O constante trabalho na obtenção da pedra cariri ajuda a encontrar novos fósseis

O projeto Towards an Integrated Analysis of the Early Cretaceous Crato Fossil Lagerstaette – Ceará, Brazil (Rumo a uma Análise Integrada da Lagerstaette Fóssil Crato do Cretáceo Inferior – Ceará, Brasil), coordenado pelo professor Daniel Rodrigues do Nascimento Júnior, do Departamento de Geologia da Universidade Federal do Ceará (UFC), foi aprovado no Programa Probral, que prevê o intercâmbio científico entre grupos de pesquisa brasileiros e alemães.

O estudo, a ser realizado na chamada Crato Fossil Lagerstaette (CFL), da Bacia do Araripe, foi o único aprovado nas regiões Norte e Nordeste do País.

O Programa Probral é uma parceria entre a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e o Serviço de Intercâmbio Acadêmico Alemão (DAAD) para a execução de projetos de pesquisa em conjunto por instituições de pesquisa e pós-graduação brasileiras e alemãs.

O professor Daniel Nascimento explicou que o trabalho terá foco na análise de fósseis já localizados, bem como na compreensão do ambiente em que foram encontrados.

“Achar um fóssil, especialmente um que seja importante, é como uma loteria. No entanto, o constante trabalho dos pedreiros da região na obtenção da pedra cariri (tipo de calcário comercialmente usado como revestimento de pisos e piscinas) ajuda a encontrar novos fósseis. Uma coisa que só pode ser feita em campo é a descrição, organização e interpretação da distribuição espacial das rochas e dos fósseis, o que é fundamental nesse tipo de estudo”, detalha.

A parceria internacional envolve o Instituto Senckenberg, da Alemanha, referência mundial na pesquisa paleontológica, cujo Memorando de Entendimento com a UFC remonta a 2015. Desde então, pesquisadores brasileiros e alemães têm cooperado em pesquisas na região da Bacia do Araripe, mais conhecida pelo famoso relevo da chapada e pelo entorno na região do Vale do Cariri cearense.

A equipe alemã é formada pelos pesquisadores Lutz Kunzmann e Dieter Uhl, estudiosos em Paleoflora. Do lado brasileiro integram a equipe os professores do Departamento de Geologia da UFC Wellington Ferreira, que realiza pesquisas com Estratigrafia (estudo da organização das camadas de rochas), e Márcio Mendes, que trabalha com Paleoentomologia (estudos de insetos fósseis).

Contribui ainda com o projeto Roberto Iannuzzi, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e pesquisador com larga experiência em plantas fósseis e Tafonomia (estudo dos processos que levam à decomposição e fossilização).

Previsto para durar quatro anos (2019-2022), o projeto incluirá, nos dois países, missões de estudo de doutorandos e pós-doutorandos, missões de trabalho de pesquisadores da equipe, workshops, trabalhos de campo e outras atividades.

O professor Daniel Nascimento comenta sobre os impactos positivos para a pesquisa em geologia no Ceará a partir dessa colaboração internacional:

“Esperamos a transferência de conhecimento mútuo não apenas no campo estritamente paleontológico, mas também no estudo de bacias sedimentares. Por exemplo, a Bacia do Araripe possui um intervalo análogo ao das famosas camadas pré-sal das bacias petrolíferas do Brasil; por isso e por ser muito mais fácil de ser acessada, interessa fortemente como modelo de exploração para essas bacias”, explica.

O professor da UFC destaca também o impacto do estudo no campo da Educação Ambiental. “Vale ressaltar o status que dá ao Geopark Araripe como área de interesse na educação e também o estímulo que oferece à conservação desse patrimônio natural de mais de 100 milhões de anos”, enfatiza Daniel Nascimento.

Crato Fossil Lagerstaette

Mundialmente reconhecida por sua rica biota, de uma época conhecida como Cretáceo Inferior (cerca de 110 milhões de anos atrás), a região é classificada como lagerstaette, ou seja, um tipo de jazigo fossilífero de classe mundial, destacado por sua importância em diversidade e número de espécimes fósseis.

Nos jazigos lagerstaette podem ser encontrados peixes, plantas, insetos, crustáceos, aracnídeos, quelônios (répteis como tartarugas, cágados e jabutis), lagartos e pterossauros, além de microfósseis. Essa importância foi reconhecida pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) em 2006 com a criação do Geopark Araripe, o primeiro das Américas.

Fonte: Agência UFC

Sem Comentários ainda

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado.

Pular para o conteúdo