Enormes blocos de granito deslizam sobre a Estrada da Banana, em Itapajé (CE)

Vista aérea frontal de área verde cortada por pista com enormes blocos rochosos deslizados sobre ela. À esquerda há sete pessoas em pé próximas a uma carreta com equipamento sobre ela

O deslizamento ocorreu em um ponto da CE-243, conhecida como Estrada da Banana, em Itapajé, no Norte do Estado do Ceará | Foto: Rubson Maia

Por Maristela Crispim
Editora-chefe

Itapajé – CE. Nesse sábado (23), às 4h da manhã, blocos graníticos de 10 metros de altura com uns 15 metros de circunferência deslizaram em um ponto da CE-243, conhecida como Estrada da Banana, em Itapajé, no Norte do Estado do Ceará. Pelo horário, felizmente ninguém se feriu. Ainda nesse fim de semana (23 e 24), explosões controladas foram realizadas com o objetivo de fragmentar e facilitar a desobstrução da pista. Mas a rodovia segue interditada, com previsão de liberação até terça-feira (26).

O professor do Departamento de Geografia da Universidade Federal do Ceará (UFC), Rubson Maia, foi convidado pela Superintendência de Obras Públicas (SOP) do Estado do Ceará para acompanhar o serviço e avaliar o risco de novos escorregamentos. “Nas vertentes íngremes há solo e rochas. No caso, com a chuva, o solo erodiu e removeu o sustentáculo do bloco rochoso que deslizou e tombou”, explicou.

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Frederico Holanda Bastos, professor do Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Estadual do Ceará (Uece), conhece bem a região e explica que o Maciço de Uruburetama é um maciço granítico que abrange uma área aproximada de 900km2 e ocupa parte dos territórios dos municípios de Uruburetama, Itapajé, Itapipoca e Irauçuba. “As características ambientais desse maciço são muito influenciadas pelos granitos que o compõe, associados às condições climáticas que variam de semiárido (no setor oeste/sotavento) a subúmido (setor leste/barlavento)”, detalha.

“Os granitos desse maciço se apresentam fortemente fraturados, condicionando paisagens marcadas pela presença de blocos rochosos que aparecem dispersos pelas encostas, por vezes recobertos parcialmente por solos e, em muitos casos, completamente expostos. Essa característica, associada à topografia acidentada do relevo configura um ambiente vulnerável à ocorrência de movimentos de massa como quedas de blocos e deslizamentos. Dessa forma, são identificadas diversas áreas de risco que podem gerar danos socioeconômicos importantes, que vão desde a interrupção de estradas, até a possíveis danos graves em residências”, informa o professor Frederico.

Segundo ele, a ação antrópica (humana), por meio das alterações geométricas das encostas (corte e aterro), como no caso da construção de estradas, ou pelo desmatamento, seja pela agricultura de sequeiro ou pela bananicultura, pode contribuir para aumentar a instabilidade morfodinâmica (geológica) das encostas.

“Nesses casos, o principal agente desencadeador de movimentos gravitacionais de massa são as chuvas, que são responsáveis pelo transporte de material fino (solos) e que podem comprometer a estabilidade de grandes blocos, como no caso que ocorreu à margem da rodovia nesse fim de semana”, especifica o pesquisador.

Vista aérea lateral de área verde cortada por pista com enormes blocos rochosos deslizados sobre ela. Há um poste de eletricidade do outro lado da pista e, ao fundo pessoas, carreta e outros veículos

Ainda nesse fim de semana (23 e 24), explosões controladas foram para fragmentar os blocos e facilitar a desobstrução da pista | Foto: Rubson Maia

O professor Frederico alerta que, dentre os maciços cristalinos do Ceará, este é um dos que apresentam os ecossistemas mais degradados, em virtude do histórico predatório de ocupação pela bananicultura e agricultura de sequeiro. Nesse contexto, as antigas áreas florestadas encontram-se bastante descaracterizadas.

“Os aspectos morfológicos das paisagens graníticas desse maciço possuem um singular potencial geoturístico, com uma grande diversidade de feições (macro e microformas), algumas delas já bem conhecidas e visitadas como no caso da Pedra do Frade (Itapajé), Pedra da Itacoatiara (Itapipoca) e Serra do Missi (Irauçuba). A geodiversidade e o geoturismo desse maciço têm sido pesquisados em projetos de pesquisa desenvolvidos no âmbito do Programa de Pós-Graduação em Geografia de Uece, tendo em vista a possibilidade de contribuir com estratégias de sustentabilidade regional”, finaliza o pesquisador com uma esperança socioeconômica turística ambiental para a região.

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