Legado do idealizador das Farmácias Vivas é destaque de Simpósio Nacional

Por Alice Sales
Colaboradora

Alfavaca, também conhecida como manjericão-de-folha-larga | Foto: Alice Sales

Fortaleza – CE. Terá destaque no I Simpósio de Farmácias Vivas do Brasil o legado deixado pelo professor e cientista Francisco José de Abreu Matos, farmacologista cearense falecido em 2008, idealizador do Projeto Farmácias Vivas, programa pioneiro de assistência social farmacêutica para o uso científico e racional de plantas medicinais. Criado em 1983, o projeto deu origem à política de plantas medicinais do Sistema Único de Saúde (SUS), vigente nos dias atuais.

Denominado como “Semana das Plantas Medicinais Prof. Francisco José de Abreu Matos”, o evento reunirá profissionais e cientistas de todo o País para diálogos sobre a temática. O simpósio será gratuito e virtual, entre os dias 19 e 21 de maio. As informações sobre inscrições, canal de transmissão e programação podem ser conferidas no site do evento.

Além da exposição de diversas experiências com farmácias vivas em todo o Brasil, o simpósio objetiva enfatizar o Dia da Planta Medicinal, celebrado em 21 de maio, como forma de homenagear o professor Francisco José de Abreu Matos, nascido nessa data. O evento também tem como intuito comemorar os 15 anos da implementação da Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) e da Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos do Brasil (PNPMF).

Mastruz, também conhecido como erva-de-santa-maria | Foto: Alice Sales

Na ocasião, serão homenageados três profissionais que deram suas contribuições em pesquisas sobre plantas medicinais e a projetos de farmácias vivas. Receberão a Comenda Professor Doutor Francisco José de Abreu Matos a médica Henrieta Tereza do Sacramento, do Espírito Santo; a professora da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Rinalda Araújo Guerra de Oliveira; e a química Amélia Maria Ramos Freire,  atuante no Programa de Farmácias Vivas da UFC.

O I Simpósio de Farmácias Vivas do Brasil é uma realização da UFC, do Centro Universitário Católica de Quixadá (Unicatólica de Quixadá), do Conselho Regional de Farmácia do Ceará (CRF) e conta com a parceria da Universidade de Fortaleza (Unifor), do Centro Universitário Fametro (Unifametro), do Setor de Fitoterapia da Coordenadoria de Políticas de Assistência Farmacêutica (Copaf) da Secretaria da Saúde do Estado do Ceará (Sesa)  e da Coordenadoria de Assistência Farmacêutica (Coaf) da Secretaria Municipal da Saúde de Fortaleza (SMS).

Legado do professor Matos

Professor Francisco José de Abreu Matos

Bisneto do criador das “Pílulas de Mattos”, remédio popular que ficou famoso em todo o Nordeste e Norte do País, Francisco José Abreu de Matos, assim como seu bisavô, deixou um legado que transcende a sua existência. Doutor em Farmácia, dedicou sua trajetória à docência na Universidade Federal do Ceará (UFC), onde desenvolveu grandes contribuições científicas, tornando-se uma das maiores referências em farmacologia no âmbito das plantas medicinais e fitoterápicos do Brasil.

A criação do Projeto Farmácias Vivas foi uma das principais heranças deixadas pelo professor Matos. O feito, além de criar bases de dados para o desenvolvimento de estudos posteriores no âmbito da Fitoterapia, tornou o Ceará pioneiro em pesquisas sobre o tema e exemplo para as políticas de outros estados, tendo como objetos desses estudos precursores as plantas medicinais encontradas na biodiversidade nordestina.

De acordo com Mary Anne Bandeira, professora universitária, coordenadora do Horto de Plantas Medicinais Francisco José de Abreu Matos e do Programa Farmácias Vivas da UFC, o projeto foi idealizado pelo professor Matos com o intuito de viabilizar uma metodologia que oferecesse à população o conhecimento para a fabricação de fitoterápicos, prescrição e disseminação na rede pública de saúde.

A ideia do pesquisador teve como premissa orientar sobre a utilização adequada de plantas medicinais e de remédios caseiros, com respaldo científico de eficácia e segurança, baseado em hortos constituídos de plantas medicinais com certificação botânica. Após anos desde as primeiras Farmácias Vivas iniciadas sob orientações técnicas e cientificas dele, em 2010 sua metodologia foi instituída pelo Ministério da Saúde no âmbito do SUS como um modelo para a assistência farmacêutica nacional.

Horto Matriz

Malvarisco ou malva-branca | Foto: Alice Sales

O Horto de Plantas Medicinais da UFC, que também carrega o nome do Professor Matos como forma de homenagem, é mais uma contribuição de relevância deixada pelo cientista. Fundado por ele à época em que iniciou o projeto, o espaço compreende atualmente 7 mil metros quadrados de plantas medicinais que servem de matrizes para unidades de farmácias vivas.

Aida Matos, arquiteta e urbanista, filha do professor, relembra que ele “amava aquele Horto de Plantas Medicinais, na UFC, como um filho querido. Sentia-se bem naquele lugar. Levava sua marmita de casa e almoçava ali, junto das plantas e das pessoas com quem trabalhava, seus assessores, seus colegas, seu jardineiro, seu motorista, todos juntos em torno daquela mesa simples, mas repleta de amor e sabedoria”.

O espaço funciona atualmente como um dos únicos bancos de germoplasmas no Brasil. “As plantas encontradas no nosso horto possuem validação científica e certificação botânica e servem ao tripé pesquisa extensão e ensino“, destaca Mary Anne Bandeira.

A professora ressalta que, em um estudo documental realizado com bases em dados da UFC e do Setor de Fitoterapia do Governo do Estado, foram mapeadas 114 unidades de Farmácias Vivas instaladas no território cearense. “Observamos, nesse estudo, o crescente número de implantação dessas unidades em escolas e universidades”. Ela acredita que a aderência dessas instituições ao projeto, seja um fator que ajude a perpetuar o conhecimento sobre o tema.

Corama (Bryophyllum pinnata) | Foto: Alice Salesl

Para a pesquisadora, uma das grandes dificuldades encontradas em projetos de Farmácias Vivas, é que muitas dessas unidades sofrem descontinuidade política com as mudanças de gestão, já que, por não estarem inseridas em um plano de ação do Governo Federal, não há verbas específicas para manter esses projetos, que muitas vezes dependem das prefeituras.

O principal objetivo dessas unidades é servir ao SUS, mas a pesquisadora destaca outras modalidades de projetos, como por exemplo, uma iniciativa no bairro Jangurussu, em Fortaleza, em que uma creche possui uma Farmácia Viva com o objetivo de atender às crianças. “Nesse caso, damos esse suporte com oficinas e elaboração dos fitoterápicos para atender a esse público. É uma inciativa importante para que as mães dessas crianças tenham acesso a essas informações.”

Serviço

O quê: I Simpósio de Farmácias Vivas do Brasil
Quando:
19 e 21 de maio – das 16h às 21h
Onde: UniTV Youtube (youtube.com/catolicaquixada)
Inscrição: site do evento
Público-alvo: acadêmicos, profissionais da área da saúde, professores, pesquisadores e usuários em geral
Certificado digital: 20h – Os participantes inscritos receberão o certificado de participação com frequência mínima de 75% expedido pelo CRF-CE e enviado por e-mail

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