O achado de tartarugas mortas preocupa quem trabalha pela preservação dessas espécies | Foto: Projeto Tamar

 

O acúmulo de lixo na Praia de Almofala, Litoral Oeste do Estado do Ceará, representa uma enorme ameaça para o equilíbrio ambiental e os seres vivos, sobretudo as tartarugas marinhas que têm naquela região um ponto para alimentação

 

Itarema. A Praia de Almofala fica a 190 quilômetros da capital do Ceará, Fortaleza. Trata-se de uma comunidade indígena, considerada como último reduto dos Tremembé no Litoral Oeste do Estado. É uma praia cheia de lendas e Tartarugas-Verdes (Chelonia mydas) – ou Aruanãs, como são chamadas pelos indígenas, que buscam suas águas para alimentação, desenvolvimento e descanso. A maioria desses animais pertence a populações de áreas de desovas distantes, como Suriname, Aves Island, Tortugueiro e Ilha de Ascension, na África. Mas todas as espécies de tartarugas marinhas ocorrem na costa cearense.

Para proteger os animais capturados incidentalmente em currais de pesca, redes de espera para peixes e caçoeira para lagostas, o Tamar instalou sua base em Almofala, a única no Estado. A ação do Projeto envolve a população local, de aproximadamente 36,5 mil habitantes, distribuídos em sete localidades de dois municípios (de leste para oeste): Torrões, Almofala, Porto do Barco, Guajiru e Farol, em Itarema; Volta do Rio e Espraiado, em Acaraú. No total, a base monitora 40 quilômetros de praias, além de locais de desembarque, venda de peixes e mercados públicos.

Essas comunidades vivem tradicionalmente da pesca artesanal, utilizando principalmente os currais de pesca, modalidade tradicional muito comum no Litoral Oeste do Ceará. De janeiro a dezembro, diariamente os pescadores vão em suas canoas até essas armadilhas, instaladas próximas à praia, para dali tirar o seu sustento. Antes do Tamar, todas as tartarugas marinhas aprisionadas acidentalmente eram mortas. Hoje, são devolvidas ao mar pela equipe do Projeto, com a ajuda dos pescadores.

Sem destinação correta

Irades Cordeiro, titular da Secretaria de Turismo, Pesca e Meio Ambiente de Itarema, afirma que não há problema com a coleta dos resíduos sólidos no Município, a não ser na destinação, que ainda é um lixão, localizado na saída da sede para a zona rural. Sobre isso, ele informa que vem sendo estabelecida uma parceria, por meio de consórcio, para realizar a coleta seletiva de seis municípios: Itarema, Acaraú, Cruz, Bela Cruz, Marco, Jijoca de Jericoacoara. O aterro sanitário deve ficar localizado em Acaraú.

Necropsia de tartaruga revela caus da morte | Foto: Projeto Tamar

Para ele, o problema do lixo na praia é cultural, de má educação. “No Rio de Torrões há muito lixo descartado no manguezal.  Quando as marés estão grandes, colhem esses resíduos. A comunidade de Torrões é bem grande, com vários moradores ribeirinhos”, afirma.

O secretário afirma que já foram feitas quatro campanhas nas praias, em parceria com professores e alunos das escolas. “Promovemos trabalho de conscientização e aula prática de limpeza, nas praias de Torrões, Almofala, Ilha do Guajiru e Farol. Nesta semana, estamos retornando à Praia de Torrões e, na próxima, a Almofala. Agora estamos envolvendo os garis das localidades também”, destaca.

Segundo ele, foram colocadas 100 placas educativas, em todas as praias do Município e feita campanha de conscientização na rádio e nas redes sociais para não jogarem lixo no rio e nem nas praias.

Material plástico encontrado no estômago de tartaruga morta | Foto: Projeto Tamar

Proteção em áreas de alimentação

O coordenador regional do Projeto Tamar, Eduardo Moreira Lima, explica que a base  foi criada em 1993, para proteger tartarugas marinhas em áreas de alimentação. “Inicialmente todos os animais capturados nas pescarias locais eram mortos e seus produtos e subprodutos, vendidos no comércio local. O Tamar, então, bateu na porta dos pescadores, a mensagem de conservação foi compreendida e hoje a maioria dos animais capturados é entregue para os pesquisadores do Tamar”, explica.

Segundo suas informações, na região ocorrem as cinco espécies de tartarugas presentes no Brasil, Verde ou Aruanã, Cabeçuda, de Pente, Oliva e de Couro, todas ameaçadas de extinção, o que faz da região uma importante área de alimentação e descanso no Atlântico Sul. “Em média, cerca de 500 tartarugas são soltas e salvas todos os anos das pescarias regionais”, relata.

O Tamar atua nos municípios de Itarema e Acaraú por serem essas áreas as mais importantes e prioritárias para a proteção das tartarugas marinhas no Estado. Desenvolve nesses municípios programas de Educação Ambiental, Envolvimento Comunitário e Geração de Renda para mulheres de pescadores.

Sem Comentários ainda

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado.

Pular para o conteúdo