Nordestino torna-se herói de verdade para crianças africanas

Muzumuia – Moçambique / Juazeiro do Norte – CE. A Agência Eco Nordeste já contou a história do Ciswal Santos, professor do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) de Juazeiro do Norte que precisou catar latinhas para comprar cadernos, canetas e pagar as fotocópias para terminar a primeira graduação, tudo isso inspirado no herói sem superpoderes, mas com perspicácia e tecnologia, o Batman.

Tecnologia usada de forma heroica no Cariri cearense

Ele ganhou notoriedade por ter passado para o curso de extensão em Ciências da Computação na renomada Harvard University, depois por ter desenvolvido um sistema para garantir energia e acesso à internet para comunidades isoladas do sertão. Mas esse sonho precisou cruzar o oceano para começar a se concretizar. “Faltou apoio. Ninguém quis me ouvir. Por isso decidi ir para uma região em que as pessoas precisem de mim”, resumiu em entrevista exclusiva.

Embaixador da Organizações das Nações Unidas (ONU), desde novembro 2018, ele fez um empréstimo de R$ 40 mil para implantar seu sistema em Moçambique, no continente africano. E há poucos dias desembarcou de uma aventura de 12 dias na África, uma experiência sensacional segundo ele.

Preso no aeroporto

Ele conta que só teve problema na entrada no País. Acabou preso no Aeroporto de Maputo quando o inversor que trazia na mala foi confundido com uma bomba. “Levei um bom tempo pra explicar para que o equipamento servia e como funcionava”. Mas Ciswal conseguiu explicar tudo com auxílio de suas postagens nas redes sociais, houve um entendimento de que ele estava lá para ajudar e o libertaram.

A Aldeia Muzumuia fica a 5 horas de Maputo, no interior de Moçambique. Ciswal ficou hospedado numa estrutura da Organização Não Governamental (ONG) brasileira Fraternidade Sem Fronteiras, que dá apoio e alimentos às crianças.

Mágico para a criançada

“Uma coisa bem legal foi a recepção das crianças. Quando eu botei o equipamento pra funcionar que as luzes acenderam, elas começaram a me chamar de zambuja, que quer dizer mágico em Xangana. Eles diziam que eu era mágico porque tirava a luz do sol de dentro de uma caixinha e iluminava a noite”, conta.

E segue: “Eu vi fome, miséria, pobreza, mas vi um povo feliz, que busca a felicidade, que é feliz pelo dia de hoje. Eles não pensam no amanhã, não pensam no futuro. Eles vivem aquele dia. Se uma folha cai é motivo de festa. Se a folha não cai também é motivo de festa. Se chove é motivo de festa, se faz sol é motivo de festa, um povo que mesmo com sede continua dançando e festejando e vivendo com alegria”.

Ciswal relata que voltou para Juazeiro do Norte, mas deixou lá uma escola toda iluminada e com água, um sinal de internet bem legal e três famílias com iluminação. Ele treinou uma pessoa, durante uma semana, o Arilio, que vai montar os equipamentos de agora em diante. “Eu mando e ele vai ficar instalando, daí eu não vou precisar ir tanto lá. Eu preciso de ajuda. Aquele País é muito grande e eu sozinho não consigo fazer nada. Vou começar a produzir os equipamentos com a ajuda da população, por meio de vaquinhas”.

Ele revela que a próxima viagem será para o Quênia, onde o trabalho será desenvolvido juntamente com Angola e Senegal. “Lá vai ser mais difícil, mas tenho fé em Deus que vai dar tudo certo”.

Ciswal, que realmente virou um herói para os meninos de Muzumuia, lembra que ficou triste porque sua ideia era implantar no Brasil. “O meu trabalho, por não gerar renda, impostos, só gerar oportunidade de dias melhores, foi barrado no Brasil, infelizmente, onde o poder público preza pelo poder privado. Mas estamos aí para fazer diferença. E, se o Brasil não aceita, vou fazer onde aceita, que é a África”, declara.

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