benefícios socioeconômicos e ambientais do planejamento integrado da paisagem que concilia produção agrícola, conservação e restauração

Por Alice Sales
Colaboradora

Estudo realizado pela Plataforma Brasileira de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (BPBES) e o Instituto Internacional para Sustentabilidade (IIS), afirma que, ao contrário do que muitos acreditam, a restauração e conservação de ecossistemas não competem com as atividades agrícolas. De acordo com o Sumário Para Tomadores de Decisão do relatório temático “Restauração de Paisagens e Ecossistemas”,  lançado no último dia 23, a conservação e a produção agrícola são atividades sinérgicas, que se bem geridas podem funcionar uma em benefício da outra.

Segundo dados levantados durante a elaboração do relatório, a restauração assegura a presença de polinizadores, que aumentam a produtividade das culturas agrícolas brasileiras em até 90%. Além disso, a recuperação da vegetação nativa de forma custo-efetiva no País, maximizando a geração de benefícios socioeconômicos e ambientais e minimizando a competição com áreas agrícolas, permitiria:

  • O aumento da produtividade média da pecuária brasileira de 4,4 para 9 arrobas por hectare ao ano.
  • A recuperação de 12 milhões de hectares de vegetação nativa.
  • O desmatamento ilegal zero.
  • A liberação de 30 milhões de hectares para a agricultura, alcançando as metas nacionais de produção de alimentos.

“O planejamento inteligente e o manejo integrado da paisagem levam a uma situação de ganha-ganha, onde ganha o meio ambiente, ganha a produção agrícola e ganha a sociedade”, explica Renato Crouzeilles, coordenador do relatório, professor do Programa de Pós-Graduação em Ecologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e do Centro de Ciências da Conservação e Sustentabilidade do Rio na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio).

Elaborado por 45 pesquisadores de 25 instituições, a pesquisa expõe o conhecimento científico sobre iniciativas, práticas e políticas públicas que visam o uso mais sustentável do solo no Brasil. A intenção é apontar soluções que contribuam diretamente para a mitigação das Mudanças Climáticas e o alcance de metas globais.

O objetivo da elaboração desse estudo é informar governantes, empresários e demais gestores e lideranças, das esferas pública e privada, sobre as estratégias a serem adotadas. “Queremos que esse material alcance os mais diversos públicos e possa subsidiar a tomada de decisões para a recuperação de paisagens e ecossistemas”, destaca Crouzeilles.

Restauração de Matas Nativas

Contando com dez capítulos que contemplam tópicos relacionados às políticas públicas, soluções para restauração de áreas dos diferentes biomas brasileiros e técnicas de restaurações, o relatório aponta a recuperação de vegetações nativas como um dos principais métodos para reverter a decadência ambiental e socioeconômica dos tempos atuais. De acordo com a pesquisa, se bem planejada e implementada na paisagem, a restauração pode aumentar a conservação da biodiversidade em mais de 200%.

Além disso, esse é um caminho para que o País cumpra as metas de acordos globais para a redução de alterações climáticas, como é o caso da Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC), que prevê a redução de 37% das emissões de gases de efeito estufa (GEE) até 2025, em relação aos níveis emitidos em 2005. O relatório sugere que a recuperação de 12 milhões de hectares de vegetação nativa pode sequestrar 1,39 Mt CO2 da atmosfera e contribuir para minimizar esses efeitos climáticos.

Gestão Integrada da Paisagem

Segundo o relatório, a adequação ambiental das paisagens rurais no Brasil deve ser priorizada por meio de políticas públicas específicas, uma vez que possibilita grandes ganhos ao garantir a conservação e o provimento de serviços ecossistêmicos para os agricultores e a sociedade, fortalecendo a sustentabilidade do setor agrícola.

Nos últimos 30 anos O Brasil perdeu 70 milhões de hectares de vegetação nativa. Em sua maior parte, são terras abandonadas, mal utilizadas, em processo de erosão e que pouco agregam ao País. “Essas áreas não contribuem para a produção de alimentos, para qualquer outra atividade econômica e nem para os serviços ecossistêmicos. Sua restauração deveria ser uma prioridade nacional”, pontua Bráulio Dias, professor da Universidade de Brasília (UnB) e ex-secretário executivo da Convenção sobre Diversidade Biológica da Organização das Nações Unidades (ONU).

Para Crouzeilles, “é preciso avaliar a área como um todo e ocupá-la de forma inteligente e sustentável, delimitando o que pode ser floresta, pasto e área de produção agrícola”.  Como solução, os estudos mostram que é possível conciliar as metas de desmatamento ilegal zero e de recuperação de 12 milhões de hectares de vegetação nativa nas propriedades rurais brasileiras, regularizando essas propriedades na legislação ambiental, e, ainda, expandir a produção agrícola nacional para alimentar o mundo, por meio do planejamento integrado da paisagem e do aumento da produtividade agrícola.

“Projeta-se que entre 112 e 191 mil empregos sejam gerados anualmente até 2030 para o alcance da meta brasileira de recuperação de 12 milhões de hectares de vegetação nativa”, detalha o documento.

Geração de renda e oportunidades

A pesquisa aponta ainda que a recuperação de matas também propicia oportunidades econômicas, de inclusão e redução das desigualdades sociais. “Estima-se a criação de 200 empregos diretos (por meio de coleta de sementes, produção de mudas, plantio e manutenção) a cada 1.000 hectares em restauração com intervenção humana.

Dependendo do balanço entre recuperação com alta intervenção humana e condução da regeneração natural, projeta-se que entre 112 e 191 mil empregos sejam gerados anualmente até 2030 para o alcance da meta brasileira de recuperação de 12 milhões de hectares de vegetação nativa”, detalha o documento.

 

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